São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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LUÍS NASSIF

A inovação como paradigma

Os anos 90 consolidaram novos paradigmas na articulação entre universidade, institutos, agências financiadoras e empresas para a busca de inovação. O conceito de inovação ganha força, como complemento indispensável à pesquisa, e define-se com maior clareza o papel de cada agente.
À universidade cabe formar quadros e prospectar as chamadas fronteiras do conhecimento. Aos institutos, pesquisar. Às empresas, inovar. Às agências de financiamento, ser as indutoras para o novo modelo.
Constata-se, pela primeira vez, que a abundante produção de "papers" por parte de pesquisadores brasileiros acabava apropriada por países de cultura mais pragmática. O pesquisador passa a ser valorizado também por sua capacidade de gerar inovação e patente.
A partir dos trabalhos pioneiros da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), chega-se ao diagnóstico de que a melhor maneira de criar e disseminar a inovação é por meio da presença dos pesquisadores nas empresas.
Começa-se a romper o pesado monopólio das universidades e instituições de pesquisa sobre os financiamentos públicos para pesquisa, e os recursos passam a ser mais focados no cliente: as empresas. Criam-se os fundos setoriais e montam-se organizações incumbidas de promover a difusão do conceito de inovação e o meio-campo entre pesquisador e empresa.
Além disso, há o reconhecimento da importância do papel do Estado no financiamento da inovação, com recursos a fundo perdido, com financiamento e com seu poder de compra.
Está-se falando de sementes plantadas nos últimos anos, de diagnósticos duramente maturados, em um longo e penoso debate nacional. Entre o diagnóstico e o resultado, há a construção.
O novo modelo de ciência e tecnologia, montado no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, quase foi destruído na gestão Roberto Amaral. Agora, começa a reconstrução. A Lei de Inovação está no Congresso, depois de uma ampla discussão que permitiu a inclusão de dois conceitos relevantes: o uso do poder de compra do Estado e o acesso de empresas a bolsas de pesquisa, para a contratação de pesquisadores.
Há uma tecnologia que pode ser produzida de forma descentralizada, como as ferramentas de software. Mas há uma tecnologia que demanda investimentos pesados.
Para ir à frente, existem dois pilares a serem construídos. O primeiro, a mobilização de recursos públicos para financiamento e investimento. Essa perna está completamente paralisada pela obsessão em manter déficits públicos elevados. Fundos setoriais estão sendo contingenciados, assim como recursos para infra-estrutura e outras áreas cruciais.
O pensamento cabeça de planilha está tentando dinamitar essas pontes, acabando com toda a vinculação orçamentária. Não irá conseguir. Mas vem conseguindo há anos interromper todo o fluxo de recursos para áreas fundamentais.
O segundo pilar é a existência de empresas brasileiras com fôlego para bancar o desenvolvimento. O país consegue inovar, e bem, em siderurgia, em petroquímica, em celulose e no agronegócio. Mas quem vai bancar o desenvolvimento em janelas de oportunidades que se abrem, como os fármacos provenientes da biodiversidade brasileira ou a nanotecnologia?
Sobre isso iremos falar mais à frente.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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