São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Regra do pré-sal vai repetir Bolsa Família, avalia governo

Atacado no primeiro mandato de Lula, programa social superou críticas da oposição

Riqueza da exploração do petróleo em águas profundas é usada pelo Planalto para lastrear "plano estratégico" do país

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Não incomodam o Palácio do Planalto as críticas do mercado, de acionistas minoritários da Petrobras, de empresas multinacionais e de setores da oposição à eventual criação de uma nova estatal petrolífera e à revisão das regras de exploração de setor. Em conversa reservada, o presidente disse que não recuará e que enfrentará o debate político para aprovar o novo modelo de exploração do pré-sal no Congresso.
Na avaliação do Palácio do Planalto, o pior momento de embate político já passou. O governo esperava uma reação dura do mercado e de empresas multinacionais em novembro passado, quando retirou de leilão os lotes do pré-sal.
Lula e seus principais ministros acreditam que a oposição cairá numa armadilha política se ficar contra as novas regras de exploração do petróleo. Um auxiliar presidencial faz uma comparação com o Bolsa Família. A oposição se rendeu politicamente ao principal programa social do governo depois de tê-lo atacado no primeiro mandato do petista.
A Folha apurou que, em novembro passado, partiu diretamente de Lula a ordem para a retirada de 41 blocos da megarreserva da bacia de Santos da 9ª Rodada de Licitações. Na época, a cúpula do governo discutiu se valia a pena o desgaste perante o mercado de uma decisão desse tipo. Havia temor de um tiro pela culatra, mas Lula decidiu e bancou a suspensão do leilão desses lotes.
Hoje, um ministro diz que o governo se surpreendeu com o baixo teor de críticas àquela decisão. Segundo ele, elas duraram poucos dias. Esse ministro contabilizou até apoio de jornais internacionais à decisão. Foi então que Lula decidiu usar a riqueza do pré-sal para o que se chama no Palácio do Planalto de um plano estratégico para o país. O presidente sentiu, diz um auxiliar, que tinha tomado uma decisão acertada.

Prioridade
Hoje, está amadurecido na cúpula do governo que a educação deva receber prioritariamente os futuros recursos que a União abocanhará com a exploração em larga escala do pré-sal. Em segundo lugar, investimentos em ciência e tecnologia. Em terceiro, capitalização do fundo soberano (financiamento de projetos públicos e privados do Brasil em outros países, sobretudo para melhorar a integração da infra-estrutura entre os países da América do Sul). Em quarto, Previdência Social.
Lula vê pouca substância nas críticas ao governo desde a revelação da Folha no domingo passado de que o Palácio do Planalto cogitava criar uma nova estatal e de que tiraria da Petrobrás poder decisório na exploração do pré-sal.
Se for criada, a nova estatal tende a ter uma estrutura enxuta. O governo também avalia que apostará errado quem achar que a Petrobras perderá importância na exploração dos poços de petróleo do pré-sal.
Um ministro disse à Folha considerar que as ações da Petrobras hoje estão baratas e que a tendência será de valorização quando o novo modelo de exploração for definido. Segundo ele, a Petrobras seria uma das poucas empresas do mundo com tecnologia para explorar petróleo em águas tão profundas (na faixa dos 6.000 metros).
Um auxiliar de Lula fez uma brincadeira na sexta-feira. Disse que o repórter da Folha deveria ter prestado atenção à notícia de que o investidor George Soros havia comprado recentemente grande lote de ações da Petrobras. Segundo ele, se Soros está apostando na empresa, é sinal de que ela se dará bem na exploração do pré-sal.


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