São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Governo americano fica com 80% da AIG

Após fracasso em fechar ajuda para a seguradora junto à banca privada, BC dos EUA dá empréstimo de US$ 85 bilhões

Resgate ocorre dez dias após o socorro do governo Bush de até US$ 200 bilhões às gigantes do crédito imobiliário americano

DA REDAÇÃO

Com os grandes bancos americanos se recusando a emprestar dinheiro para a AIG, o governo dos EUA, depois de afirmar durante dias que não voltaria a ajudar o setor privado, vai emprestar até US$ 85 bilhões para a maior seguradora mundial por meio do Fed (Federal Reserve, o banco central do país). Em troca, o governo terá como garantia 79,9% das ações da empresa.
Segundo o "Financial Times", o governo quer como garantia a maior parte da empresa para impedir que os atuais acionistas lucrem com o resgate. A expectativa é que hoje os papéis -que perderam a maior parte do valor nos últimos dias- tenham forte alta. Pelo acordo, a direção da seguradora deverá ser demitida.
"O comitê [do Fed] determinou que, nas circunstâncias atuais, uma falência desordenada da AIG poderia aumentar os já significativos níveis de fragilidade no mercado financeiro, causar aumentos substanciais nos custos dos empréstimos, reduzir a riqueza das famílias e enfraquecer materialmente o desempenho econômico", diz a nota do BC divulgada na noite de ontem.
O empréstimo será garantido por todos os ativos da seguradora (US$ 1,05 trilhão no fim de junho), inclusive as ações das subsidiárias. O governo americano afirma que espera receber o dinheiro com a venda dos ativos das empresas e que tem o direito de vetar o pagamento de dividendos aos acionistas.
A ajuda do banco central dos Estados Unidos significa uma mudança de atitude da entidade, que até anteontem dizia que não emprestaria dinheiro para o setor privado e pressionava para que os grandes bancos financiassem a ajuda para a AIG. Ela também expõe o temor do alcance da crise. Pelas suas regras, a entidade só pode emprestar dinheiro para bancos, e não para empresas como uma seguradora.
Há dez dias, o governo já tinha resgatado a Fannie Mae e a Freddie Mac, as duas maiores financiadoras de hipotecas do país, em um acordo que poderá custar até US$ 200 bilhões aos contribuintes do país, e apontou que aquela deveria ser a última ajuda daquele tipo.
"Nós não consideramos, e eu não considero, colocar dinheiro dos contribuintes para auxiliar uma instituição. Não interprete isso como um nunca mais, interprete como que eu considero que é importante manter a estabilidade e a ordem no nosso sistema financeiro. "Moral hazard" [risco moral] é algo que eu não negligencio", afirmou anteontem o secretário do Tesouro, Henry Paulson.
A declaração de Paulson foi feita depois que o governo não colocou dinheiro para impedir que o banco Lehman Brothers pedisse concordata. Em março, o governo americano organizou a venda do Bear Stearns para o JPMorgan, em uma operação em que o Fed teve de empenhar US$ 29 bilhões.
Mas, com a concordata do Lehman, aumentaram as pressões sobre o AIG, que passou a ser apontado como a próxima instituição financeira a cair. A expectativa era a de que a sua quebra causaria um prejuízo de US$ 180 bilhões em vários setores, segundo a RBC Capital Markets, com um efeito dominó em boa parte do mundo. "Seria uma reação em cadeia", disse Uwe Reinhardt, professor da Universidade Princeton. "Os efeitos seriam incríveis."
Anteontem, as suas ações foram as que mais caíram na Bolsa de Nova York, com queda de 60,79%. Ontem, os seus papéis chegaram a cair cerca de 70%, mas, com a expectativa da ajuda do governo norte-americano, eles se recuperaram parcialmente e terminaram o dia com desvalorização de 21,22%.
As ações da seguradora, que valiam US$ 58,30 no final do ano passado, ontem terminaram negociadas a US$ 3,75, queda de 93,57%. Nos últimos nove meses até o fim de junho, ela perdeu US$ 18 bilhões.
A AIG buscava nos últimos dias levantar dinheiro para diminuir os temores de que não conseguiria cobrir as suas possíveis perdas. Apenas com a redução de sua nota, anteontem, pelas agências de classificação de risco Standard & Poor's, Fitch e Moody's, ela precisará cerca de US$ 14,5 bilhões.

Negociações
Em reunião na tarde de ontem, executivos de grandes bancos e do Fed chegaram à conclusão que um empréstimo emergencial de US$ 75 bilhões não poderia ser finalizado ainda na noite de terça. No encontro, na sede da divisão do Fed em Nova York, estiveram, entre outros, dirigentes do do Goldman Sachs e do JPMorgan Chase, que foram os dois bancos procurados ontem pelo Fed para negociar um empréstimo.
Com o fracassos das negociações com os bancos, Paulson, Ben Bernanke (presidente do Fed) e Timothy Geithner (do Fed de Nova York) concluíram que a ajuda federal era necessária para impedir a quebra da AIG, que eles temiam seria desastrosa para as Bolsas.
Depois do encontro, Bernanke e Paulson se reuniram, em Washington, com os principais líderes do Congresso para explicar o plano de resgate.
Antes, o presidente George W. Bush já havia sido avisado dos acontecimentos. Em nota, a Casa Branca disse que as "medidas foram tomadas para promover a estabilidade dos mercados financeiros e limitar os danos à economia em geral".
Uma ajuda para a AIG era considerada ainda mais importante que para o Lehman Brothers, já que a seguradora tem atuação em cerca de 130 países, enquanto o Lehman Brothers tem grande parte das suas operações concentrada nos EUA. Além disso, a AIG tem suas ações negociadas no índice Dow Jones, o principal de Nova York. Por isso, é muito procurada por fundos e investidores. Caso ela caísse, é muito provável que outros grandes bancos mundiais desabassem junto.


Com o "New York Times" e agências internacionais


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