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Regra do pré-sal vai repetir Bolsa Família, avalia governo
Atacado no primeiro mandato de Lula, programa social superou críticas da oposição
Riqueza da exploração do petróleo em águas profundas é usada pelo Planalto para lastrear "plano estratégico" do país
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Não incomodam o Palácio do
Planalto as críticas do mercado,
de acionistas minoritários da
Petrobras, de empresas multinacionais e de setores da oposição à eventual criação de uma
nova estatal petrolífera e à revisão das regras de exploração de
setor. Em conversa reservada, o
presidente disse que não recuará e que enfrentará o debate político para aprovar o novo modelo de exploração do pré-sal
no Congresso.
Na avaliação do Palácio do
Planalto, o pior momento de
embate político já passou. O governo esperava uma reação dura do mercado e de empresas
multinacionais em novembro
passado, quando retirou de leilão os lotes do pré-sal.
Lula e seus principais ministros acreditam que a oposição
cairá numa armadilha política
se ficar contra as novas regras
de exploração do petróleo. Um
auxiliar presidencial faz uma
comparação com o Bolsa Família. A oposição se rendeu politicamente ao principal programa
social do governo depois de tê-lo atacado no primeiro mandato do petista.
A Folha apurou que, em novembro passado, partiu diretamente de Lula a ordem para a
retirada de 41 blocos da megarreserva da bacia de Santos da
9ª Rodada de Licitações. Na
época, a cúpula do governo discutiu se valia a pena o desgaste
perante o mercado de uma decisão desse tipo. Havia temor
de um tiro pela culatra, mas
Lula decidiu e bancou a suspensão do leilão desses lotes.
Hoje, um ministro diz que o
governo se surpreendeu com o
baixo teor de críticas àquela
decisão. Segundo ele, elas duraram poucos dias. Esse ministro
contabilizou até apoio de jornais internacionais à decisão.
Foi então que Lula decidiu usar
a riqueza do pré-sal para o que
se chama no Palácio do Planalto de um plano estratégico para
o país. O presidente sentiu, diz
um auxiliar, que tinha tomado
uma decisão acertada.
Prioridade
Hoje, está amadurecido na
cúpula do governo que a educação deva receber prioritariamente os futuros recursos que
a União abocanhará com a exploração em larga escala do
pré-sal. Em segundo lugar, investimentos em ciência e tecnologia. Em terceiro, capitalização do fundo soberano (financiamento de projetos públicos e privados do Brasil em outros países, sobretudo para melhorar a integração da infra-estrutura entre os países da América do Sul). Em quarto, Previdência Social.
Lula vê pouca substância nas
críticas ao governo desde a revelação da Folha no domingo
passado de que o Palácio do
Planalto cogitava criar uma nova estatal e de que tiraria da Petrobrás poder decisório na exploração do pré-sal.
Se for criada, a nova estatal
tende a ter uma estrutura enxuta. O governo também avalia
que apostará errado quem
achar que a Petrobras perderá
importância na exploração dos
poços de petróleo do pré-sal.
Um ministro disse à Folha
considerar que as ações da Petrobras hoje estão baratas e
que a tendência será de valorização quando o novo modelo
de exploração for definido. Segundo ele, a Petrobras seria
uma das poucas empresas do
mundo com tecnologia para
explorar petróleo em águas tão
profundas (na faixa dos 6.000
metros).
Um auxiliar de Lula fez uma
brincadeira na sexta-feira. Disse que o repórter da Folha deveria ter prestado atenção à notícia de que o investidor George
Soros havia comprado recentemente grande lote de ações da
Petrobras. Segundo ele, se Soros está apostando na empresa,
é sinal de que ela se dará bem
na exploração do pré-sal.
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