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ANÁLISE
Não faltará argumento ao BC
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais do que dos aspectos técnicos, a decisão de manter ou reduzir a taxa de juros depende, hoje,
do maior ou do menor conservadorismo do Banco Central.
Explique-se que, para o mercado financeiro e para os próprios
formuladores da política monetária, classificar o BC como conservador é elogio, já que é exatamente isso que se espera da autoridade
monetária: que seja o mais cautelosa possível quando o assunto é
combate à inflação.
Do ponto de vista estritamente
técnico, há vários bons argumentos em favor da redução da taxa
de juros. Mas há também alguns
argumentos para mantê-la.
Em favor da queda da taxa, ainda que apenas em 0,25 ponto percentual, pesam as boas perspectivas para a inflação e o relativo desaquecimento dos indicadores de
atividade, que, se não mostram
retração, indicam uma clara acomodação em velocidade benigna
para o quadro inflacionário.
O IPCA, índice-base para o sistema de metas de inflação, ficou
em 0,25% em julho, depois de registrar pequena deflação no mês
anterior. Mais importante, os preços livres, nos dois meses, ficaram
estáveis. O aumento de julho foi
todo explicado pelos preços administrados, sob os quais o aperto
monetário não tem influência.
Dada a redução nos dois meses
passados, analistas de bancos e
consultorias passaram a rever
suas projeções. Hoje, espera-se
que a inflação medida pelo IPCA
fique em 5,4% no final do ano, algo muito próximo dos 5,1% definidos como meta pelo governo.
Ou seja, algo tido como muito improvável a menos de dois meses
hoje já é considerado factível: o
governo cumprir a meta de inflação, sem sequer usar a margem de
erro com a qual ele pode contar.
Os indicadores de atividade foram bons nos últimos dois meses.
A economia, no segundo trimestre, provavelmente registrou taxa
de crescimento bem superior ao
minguado 0,3% estimado para os
primeiros três meses do ano. Por
enquanto, no entanto, ninguém
espera que a atividade se acelere,
no segundo semestre, a ponto de
causar um aquecimento perigoso
no nível de preços, ou, como chamam os economistas, uma "inflação de demanda".
Contra o início da queda dos juros pesam a alta do preço do petróleo e a instabilidade causada
pela crise política.
Na última reunião do Copom, o
preço do barril de petróleo, medido pela cesta da Opep (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo) era de cerca de US$ 52.
Hoje está em US$ 59. Alta que cedo ou tarde terá impactos nos
preços internos, impactos tão
mais graves quanto mais persistente e acentuada for a tendência
de alta.
O risco Brasil e o câmbio continuam em níveis positivos para o
cenário inflacionário. O câmbio,
apesar das oscilações das últimas
semanas, continua em níveis bem
inferiores, por exemplo, aos de junho, só para citar um mês recente.
O risco-país continua oscilando
ao redor dos 400 pontos.
A crise política entra na equação
do BC quando a turbulência afetar de forma mais forte os dois indicadores. Ou seja, se o câmbio se
desvalorizar muito ou se o risco
começar a disparar, algo que ainda não ocorreu.
De qualquer maneira, apenas a
possibilidade de uma crise mais
acentuada tanto no setor externo
como no interno pode levar os
membros do Copom a decidirem
em favor do conservadorismo, ou
seja, optar por manter a taxa de
juros e esperar até setembro para
ver se as nuvens se dissipam.
Os aspectos técnicos, a análise
de indicadores e do modelo de
previsão de inflação do BC são
importantes para a decisão. Hoje
eles provavelmente pendem mais
em favor da redução dos juros.
Mas "rodar" o modelo exige assumir uma série de hipóteses que
dependem do julgamento de
quem o usa. O julgamento é o dos
membros do Copom, que podem,
a despeito do cenário positivo, decidir manter os juros, dando a um
ou dois aspectos negativos peso
maior do que o atribuído à avalanche de indicadores que justificariam a redução dos juros.
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