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REMÉDIO AMARGO
Juiz de NY condena o país a pagar US$ 700 milhões para credor que cobra perda gerada por moratória
Justiça manda Argentina indenizar fundo
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Um juiz federal de Nova York
condenou a Argentina a pagar
US$ 700 milhões a um fundo de
investimentos -o EM Limited-
que cobra as perdas acumuladas
após a moratória da dívida com
credores privados, decretada em
dezembro de 2001.
A decisão, da última sexta-feira,
foi anunciada alguns dias após o
país entrar em "default" com o
Fundo Monetário Internacional e
é a primeira de uma série de processos que tramitam na Justiça
dos EUA contra a Argentina.
Após a divulgação da decisão,
os advogados do governo argentino nos EUA conseguiram que o
juiz Thomas Griesa, autor da sentença, suspendesse a execução da
cobrança por 45 dias, até que o
país lance um programa de reestruturação da dívida em moratória, avaliada em US$ 95 bilhões.
A estipulação de prazo maior
para o pagamento deu um alento
ao governo argentino. Se tivesse
sido mantida a decisão de Griesa,
a dívida teria que ser paga imediatamente. Segundo o parecer do
juiz, não cabem mais recursos.
A ação do fundo EM Limited é o
maior entre os nove processos
movidos contra a Argentina alocados na Corte de Nova York.
Caso a Argentina não pague essa dívida, há a possibilidade de
confisco de ativos do governo nos
EUA. Se esses bens não forem suficientes para cobrir o valor total
da dívida, a EM poderá obter uma
autorização para reter ativos argentinos em outros países.
O processo foi aberto em abril
deste ano e pedia o pagamento integral da dívida. À época, os títulos foram emitidos em pesos, mas
a EM demandou que o pagamento fosse baseado na paridade de
um para um (dólar) entre as duas
moedas. O pedido foi contestado
pelos advogados da Argentina,
mas o juiz deu razão à EM.
Para tentar que a sentença fosse
suspensa, os representantes argentinos argumentaram -sem
sucesso- na audiência com o
juiz que o país enfrentou turbulências nos últimos anos. "O país
enfrentou a pior crise econômica
da sua história. O PIB [Produto
Interno Bruto] argentino teve
uma retração crescente desde
1999. A arrecadação de impostos
também declinou", diz trecho de
texto presente na sentença.
Na próxima semana, a Argentina pretende apresentar a sua proposta de renegociação da dívida.
A sentença do juiz nova-iorquino
pode prejudicar as negociações,
dizem os argentinos, já que os credores poderiam não concordar
em reduzir parte do valor de face
dos títulos que têm em mãos se
um outro investidor pode recebê-lo integralmente.
O próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, admitiu na
semana passada -logo após fechar mais um acordo com o
FMI- que a proposta que será
apresentada não irá agradar aos
investidores. O governo argentino quer conseguir um desconto
de até 70% do valor de face dos títulos, além de um período de
"graça" de aproximadamente três
anos. Ou seja, só começaria a pagar juros a partir de 2007.
Colaborou Cíntia Cardoso,
de Nova York
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