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Margens de lucro de empresas recuam no primeiro semestre
Aumento da concorrência e repasse menor de custos afetaram ganhos das companhias abertas, mostra estudo de consultoria
Para analistas, maioria dos balanços ainda não reflete
a desaceleração externa; preocupação agora é com resultados deste semestre
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A mais recente safra de resultados financeiros das empresas
com ações em Bolsa ainda não
reflete a desaceleração no ritmo dos lucros gerados, seja por
conta da crise externa, seja pelo
aumento da inflação e dos juros, mas já detectou um cenário
de redução nas margens de ganhos das companhias, revela
estudo da consultoria Economática. Segundo analistas, os
efeitos negativos deverão ser
sentidos neste semestre.
No estudo, um grupo de 209
empresas abertas teve lucro líquido conjunto de R$ 24,896
bilhões no primeiro semestre,
resultado 2,5% inferior ao divulgado no mesmo período de
2007, já corrigido pelo IPCA.
Para não viciar a amostra, a
Economática excluiu os resultados de Petrobras, Vale, bancos e do frigorífico JBS, devido
às recentes aquisições.
Os lucros modestos contrastam com a receita dessas empresas, que cresceu firme e acima do PIB, em ritmo de 8,2%
-passou de R$ 238,655 bilhões
para R$ 258,321 bilhões.
Para Fernando Exel, presidente da Economática, esse
descompasso entre as receitas
-indicador que guarda semelhança com o PIB- e o lucro gerado demonstra queda na margem de ganho das empresas em
seus negócios, que se estreitou
em 5,7% no período -a margem operacional recuou de
19,3% para 18,2%.
Exel tem duas hipóteses que,
associadas, podem explicar essa redução nas margens. "Ou
aumentou a concorrência ou as
empresas tiveram aumento de
custo, que não foi repassado
aos preços. O lucro operacional
não cresceu nada. De fato, já
acendeu um sinal vermelho aí."
Para André Segadilha, gerente de análise da Prosper, não
houve aumento de competição
capaz de estreitar os ganhos
das empresas. Ele acredita que
as hipóteses de aumento de
custos e de dificuldade de repasse sejam mais plausíveis, especialmente no varejo, comércio e produtos alimentícios.
O analista cita os casos da
Perdigão e da Sadia (setor alimentício), que tiveram seus ganhos afetados pelo aumento
nos preços dos grãos e do frete,
que não foram repassados ao
varejo. No levantamento, o setor (incluindo bebidas) aparece
com redução de 53% no lucro.
"Onde pegou mais foi o comércio. Os setores blindados foram
os de energia e concessões."
Já Vladimir Pinto, estrategista do Unibanco, não vê tendência preocupante de queda nas
margens devido a custos não
repassados no varejo. Para ele,
a variação cambial pesou mais
nos resultados das empresas
com receita em dólar, como as
de papel e celulose. O setor teve
recuo de 27,59% nos ganhos.
"O crescimento do resultado
das empresas reflete o ritmo
forte da economia. Não há desaceleração. A preocupação
maior é com este semestre."
O estudo mostra que o retorno do capital investido nas empresas, expresso pelo ROE
(Rentabilidade sobre o Patrimônio), seguiu forte -passou
de 12,5% para 13,1%. O indicador diz respeito à rentabilidade
do investimento produtivo e
costuma ser comparado com a
taxa básica de juros, descontada a inflação e os impostos. No
Brasil, o ROE médio costumava
ser de 5% a 6% há cinco anos.
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