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União compensa perdas com mais tributo
Com repasse a Estados e municípios ampliado pela Constituição, governo eleva ou cria contribuições, que não são repartidas
Governo federal aumenta PIS/Cofins e cria a CPMF e a
Cide para ter mais receita sem ter de dividi-la, como
acontece com os impostos
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos 20 anos, a União
perdeu participação no bolo
tributário nacional. A parte
perdida pelo governo federal
foi dividida entre Estados e
municípios.
Para reverter essa situação, o
governo federal tomou uma decisão simples: decidiu criar
contribuições e/ou aumentar
as já existentes. A estratégia
surtiu efeito, pois, ao contrário
dos impostos, as contribuições
não são repartidas com os Estados e os municípios.
Ao final de 1986, de cada
R$ 100 (a moeda da época era o
cruzado) arrecadados no país, a
União ficava com R$ 74, os Estados com R$ 23 e os municípios com R$ 3 (os valores estão
arredondados).
Três anos depois, a nova
Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988,
fez com que a União ficasse
com R$ 66, os Estados com R$
31 e os municípios mantiveram
os mesmos R$ 3. A União perdeu, para os Estados, as receitas
dos impostos sobre minerais,
transportes e comunicações
(que passaram a integrar os
"serviços" acrescidos ao antigo
ICM, que passou a ICMS).
O ano de 1990 é atípico em
termos de carga tributária.
Com o bloqueio dos cruzados
novos pelo Plano Collor (moeda que entrou em vigor em 15
de março daquele ano), o governo permitiu que impostos
atrasados fossem quitados com
o dinheiro retido nos bancos.
Para ter uma idéia do efeito
dessa medida, a carga tributária, que havia fechado 1989 em
22,16% do PIB, saltou para
29,91%, avançando 7,75 pontos
percentuais. Nunca, na história
do país, ocorreu salto tão grande em apenas um ano. Em 1991,
a carga voltou ao "normal", ficando em 24,62%.
A partir de então, a carga tributária cresceu em quase todos
os anos -as exceções foram em
1993 (governo Itamar), 1996
(primeiro mandato de FHC) e
em 2003 (governo Lula).
Aumentos
Entre as estratégias usadas
pelo governo federal para recuperar parte da fatia do bolo tributário perdida para os Estados e municípios, estão a troca
do Finsocial pela Cofins, a partir de abril de 1992. O Finsocial
começou, em junho de 1982,
com alíquota de 0,5% sobre a
receita das empresas. Após sucessivos aumentos, estava em
2% em março de 1992, quando
foi substituído pela Cofins.
O novo tributo também começou com 2%, subindo depois
para 3% (regime da cumulatividade). Com o fim desse regime
em fevereiro de 2003, a alíquota subiu para 7,6% (mais 153%)
e passou a ser cobrada também
sobre as importações. As instituições financeiras pagam 4%.
Em 1988, a receita do Finsocial representava 0,64% do
PIB. Em 2005 a Cofins já representava 4,53% do PIB -ou R$
87,85 bilhões. Para este ano a
previsão é de R$ 95,22 bilhões.
PIS
O PIS também foi usado para
engordar as receitas da União.
Criado em 1970, a alíquota de
0,35% sobre a receita das empresas subiu para 0,75%, caiu
para 0,65% e, desde fevereiro
de 2003, é de 1,65%.
Em 1989 o PIS representava
apenas 0,67% do PIB. Em 2005
foi de 1,14%. Para este ano a
previsão é de 1,15%.
CPMF
A CPMF (imposto do cheque) é outro exemplo de contribuição criada -e aumentada-
para engordar os cofres do governo federal. Criada em 1993
(com o nome de IPMF), foi
abortada naquele ano pelo STF
por se tratar de imposto. Em
1994 a alíquota era de 0,25% sobre os saques bancários. Perdeu validade em 1995, mas voltou em 1997 (já como CPMF),
com alíquota de 0,20%. Em
2000, passou a 0,38%, caiu para
0,30% em 2001 e voltou a
0,38% a partir de 2002.
Em 1997, representava
0,79% do PIB, com receita de
R$ 6,9 bilhões. Cinco anos depois, em 2002, dobrou a participação para 1,51%, mas a receita quase triplicou (R$ 20,37 bilhões). No ano passado manteve o mesmo 1,51%, mas arrecadou R$ 29,25 bilhões. Deve render R$ 32,2 bilhões neste ano e
representar 1,53% do PIB.
Cide
A mais recente contribuição
criada pelo governo é a Cide
(Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico). Desde 2002 é cobrada, entre outros, sobre o consumo de combustíveis (petróleo, gás natural
e álcool etílico combustível e
todos os seus derivados) e destina-se a programas de infra-estrutura de transportes (recuperar a malha rodoviária).
A receita da Cide tem se
mantido na casa de R$ 7 bilhões
por ano (foi de R$ 7,69 bilhões
no ano passado, com previsão
de R$ 7,97 bilhões neste ano).
Como a receita quase não
tem aumentado, a participação
no PIB vem declinando (de
0,54% em 2002, deve ficar em
0,38% neste ano). Parte (25%)
da Cide é destinada aos Estados
e ao Distrito Federal. Do valor
recebido, os Estados repassam
25% aos seus municípios.
(MC)
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