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DASLU NA MIRA
Fisco encontra 2 lojas sem inscrição estadual para vender no maior centro de luxo do país; advogado vê ação de rotina
Fazenda paulista põe 70 fiscais na Daslu
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Daslu, o maior centro comercial de luxo do país, voltou a ser
alvo de fiscalização do fisco. Um
mês após a Receita Federal realizar megaoperação na loja e deter
Eliana Tranchesi, dona do estabelecimento, e seu irmão, Antonio
Carlos Piva Albuquerque, sob a
acusação de sonegação, 70 agentes da Fazenda paulista passaram
a última sexta-feira no local a fim
de fiscalizar as mais de 80 lojas
que funcionam no prédio da Vila
Nova Conceição.
Durante oito horas, 20 mulheres
e 50 homens da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo vistoriaram as lojas que operam pelo
sistema de venda integrado da
Daslu -comercializam por meio
de um caixa único- e as que funcionam de forma independente,
como as dos shoppings.
O fisco constatou que dois estabelecimentos, um do setor de alimentação e outro de decoração,
estavam irregulares -não possuíam inscrição estadual para comercializar produtos. Seus nomes
não foram divulgados pela Fazenda devido ao sigilo fiscal.
Fiscais fizeram plantão no último sábado para impedir o funcionamentos desses dois pontos-de-venda. Na segunda-feira, os dois
regularizaram a documentação
para voltar a funcionar.
"Os autos de infração serão finalizados até amanhã [hoje]. As
multas serão calculadas com base
nos ativos e na movimentação das
lojas no tempo em que operaram
sem inscrição estadual", afirma o
delegado Maurício Dias, da Delegacia Regional Tributária da zona
sul. "Eles se regularizaram, já estão com o ECF [Emissor de Cupom Fiscal], mas serão autuados
de qualquer forma." Sob seu comando, estão 300 agentes, que fiscalizam 120 mil estabelecimentos
dessa região da cidade.
O advogado da Daslu, Rui Celso
Reali Fragoso, informa que a operação foi de "rotina" e, se for constatada alguma irregularidade, será corrigida (leia à pág. B3).
Caixa único
A fiscalização paulista foi a Daslu com a intenção de verificar se o
regime de caixa único, inédito no
país, estava operando de forma
regular. Nos 14 estabelecimentos
que vendem por esse sistema integrado, a Fazenda constatou algumas irregularidades e suspendeu
por dez dias esse regime. Se forem
constatados problemas de sonegação fiscal entre essas lojas, a
Daslu pode ser responsabilizada
como "parceira solidária".
"Não sabemos ainda se essas lojas sonegam impostos. Mas percebemos que algumas delas não
estavam cumprindo 100% as regras para esse regime único. Demos prazo de dez dias para se regularizarem", diz Antonio Carlos
de Moura Campos, diretor-adjunto da Deat (Diretoria Executiva da Administração Tributária).
Os fiscais verificaram que alguns desses estabelecimentos não
tinham emissor de cupom fiscal
nem imprimiam notas de vendas.
As informações que constam nos
computadores foram copiadas
para uma auditoria da Fazenda,
que deve demorar dois meses.
Como a Receita Federal apreendeu boa parte dos livros-caixas da
Daslu, durante a Operação Narciso, em 14 de julho, a Fazenda está
com dificuldades para comprovar
as operações da loja. O Ministério
Público Federal de São Paulo, que
investiga a loja desde abril de
2003, analisa a documentação
apreendida na Daslu para apresentar denúncia à Justiça.
"Nossa operação é de rotina e
não tem nada a ver com a da Receita Federal, que foi feita a partir
de denúncia de importação subfaturada", afirma Moura Campos. "Pelo que constatamos, a sonegação é mais difícil nesse regime de caixa único", completa.
O fisco notificou 13 estabelecimentos (que estão fora do regime
único) porque suas vendas por
meio de cartão de crédito não estavam integradas com seus emissores de cupom fiscal. Os responsáveis serão multados. Outras 21
lojas visitadas pelos fiscais funcionavam de forma regular.
Para realizar essa operação, um
casal de fiscais visitou o prédio de
17 mil metros quadrados da Daslu
durante dois dias para observar o
dia-a-dia das lojas. O que mais
chamou a atenção do casal é que,
apesar de as contas entre as lojas
que aderem ao regime único e a
Daslu estarem regulares (uma pagou e outra recebeu), não havia
documentação para o fisco.
"Motivação política"
A Secretaria da Fazenda diz que
a operação não teve o objetivo de
abafar as críticas de deputados estaduais segundo as quais o fisco
de São Paulo não fiscalizaria a
Daslu por "motivações políticas"
(a filha do governador Geraldo
Alckmin trabalha na loja). "Faz
parte de um cronograma de fiscalização programado para ocorrer
no varejo", diz Moura Campos.
A fiscalização encerrou ontem
seus trabalhos e deve retornar à
megaloja para verificar se as irregularidades foram resolvidas.
Até o final deste ano, a Secretaria da Fazenda estabeleceu um calendário para realizar novas operações de fiscalização em lojas de
rua e de shoppings centers de São
Paulo. "Temos um calendário
preparado para o varejo paulista",
diz o delegado tributário.
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