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Nacionalização do gás patina na Bolívia
Após mais de 4 meses, YPFB só assumiu distribuição de combustível, que enfrenta problemas de escassez de diesel e gasolina
Depois do anúncio da nacionalização, em maio, Evo Morales teve de trocar o alto escalão do gás e adiou reestruturação de estatal
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Decretada há quatro meses e
duas semanas pelo presidente
boliviano, Evo Morales, a "recuperação da propriedade, da
posse e o controle total e absoluto" do gás e do petróleo pouco
avançou até agora em seus pontos principais, como a refundação da estatal YPFB, a retomada do controle acionário de empresas privatizadas e a assinatura de novos contratos de exploração com as multinacionais atuantes no país.
A única operação assumida
pela YPFB foi a distribuição
atacadista de combustíveis, a
partir de 1º de julho, em substituição a empresas privadas, entre as quais a Petrobras Bolivia
Distribución. Mas, sem estrutura, a empresa estatal teve
problemas de logística, provocando o desabastecimento de
diesel em várias regiões.
Na semana passada, houve
falta de gasolina até em Santa
Cruz, o principal pólo econômico boliviano. A Associação
de Postos de Gasolina acusa a
YPFB de racionar a distribuição do produto em 30%. A empresa nega a prática.
O problema da distribuição
-uma operação simples se
comparada com as outras previstas para a YPFB pelo decreto- mostra que a combalida estatal ainda está longe da "refundação" prometida por Morales.
O decreto de 1º de maio previa
que a empresa seria reestruturada dentro de 60 dias, mas esse prazo foi "temporariamente
suspenso" em 11 de agosto devido à falta de recursos.
A decisão atrasa praticamente todo o processo, já que a nacionalização estabelece que toda a cadeia do gás e do petróleo
seja gerida pela estatal. Dificilmente, por exemplo, será possível assinar os novos contratos
de exploração com as multinacionais -entre as quais a Petrobras- até o dia 1º de novembro,
como estabelece o decreto.
Comando mais moderado
O atraso no ritmo da nacionalização se mistura com a crise de comando no mesmo processo. Nas últimas semanas,
Morales trocou o presidente da
YPFB, após indícios de irregularidades, e o ministro dos Hidrocarbonetos, pivô da recente
crise entre Brasil e Bolívia ao
assinar resolução que reduzia
as refinarias da Petrobras a
prestadoras de serviço.
Em ambas as trocas, o presidente boliviano preferiu opções mais moderadas. Na
YPFB, Jorge Alvarado foi substituído pelo ex-gerente da Petrobras Juan Carlos Ortiz. Na
pasta de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, outro crítico
feroz da estatal brasileira, deu
lugar a Carlos Villegas, até então ministro do Planejamento.
Para o ex-superintendente
de Hidrocarbonetos Carlos Miranda, a nacionalização está
atrasada por uma combinação
de dois grandes motivos: a campanha eleitoral para eleger os
constituintes, em julho, quando Morales obteve a maioria
simples das cadeiras, e a desorientação do governo.
"O governo não tem uma
idéia clara da indústria e do que
está querendo fazer e, por isso,
não consegue arrumar o processo", disse Miranda à Folha.
"Eles não podem controlar o
que foi nacionalizado, não podem domar o cavalo que soltaram", compara.
Sobre a estatal boliviana, Miranda disse que "a YPFB ainda
é uma empresa de papel".
"Por outro lado, houve um
interesse eleitoral em 1º de
maio. Foi um grande show,
com o presidente, os ministros
e o Exército simulando tomar
as petroleiras. Mas não se tomou absolutamente nada. Morales leu o decreto na instalação da Petrobras e foi embora."
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