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Empresas questionam mudança para regime de partilha da produção
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Defendido pelo governo como novo modelo para o pré-sal
e compatível com a proposta de
criação de uma estatal 100% da
União, o regime de partilha de
produção é utilizado especialmente em países com menor
nível de desenvolvimento e, diferentemente do que apregoam
seus defensores do governo,
não predomina em áreas de
baixo risco exploratório.
A conclusão é do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo),
que levantou os sistemas utilizados nos diferentes países. A
partilha prevalece em nações
da África e da Ásia -Argélia,
Angola, Nigéria, China, Índia,
entre outros. Já o regime de
concessão, que vigora no Brasil,
é usado na Europa, nos EUA, no
Canadá e em outros países.
O IBP é formado por empresas do setor de petróleo, gás e
petroquímica, inclusive fornecedores dessas indústrias. A
maior parte dos associados são
empresas privadas.
Tanto o ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, quanto
o presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, já defenderam
publicamente a mudança do
modelo de concessão para partilha. Argumentam que é mais
compatível com o menor risco
do pré-sal -onde até agora foi
achado petróleo em todas as
perfurações.
Pelo regime de partilha de
produção, as empresas privadas operam os campos e dividem o óleo extraído com uma
empresa 100% estatal, dona
das reservas. As companhias
são ressarcidas dos custos antes do cálculo que determina a
divisão do petróleo.
Já na concessão, as empresas
são escolhidas por leilão para
explorar as áreas por um determinado período. Têm a propriedade do óleo produzido e
arcam com todos os custos. Em
vez de o Estado ser remunerado com parte do petróleo como
no sistema de partilha, a concessionária paga royalties pela
exploração dos campos.
O IBP é contrário à mudança
do regime de concessões, mas
admite a possibilidade de as
empresas do setor explorarem
o pré-sal no regime de partilha
de produção.
Soberania
"O governo e o Congresso
têm soberania para resolver o
que devem fazer. Achamos que
o modelo de concessão tem todos os mecanismos para atender ao pré-sal, mas, se mudar
para partilha, não significa que
as empresas vão sair do país.
Vai depender da viabilidade
econômica. Em muitos lugares,
a partilha permite a rentabilidade necessária", afirma Álvaro
Teixeira, secretário-geral do
instituto.
Segundo Ivan Simões, do comitê de Exploração e Produção
do IBP, o nível de risco nada
tem a ver com o sistema adotado, que varia principalmente de
acordo com o grau de desenvolvimento institucional do país.
"Marrocos e Tanzânia têm risco elevados e usam concessão e
partilha, respectivamente."
Do mesmo modo, diz, a Arábia Saudita, com baixíssimo risco, adotou o regime de concessão para a exploração de gás natural -o petróleo ainda é monopólio estatal. "O tipo de contrato não tem relação com o risco", afirma Simões.
O fato de serem ou não grandes produtores, diz, também
não influencia na escolha do regime exploratório. Exportadores relevantes, Canadá e Nigéria utilizam sistemas diferentes: concessão e partilha, respectivamente.
Em geral, porém, o regime
fiscal tem relação com o modelo: países que taxam mais a produção de petróleo tendem a
adotar o regime de partilha, enquanto nações com menor carga de tributos costumam utilizar o modelo de concessão.
Segundo Simões, há uma tendência nos últimos anos de aumento da participação governamental incidente sobre a
produção graças à forte alta do
petróleo, o que levou "países de
todas as matizes ideológicas e
graus de desenvolvimento" a
elevarem seus tributos.
"É justo que, num momento
de alta dos preços, os governos
queiram se apropriar mais da
renda petrolífera."
Nos Estados Unidos, a participação governamental subiu
da faixa de 45% para 50%. Na
Venezuela, passou de 85% para
90%. Na Rússia, avançou de
75% para 85%.
Para Frederico Araújo, da
consultoria Macroplan, é desnecessário criar uma nova estatal e alterar o regime exploratório. "A partilha é usada em países sem uma grande operadora
[como é o caso da Petrobras].
Seria mais burocracia e aumenta o risco de corrupção, como
ocorre na África. Para aumentar a participação do Estado,
basta elevar o royalty."
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