São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Banco do Brasil empresta R$ 4,3 bi à Oi

Segundo operadora, dinheiro será usado na compra da Brasil Telecom, em negócio que conta com o apoio do governo

Outro banco público, o BNDES, já havia dado crédito de R$ 2,5 bi para viabilizar aquisição de tele, apoiada pelo governo Lula

Marcelo Sayão/Efe
Instalações da Oi no Rio; tele recebe crédito do BB e do BNDES

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

A operadora de telefonia Oi anunciou ontem que obteve empréstimo de R$ 4,3 bilhões do Banco do Brasil para financiar a compra da Brasil Telecom. O negócio, anunciado em abril, ainda depende de mudanças na lei para ser efetivado.
Por meio de um comunicado ao mercado, a Tele Norte Leste Participações, controladora da antiga Telemar (atual Oi), informou que o empréstimo será feito por meio da emissão de cédulas de crédito bancário, com prazo de oito anos e juros pagos semestralmente a partir de maio de 2010.
Os juros serão pagos de acordo com a variação do CDI (certificado de depósito interfinanceiro, hoje em cerca de 12% anuais), mais "spread" de 1,3% ao ano. No fim do mês passado, a Oi já havia anunciado que emitiria R$ 3,6 bilhões em notas promissórias para a compra da BrT. Ao todo, estima-se que o custo da operação ultrapasse R$ 12 bilhões.
Desse total, R$ 5,8 bilhões serão pagos pelo controle da BrT. Outros R$ 3,5 bilhões farão parte da oferta pública obrigatória para aquisição de ações ordinárias dos minoritários -o chamado "tag along". Mais R$ 3 bilhões serão gastos na oferta voluntária para a compra de ações preferenciais da BrT.
Em nota, a Oi afirmou que comprará a BrT com recursos próprios e que o empréstimo do Banco do Brasil "constitui-se no primeiro movimento de captação de recursos" que, em seguida, contará com "emissão de notas promissórias com os bancos Santander, Bradesco e Itaú".
A tele afirmou ainda que, por ser considerada uma empresa com baixo risco de crédito, "contrata operações ao custo de mercado, sempre tendo como respaldo a capacidade financeira de geração de caixa da própria empresa".
É o segundo financiamento de um banco público obtido pela Oi para a operação de compra da BrT, operação apoiada pelo governo federal sob o argumento de que o país precisaria de uma grande empresa no setor para concorrer com gigantes multinacionais como a espanhola Telefónica e a mexicana Claro. O BNDES já havia anunciado crédito de R$ 2,5 bilhões, com o objetivo específico de promover a reestruturação acionária da Oi -condição necessária para a compra da BrT.
O BNDES vai comprar R$ 1,23 bilhão em ações preferenciais resgatáveis emitidas pela Telemar e títulos no valor de R$ 1,33 bilhão emitidos pela AG Telecom (grupo Andrade Gutierrez) e pela LF TEL (do grupo La Fonte, de Carlos Jereissati). Os dois grupos são os controladores da Oi.
Analistas financeiros que acompanham o setor disseram que a Oi obteve condições "razoáveis" com o BB: "Achei que o custo da captação foi um pouco alto para o padrão da empresa, mas sem dúvida o empréstimo faz parte da estratégia", afirmou Beatriz Battelli, do banco Brascan.
Já o engenheiro Juarez Quadros, ex-ministro das Comunicações no governo FHC, diz que o fato de o empréstimo ter sido concedido por um banco público reforça as "inquietações" que cercam a operação:
"O público e o privado não ficam bem definidos. Por que BNDES, primeiro, o Banco do Brasil, agora? O grupo empresarial em questão tem todas as condições de obter financiamento privado", disse ele.
Quadros observa ainda que o anúncio do empréstimo ocorre numa "situação relativamente confusa", já que o banqueiro Daniel Dantas, preso duas vezes na semana passada sob acusação de chefiar uma quadrilha especializada em crimes financeiros, deve receber pelo menos R$ 1 bilhão com o desfecho da operação.
O Opportunity é um dos maiores acionistas da BrT e possui também participação minoritária na Telemar. Com a conclusão do negócio, Dantas deixaria o setor de telefonia, após diversos conflitos com os outros acionistas da BrT.
Para que a Oi compre a BrT, serão necessárias mudanças no Plano Geral de Outorgas, que regulamenta o setor de telefonia no país.


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