São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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Taxa não deve subir de novo na próxima quarta

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Copom não vai alterar a taxa básica de juros da economia na próxima semana, quando acontece sua reunião mensal. Essa é a avaliação de economistas consultados pela Folha.
Após a divulgação da ata do último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária), que trouxe a justificativa para o aumento da Selic (taxa básica) na segunda-feira de 18% para 21% anuais, o mercado não vê motivos para o BC voltar a mexer nos juros.
Maurício Zanella, diretor de derivativos do banco Lloyds TSB, diz que o tamanho do aumento da Selic na segunda -3 pontos percentuais- já indicava que a intenção do BC não era a de controlar o câmbio, mas sim a inflação.
"Em pouco mais de uma semana [entre um encontro e outro do Copom], não dá para o BC saber os efeitos da alta dos juros sobre a inflação. Por isso, não vejo outra alternativa ao Copom à de manter os juros em 21% e com o viés neutro", afirma Zanella.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), as projeções das taxas de juros recuaram ontem, após dispararem na segunda e na terça. O contrato DI (que considera as operações entre bancos) de novembro fechou com taxa de 22,25% ao ano, depois de superar os 23% anuais no dia anterior.
Para o estrategista-chefe do HSBC Investment, Dawber Gontijo, a ata mostra que o BC elevou os juros "por estar preocupado com a inflação" e que vai optar "pela manutenção" dos juros na próxima reunião.
"Se o BC tivesse aumentado os juros para tentar segurar o dólar, haveria a perspectiva de que os juros poderiam voltar a subir. Mas entendo que não foi essa a intenção. A preocupação central do BC é a inflação", diz Clive Botelho, diretor financeiro do banco Santos.
O dólar voltou a subir ontem e fechou em R$ 3,92.
Apesar de a leitura dos analistas nesse momento ser a de que os juros não serem alterados na próxima semana, ninguém descarta a hipótese de o Copom voltar a elevar a taxa básica em novembro.

Inflação em alta
Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Bank of America, diz que o aumento da taxa Selic para 21% não será suficiente para fazer a inflação corrente ceder. "Para fazer a inflação deste ano ficar dentro da meta [de 6,5%, pelo teto] vai ser preciso mais juro, desaceleração da economia e um Banco Central com credibilidade", diz ele.
Na opinião de Carvalho, em novembro e em dezembro deverão ocorrer novos aumentos da taxa básica. "Deve subir um ponto percentual em cada mês", diz. Ele não espera uma nova puxada na taxa na próxima semana, durante a reunião ordinária do Copom. "O cenário não deverá mudar até lá para justificar novo aumento do juro", acrescenta.
Mas, passada a eleição, segundo Carvalho, o câmbio voltará a ficar pressionado, o Embi+, índice que mede a variação dos preços do C-Bonds, principal título da dívida externa brasileira, deverá estar em torno dos 2.000 pontos e a inflação não cederá.
Nesse cenário, o Bank of America projeta uma inflação um pouco acima de 8% neste ano e de 15% para 2003, em consequência da explosão do dólar.


Colaborou Sandra Balbi, da Reportagem Local

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