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LUÍS NASSIF
O risco da política industrial convencional
Há novos paradigmas na
economia mundial que
deveriam ser bem pesados, antes de que se volte a políticas industriais tradicionais. Talvez
não tenha recebido a devida
atenção uma detalhada análise
da política industrial italiana,
por Paolo Gurisatti -professor
da Universidade de Veneza e diretor do Parque Científico e Tecnológico Galileo Galilei-, recentemente publicada na mídia.
Nos anos 70, com o avanço da
idéia da integração continental,
a Itália passou a investir pesadamente na substituição de importações de produtos com alto
conteúdo tecnológico. Tentou
sair de setores tradicionais para
os avançados. Nesse modelo
-explica Gurisatti- houve
um pacto político entre governo,
as grandes indústrias dos setores
mais oligopolizados da economia e a área acadêmica.
Na eletrônica e informática,
por exemplo, a beneficiada foi a
Olivetti, apoiada com recursos
públicos para pesquisa e inovação. Esse apoio permitiu à Olivetti enfrentar a concorrência
internacional por alguns anos.
Depois, não resistiu e quebrou.
O mesmo ocorreu em outros setores de capital intensivo, como
alumínio e química fina.
Hoje em dia, a Itália continua
depende de importações de
componentes eletrônicos e de
tecnologia da informação, e tem
caído ano a ano a participação
de seus setores de alto conteúdo
tecnológico no comércio mundial.
O país acabou se livrando de
uma crise no balanço de pagamentos, graças justamente aos
setores tradicionais e a produtos
fabricados por micro e pequenas
empresas, que conseguiram
montar seu modelo mesmo sem
o apoio do governo e do mundo
acadêmico.
O economista estudou detidamente a questão, para entender
onde a Itália falhou. Foi buscar
respostas em estudos de Alfred
Marshall sobre os distritos têxteis da Inglaterra, organizados
antes da predominância do
"fordismo".
O conceito da grande organização "fordista" ganhou corações e mentes nas escolas de economia e nos programas de desenvolvimento nacional. No seu
estudo, Marshall constatava
que o grande fator de competitividade sustentável era a disseminação de conhecimento, que
não podia ficar restrito a uma
única empresa, por mais organizada que fosse.
Mais que isso, é um fenômeno
social que envolve numerosas
estruturas e instituições de um
território, constatava Marshall.
No caso de Manchester, havia
um mercado de trabalho unificado e eficiente, que formava
fornecedores especializados em
produzir para economias externas, transferir inovações, tudo
dentro de relações de confiança
que promoviam a difusão da informação.
Na Itália, a Olivetti faliu porque não encontrou o ambiente
de inovação favorável. Conclui
Gusiatti que o ambiente ideal é
o local, "composto por um vasto
conjunto de empresas e de instituições, residência de pessoas
que investem conjuntamente
num determinado conjunto de
conhecimentos que representa o
recurso essencial para uma indústria competitiva".
Não será possível a nenhum
país aberto à competição internacional criar um ambiente
inovador apostando apenas na
grande indústria oligopolista,
diz.
Os distritos industriais criaram capital social, redes de relações entre atores políticos e econômicos imbatíveis. "Em vez de
tentar substituir importações,
teria sido mais eficaz investir na
valorização dos recursos e dos
conhecimentos locais, mesmo os
mais tradicionais", explica Gurisatti. "Mas isso só ficou claro
posteriormente."
A partir dessas lições, conclui
que o caminho do país será valorizar os conhecimento locais,
mas aceitando o desafio de
aprofundar a abertura e confrontar com o mundo exterior,
mesmo que isso implique, no
início, custos altos de aprendizagem e adaptação.
E-mail -
LNassif@uol.com.br
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