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EM TRANSE
Presidente do BC diz que reunião do Copom que elevou juro não podia esperar "porque cada dia vale por uma semana"
Momento exigia ação rápida, diz Armínio
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, afirmou ontem
que precisou convocar a reunião
extraordinária do Copom na segunda-feira porque "cada dia, hoje, vale por uma semana, e esperar
nove dias até a reunião ordinária
pareceu tempo demais". Segundo
ele, "o Banco Central achou que
aquele era o momento de dar um
sinal à sociedade".
Armínio afirmou que a decisão
de aumentar os juros básicos da
economia de 18% para 21% ao
ano foi tomada devido ao aumento da inflação nos últimos meses.
A alta do dólar, de acordo com ele,
é um fator indireto a ser atacado.
O presidente do BC disse que
não concorda com as críticas de
que a alta de três pontos percentuais nos juros era insuficiente para reduzir a inflação e conter a alta
do dólar. "Tem gente que achou
pouco, outros acharam muito,
mas nós achamos que esse era o
ponto certo."
Armínio negou que a decisão de
aumento dos juros tivesse sido tomada por influência do FMI
(Fundo Monetário Internacional). "Não existiu isso, como nunca houve antes." Ele não quis comentar, por receio de ser mal interpretado, se há possibilidade de
novo aumento da meta de superávit primário na próxima visita dos
técnicos do FMI ao Brasil, marcada para o mês de novembro.
Armínio disse que foi mal interpretado na polêmica entrevista
coletiva concedida por ele na
quarta-feira da semana passada,
quando disse que o Brasil vive
uma crise de confiança. Armínio
afirmou que, em nenhum momento deu a entender que o BC
teria jogado a toalha, como o mercado interpretou no dia seguinte.
Segundo o presidente do BC, "o
Brasil vive uma crise de confiança
provocada pela combinação do
medo da mudança com o ambiente global extremamente hostil do ponto de vista financeiro".
O objetivo da entrevista, segundo Armínio, foi mostrar que, apesar de todas as dificuldades, o Brasil emite hoje uma série de sinais
de vitalidade que não podem ser
desprezados.
"Ninguém gosta de ver o risco
Brasil acima de 2.000 pontos e o
dólar acima de R$ 3,80, o que indica um quadro complicado, mas,
mesmo assim, continuo acreditando que existe uma boa saída
para nós, independentemente do
resultado das urnas."
"Tudo dependerá do que o próximo presidente fizer, mas as sinalizações dos últimos dias são
muito positivas, de ambas as partes", diz o presidente do BC referindo-se aos candidatos à Presidência José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva.
Armínio disse que, no encontro
de quarta-feira da semana passada com o presidente Fernando
Henrique Cardoso, no Palácio da
Alvorada, ele fez um relato da
conjuntura econômica do país.
Ele afirmou que, em nenhum momento, antecipou as medidas que
o BC iria tomar, tanto do aumento do compulsório como da elevação dos juros.
O presidente do BC afirmou que
a decisão de fazer esse relato da
conjuntura ao presidente Fernando Henrique Cardoso partiu da
equipe econômica durante a tradicional reunião da Câmara de
Política Econômica. "Chegamos à
conclusão de que valia a pena repassar ao presidente o quadro da
conjuntura."
Armínio disse que, nos últimos
18 meses, o mundo sofreu uma série de choques e, ainda assim, o
desempenho do Brasil, se comparado principalmente aos países
vizinhos, não foi tão catastrófico.
O presidente do BC citou, entre
os pontos positivos da economia,
a reconstituição institucional do
país, a queda da inflação, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, a solidez
do sistema financeiro e a melhora
de muitos indicadores sociais.
"Por trás de toda essa ansiedade
do momento há uma economia
mostrando uma vitalidade impressionante."
Armínio, que embarcou ontem
para os Estados Unidos, disse que
a viagem já estava programada há
muito tempo. O presidente do BC
deve retornar sábado ao Brasil.
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