São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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Juro alto dá prejuízo de R$ 626,8 mi

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cotistas de fundos de investimento tiveram prejuízo de R$ 626,8 milhões na segunda-feira. As perdas foram provocadas por uma queda na rentabilidade dessas aplicações que, na média, ficou negativa em 0,20%.
O tombo sofrido pelos investidores dos vários tipos de fundo foi provocado principalmente pelo aumento da taxa de juros -de 18% para 21% ao ano.
Os fundos de privatização, cuja rentabilidade caiu 4,19% em um dia, foram os mais afetados.
Também sofreram perdas os fundos de ações (-1,45%), os cambiais (-0,92%) e os chamados "off-shore" (-1,59%), geralmente destinados a investidores que não residem no país e aplicam em ativos brasileiros no exterior.
A explicação para as perdas dos fundos de ações e de privatização, que aplicam em papéis da Petrobras e da Vale do Rio Doce, é a mesma. Juros mais altos significam acesso mais difícil a crédito, crescimento econômico menor e demanda reduzida -fatores extremamente prejudiciais às empresas que levaram à queda no valor das suas ações.
Fundos cambiais e "off-shore" perderam porque o preço médio do dólar (Ptax) caiu na última segunda-feira, dia em que o Banco Central elevou os juros. Como a rentabilidade da maior parte desses fundos é corrigida pelo Ptax, seu retorno despencou.

Renda fixa
Já os fundos de renda fixa, que tendem a ser as aplicações mais prejudicadas pelos juros altos, tiveram perda de apenas 0,01% na segunda-feira. No entanto, segundo analistas, os prejuízos dessas aplicações deverão ser maiores, diluídos durante os próximos dias.
Geralmente, os fundos de renda fixa perdem muito quando os juros sobem. A lógica é a seguinte: essas aplicações devem render determinada taxa de juros fixada previamente. Quando os juros aumentam, essa taxa prefixada fica defasada em comparação à nova. Para tentar acompanhar a nova taxa de juros, o valor das cotas desses fundos é corrigido para baixo, o que causa prejuízo.
Segundo Glauco Cavalcanti, diretor do CSFB Garantia, são duas as razões para que as perdas dos fundos de renda fixa não tenham sido tão grandes.
As carteiras desses fundos são compostas por títulos públicos, cujo valor vem se depreciando devido ao temor de calote da dívida pública. Isso aconteceu principalmente com os títulos que vencem a partir do ano que vem. Portanto, para evitar grandes perdas de rentabilidade, os gestores de fundos passaram a optar por títulos menos desvalorizados, de vencimento mais curto.
"Quanto mais curto o prazo do papel prefixado, menor o prejuízo. Isso porque o fundo estava aplicado em uma taxa de juros que ficou defasada, mas por um tempo menor", diz Cavalcanti.
A pequena perda dos fundos de renda fixa indica também que alguns gestores podem não estar praticando a chamada marcação a mercado na carteira de seus fundos. Esse método de contabilidade de ativos, imposto pelo BC, obriga os gestores a ajustar as cotas de acordo com o valor de mercado dos ativos dos fundos, como os títulos públicos. A exceção fica justamente por conta dos fundos que têm papéis de vencimento curto em suas carteiras -caso da maior parte dos prefixados.
Isso não significa, no entanto, que esses fundos deixaram de perder. A diferença é que seus prejuízos não serão descontados da rentabilidade de uma só vez, mas durante alguns dias.

DIs são opção
"Os fundos de renda fixa devem continuar tendo perdas por alguns dias", diz o consultor de investimentos Marcelo D'Agosto, sócio do site Fortuna e da Investmate.
Segundo D'Agosto, os fundos DI deverão ser os mais beneficiados pela alta dos juros. Essas aplicações acompanham o movimento dos juros. Por isso, na segunda-feira tiveram ganho de 0,06%.
Cadernetas de poupança e os CDBs pós-fixados também tendem a ter melhores retornos quando os juros sobem. Já o retorno dos fundos cambiais dependerá do comportamento do dólar daqui para a frente.


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