São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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IMPOSTOS

Governo tem o melhor julho de todos os tempos; IR sobre aplicação de fundos de previdência privada poderá cair

Arrecadação tributária bate novo recorde

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora ainda negue oficialmente ter promovido aumento da carga tributária no país, o governo anunciou ontem novos recordes na arrecadação federal, novas estimativas para a receita neste ano e novas medidas em estudo destinadas a aliviar a taxação de parte dos contribuintes.
A arrecadação de julho, de R$ 28,154 bilhões, foi a maior da história para o mês -em julho de 2003, em valores já corrigidos pela inflação, foram R$ 24,987 bilhões. Também em valores corrigidos, a arrecadação de janeiro a julho, outro recorde histórico, chegou a R$ 185,448 bilhões, com crescimento de 9,37% sobre o mesmo período do ano passado.
Apenas o aumento real nos primeiros sete meses do ano, cerca de R$ 16 bilhões, seria suficiente para bancar por três anos o Bolsa-Família, principal programa de transferência de renda do governo Lula, que em 2004 prevê gastos de R$ 5,3 bilhões.
Um único tributo responde sozinho por quase metade dessa arrecadação adicional: a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), que teve alíquotas e base de cálculo ampliadas pela reforma tributária do ano passado.
A Cofins deixou de ter cobrança cumulativa, ou seja, incidente sobre todas as etapas do processo produtivo. Em compensação, a alíquota foi elevada de 3% para 7,6%. Na época, a equipe econômica afirmou que a nova alíquota simplesmente manteria a arrecadação anterior, enquanto empresários e especialistas avaliavam que a taxação seria excessiva.
A Cofins passou também a incidir sobre os importados, o que, nos cálculos iniciais do governo, renderia mais R$ 4,4 bilhões neste ano. No entanto só até julho foram R$ 5,553 bilhões a mais -e a Receita elevou para pelo menos R$ 8 bilhões a estimativa anual.

Olimpíada e alívio
"Aproveitando o espírito olímpico, o recorde de hoje vira piso para a disputa de amanhã. É nossa obrigação ganhar, se não o ouro, a medalha de prata neste ano", disse Ricardo Pinheiro, secretário-adjunto da Receita, ao anunciar os resultados e prever novas marcas históricas, mas insistindo que não houve aumento da carga.
A retórica oficial atribui os números ao aumento da eficiência e ao crescimento econômico. O primeiro é quase impossível de comprovar ou contestar; o segundo, de fato, melhora a receita do governo, mas é difícil sustentar que um crescimento de, na melhor das hipóteses, 4,5% explique uma elevação superior a 9% na arrecadação entre janeiro e julho.
Não por acaso, o governo vem anunciando medidas para reduzir a tributação sobre setores da economia: desconto mensal de até R$ 27,50 no IR da pessoa física; redução de 20% para 15% no IR sobre aplicações financeiras de prazo superior a 24 meses e queda do IPI sobre bens de capital.
Ontem, Pinheiro mencionou, sem dar detalhes, outras providências em estudo, destinadas a beneficiar o setor de software e as aplicações dos fundos de previdência complementar -neste caso, como no do IR sobre aplicações financeiras, o objetivo é estimular a formação de poupança de longo prazo. As novas regras, segundo Pinheiro, devem ser divulgadas até a próxima semana.


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