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Governo americano fica com 80% da AIG
Após fracasso em fechar ajuda para a seguradora junto à banca privada, BC dos EUA dá empréstimo de US$ 85 bilhões
Resgate ocorre dez dias após o socorro do governo Bush de até US$ 200 bilhões
às gigantes do crédito imobiliário americano
DA REDAÇÃO
Com os grandes bancos americanos se recusando a emprestar dinheiro para a AIG, o governo dos EUA, depois de afirmar durante dias que não voltaria a ajudar o setor privado, vai
emprestar até US$ 85 bilhões
para a maior seguradora mundial por meio do Fed (Federal
Reserve, o banco central do
país). Em troca, o governo terá
como garantia 79,9% das ações
da empresa.
Segundo o "Financial Times", o governo quer como garantia a maior parte da empresa para impedir que os atuais
acionistas lucrem com o resgate. A expectativa é que hoje os
papéis -que perderam a maior
parte do valor nos últimos
dias- tenham forte alta. Pelo
acordo, a direção da seguradora
deverá ser demitida.
"O comitê [do Fed] determinou que, nas circunstâncias
atuais, uma falência desordenada da AIG poderia aumentar
os já significativos níveis de fragilidade no mercado financeiro, causar aumentos substanciais nos custos dos empréstimos, reduzir a riqueza das famílias e enfraquecer materialmente o desempenho econômico", diz a nota do BC divulgada na noite de ontem.
O empréstimo será garantido
por todos os ativos da seguradora (US$ 1,05 trilhão no fim de
junho), inclusive as ações das
subsidiárias. O governo americano afirma que espera receber
o dinheiro com a venda dos ativos das empresas e que tem o
direito de vetar o pagamento de
dividendos aos acionistas.
A ajuda do banco central dos
Estados Unidos significa uma
mudança de atitude da entidade, que até anteontem dizia que
não emprestaria dinheiro para
o setor privado e pressionava
para que os grandes bancos financiassem a ajuda para a AIG.
Ela também expõe o temor do
alcance da crise. Pelas suas regras, a entidade só pode emprestar dinheiro para bancos, e
não para empresas como uma
seguradora.
Há dez dias, o governo já tinha resgatado a Fannie Mae e a
Freddie Mac, as duas maiores
financiadoras de hipotecas do
país, em um acordo que poderá
custar até US$ 200 bilhões aos
contribuintes do país, e apontou que aquela deveria ser a última ajuda daquele tipo.
"Nós não consideramos, e eu
não considero, colocar dinheiro dos contribuintes para auxiliar uma instituição. Não interprete isso como um nunca
mais, interprete como que eu
considero que é importante
manter a estabilidade e a ordem no nosso sistema financeiro. "Moral hazard" [risco moral]
é algo que eu não negligencio",
afirmou anteontem o secretário do Tesouro, Henry Paulson.
A declaração de Paulson foi
feita depois que o governo não
colocou dinheiro para impedir
que o banco Lehman Brothers
pedisse concordata. Em março,
o governo americano organizou a venda do Bear Stearns para o JPMorgan, em uma operação em que o Fed teve de empenhar US$ 29 bilhões.
Mas, com a concordata do
Lehman, aumentaram as pressões sobre o AIG, que passou a
ser apontado como a próxima
instituição financeira a cair. A
expectativa era a de que a sua
quebra causaria um prejuízo de
US$ 180 bilhões em vários setores, segundo a RBC Capital
Markets, com um efeito dominó em boa parte do mundo.
"Seria uma reação em cadeia",
disse Uwe Reinhardt, professor
da Universidade Princeton. "Os
efeitos seriam incríveis."
Anteontem, as suas ações foram as que mais caíram na Bolsa de Nova York, com queda de
60,79%. Ontem, os seus papéis
chegaram a cair cerca de 70%,
mas, com a expectativa da ajuda do governo norte-americano, eles se recuperaram parcialmente e terminaram o dia
com desvalorização de 21,22%.
As ações da seguradora, que
valiam US$ 58,30 no final do
ano passado, ontem terminaram negociadas a US$ 3,75,
queda de 93,57%. Nos últimos
nove meses até o fim de junho,
ela perdeu US$ 18 bilhões.
A AIG buscava nos últimos
dias levantar dinheiro para diminuir os temores de que não
conseguiria cobrir as suas possíveis perdas. Apenas com a redução de sua nota, anteontem,
pelas agências de classificação
de risco Standard & Poor's,
Fitch e Moody's, ela precisará
cerca de US$ 14,5 bilhões.
Negociações
Em reunião na tarde de ontem, executivos de grandes
bancos e do Fed chegaram à
conclusão que um empréstimo
emergencial de US$ 75 bilhões
não poderia ser finalizado ainda na noite de terça. No encontro, na sede da divisão do Fed
em Nova York, estiveram, entre outros, dirigentes do do
Goldman Sachs e do JPMorgan
Chase, que foram os dois bancos procurados ontem pelo Fed
para negociar um empréstimo.
Com o fracassos das negociações com os bancos, Paulson,
Ben Bernanke (presidente do
Fed) e Timothy Geithner (do
Fed de Nova York) concluíram
que a ajuda federal era necessária para impedir a quebra da
AIG, que eles temiam seria desastrosa para as Bolsas.
Depois do encontro, Bernanke e Paulson se reuniram, em
Washington, com os principais
líderes do Congresso para explicar o plano de resgate.
Antes, o presidente George
W. Bush já havia sido avisado
dos acontecimentos. Em nota,
a Casa Branca disse que as "medidas foram tomadas para promover a estabilidade dos mercados financeiros e limitar os
danos à economia em geral".
Uma ajuda para a AIG era
considerada ainda mais importante que para o Lehman Brothers, já que a seguradora tem
atuação em cerca de 130 países,
enquanto o Lehman Brothers
tem grande parte das suas operações concentrada nos EUA.
Além disso, a AIG tem suas
ações negociadas no índice
Dow Jones, o principal de Nova
York. Por isso, é muito procurada por fundos e investidores.
Caso ela caísse, é muito provável que outros grandes bancos
mundiais desabassem junto.
Com o "New York Times" e agências internacionais
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