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VINICIUS TORRES FREIRE
A corrida dos cavalos sociais
Ritmo Lula de redução da
desigualdade cai abaixo da
média FHC, mas medir renda
em prazo curto idiotiza debate
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QUASE TODO mundo parece
concordar que a política social luliana reduziu as diferenças de renda no Brasil. Mas há
várias ironias esquecidas na história
desse sucesso de marketing conservador. A primeira delas é que o ritmo Lula de redução da desigualdade
caiu em 2005 para um nível abaixo
da média tucana, com Bolsa-Família
e tudo. Considerados só os números
sociais dos anos em que os orçamentos foram feitos pelos seus próprios
governos, Lula e FHC mal se diferenciam no páreo da injustiça social.
Uma segunda ironia é Lula fazer
sucesso pop renegando não só o besteirol econômico que pregava, mas
também um princípio de política social mais sério do antigo petismo.
Era uma política de esquerda a defesa da universalização dos programas
sociais, diretriz esquecida da Carta
de 1988 (e por ora impraticável mesmo). Mas o lulismo, no que pôde interferir no gasto público, adotou a
focalização da despesa social (gasto
centrado nos mais miseráveis),
princípio básico da política do Banco Mundial e do tucanismo.
A terceira ironia, já amarga, é que
o lulismo viu a desigualdade cair
também devido a uma reorganização produtiva detonada pelo tucanato (que levou à interiorização de
parte da produção, que buscava custos salariais menores), às metas de
inflação tucanas e à redistribuição
de uma renda total estagnada.
A melhoria da distribuição parece
associada na última década mais à
queda da renda dos mais ricos do
que ao aumento da renda dos mais
pobres. Sintoma disso vê-se na Pnad
2005: o ritmo luliano de redução da
desigualdade caiu quando houve a
primeira melhoria na renda dos 10%
mais ricos em uma década.
O país está pior, em termos sociais? Não. Mas, além das incertezas
sobre os motivos da queda das diferenças de renda, pouco sabemos sobre outros fatores da desigualdade.
Os pesquisadores do Ipea Jorge de
Castro e José Cardoso Júnior acabam de publicar um texto que relança o seguinte debate: para controlar
o efeito redistributivo da despesa social, é preciso saber também de onde
sai a receita. O grosso vem de impostos sobre bens e serviços. O peso relativo desses impostos é maior na
renda dos mais pobres. Mas a discussão desse balanço quase inexiste.
Embora devagar, na comparação
com países que se civilizaram recentemente, cresce o número de anos
de estudo dos brasileiros. Mas não
se sabe o quanto de tais anos adicionais de educação redundam em
aprendizado socialmente relevante.
As medidas tucanas, ruins, foram
pioradas pelo lulismo.
A receita de impostos é alta demais em relação ao PIB. Mas a formalização do trabalho cresce de modo contínuo (embora exista mesmo
muito tributo idiota sobre o emprego). Apesar da onda crescente de populismo tributário, não se sabe se o
saldo da necessária contenção de
gasto corrente deveria ser concentrado em investimento público ou
capilarizada em descontos de impostos, que podem apenas se tornar
renda adicional para os mais ricos.
Sabe-se pouco sobre os fatores de
criação e redução de desigualdade. A
festa simplória sobre índices de Gini
obscurece o debate das dimensões
da injustiça e o fato de que ela resulta de conflito social, e não só da aritmética de políticas de assistência.
@ - vinit@uol.com.br
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