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LUÍS NASSIF
A inovação como paradigma
Os anos 90 consolidaram
novos paradigmas na articulação entre universidade, institutos, agências financiadoras e
empresas para a busca de inovação. O conceito de inovação ganha força, como complemento indispensável à pesquisa, e define-se com maior clareza o papel de
cada agente.
À universidade cabe formar
quadros e prospectar as chamadas fronteiras do conhecimento.
Aos institutos, pesquisar. Às empresas, inovar. Às agências de financiamento, ser as indutoras
para o novo modelo.
Constata-se, pela primeira vez,
que a abundante produção de
"papers" por parte de pesquisadores brasileiros acabava apropriada por países de cultura mais
pragmática. O pesquisador passa
a ser valorizado também por sua
capacidade de gerar inovação e
patente.
A partir dos trabalhos pioneiros
da Fapesp (Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo), chega-se ao diagnóstico de
que a melhor maneira de criar e
disseminar a inovação é por meio
da presença dos pesquisadores
nas empresas.
Começa-se a romper o pesado
monopólio das universidades e
instituições de pesquisa sobre os
financiamentos públicos para
pesquisa, e os recursos passam a
ser mais focados no cliente: as
empresas. Criam-se os fundos setoriais e montam-se organizações
incumbidas de promover a difusão do conceito de inovação e o
meio-campo entre pesquisador e
empresa.
Além disso, há o reconhecimento da importância do papel do Estado no financiamento da inovação, com recursos a fundo perdido, com financiamento e com seu
poder de compra.
Está-se falando de sementes
plantadas nos últimos anos, de
diagnósticos duramente maturados, em um longo e penoso debate
nacional. Entre o diagnóstico e o
resultado, há a construção.
O novo modelo de ciência e tecnologia, montado no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, quase foi destruído na gestão Roberto Amaral. Agora, começa a reconstrução. A Lei de
Inovação está no Congresso, depois de uma ampla discussão que
permitiu a inclusão de dois conceitos relevantes: o uso do poder
de compra do Estado e o acesso
de empresas a bolsas de pesquisa,
para a contratação de pesquisadores.
Há uma tecnologia que pode
ser produzida de forma descentralizada, como as ferramentas
de software. Mas há uma tecnologia que demanda investimentos
pesados.
Para ir à frente, existem dois pilares a serem construídos. O primeiro, a mobilização de recursos
públicos para financiamento e
investimento. Essa perna está
completamente paralisada pela
obsessão em manter déficits públicos elevados. Fundos setoriais
estão sendo contingenciados, assim como recursos para infra-estrutura e outras áreas cruciais.
O pensamento cabeça de planilha está tentando dinamitar essas
pontes, acabando com toda a vinculação orçamentária. Não irá
conseguir. Mas vem conseguindo
há anos interromper todo o fluxo
de recursos para áreas fundamentais.
O segundo pilar é a existência
de empresas brasileiras com fôlego para bancar o desenvolvimento. O país consegue inovar, e bem,
em siderurgia, em petroquímica,
em celulose e no agronegócio.
Mas quem vai bancar o desenvolvimento em janelas de oportunidades que se abrem, como os fármacos provenientes da biodiversidade brasileira ou a nanotecnologia?
Sobre isso iremos falar mais à
frente.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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