São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Crise atinge mercado da dívida brasileira

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além da Bovespa, a crise no setor financeiro dos EUA atingiu o mercado de dívida do Brasil no exterior. Com a aversão a risco dos investidores e a necessidade de fazer caixa, aumentou o custo dos contratos especiais de seguro (CDS) -indicador usado para avaliar a percepção de risco dos países.
Nas 11 economias emergentes analisadas pela Folha, o Brasil está ao lado da Argentina e Venezuela entre as que mais sofreram. Todas registraram altas. O custo dos contratos que envolvem o risco-país subiu 102 pontos básicos entre sexta e ontem e, com isso, alcançou 256 pontos acima dos títulos tesouro norte-americano. A variação no valor dos contratos da Argentina foi mais do que o dobro da brasileira, subiu 259 pontos e foi negociado 1.045 cima dos país do governo dos EUA, valor próximo aos 1.049 pontos da Venezuela que teve uma variação nos últimos dois dias de 336 pontos.
Rússia (86), Colômbia (81) e México (78) vêm em seguida. Numa situação mais favorável estão Chile (15), China (24), Coréia (37), África do Sul (39) e Turquia (55).
No entanto, esse desempenho ruim não reflete necessariamente uma piora na situação da economia brasileira diante da crise internacional e, segundo Sandra Utsumi, diretora-adjunta de renda fixa do BES Investimento, em Portugal, está relacionada ao fato de ser mais fácil se desfazer dos contratos brasileiros e reforçar o caixa num momento em que várias instituições enfrentam perdas monumentais.
O custo dos CDS brasileiros -que representa quanto o país tem que pagar a mais do que o que rendem os papéis do governo americano- chegou a bater 200 pontos no início do ano. Após o país obter o grau de investimento pelas agências de classificação de risco, no final de abriu, ele despencou e alcançou 90 pontos. Desde então, vinha subindo de acordo como os desdobramentos da crise financeira internacional.
Apesar desse comportamento, no Tesouro Nacional a avaliação é que a crise, até agora, não provocou grande estrago.
O canal de contágio considerado uma ameaça maior, segundo a Folha apurou, são os investidores estrangeiros que vieram ao Brasil comprar os papéis do governo emitidos no país. Apesar de representarem um pouco mais de 6% do total da dívida em títulos, quando se considera os papéis com prazos superiores a cinco anos, a participação mais do que duplica.
Uma fuga de investidores seria ruim para a gestão da dívida e anularia boa parte do esforço do governo para alongar os prazos de vencimento da dívida pública, além de elevar o custo. Por isso, esse mercado foi acompanhado com especial atenção nos últimos dois dias.
A avaliação, até agora, é que os investidores mais ariscos já haviam deixado o país na crise interna de 2006, que derrubou Antonio Palocci da Fazenda. Os que ficaram são mais de longo prazo e ainda não se mostraram assustados com os desdobramentos da crise nos EUA a ponto de fugirem do Brasil.


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