São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Presidente do BC diz que reunião do Copom que elevou juro não podia esperar "porque cada dia vale por uma semana"

Momento exigia ação rápida, diz Armínio

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou ontem que precisou convocar a reunião extraordinária do Copom na segunda-feira porque "cada dia, hoje, vale por uma semana, e esperar nove dias até a reunião ordinária pareceu tempo demais". Segundo ele, "o Banco Central achou que aquele era o momento de dar um sinal à sociedade".
Armínio afirmou que a decisão de aumentar os juros básicos da economia de 18% para 21% ao ano foi tomada devido ao aumento da inflação nos últimos meses. A alta do dólar, de acordo com ele, é um fator indireto a ser atacado.
O presidente do BC disse que não concorda com as críticas de que a alta de três pontos percentuais nos juros era insuficiente para reduzir a inflação e conter a alta do dólar. "Tem gente que achou pouco, outros acharam muito, mas nós achamos que esse era o ponto certo."
Armínio negou que a decisão de aumento dos juros tivesse sido tomada por influência do FMI (Fundo Monetário Internacional). "Não existiu isso, como nunca houve antes." Ele não quis comentar, por receio de ser mal interpretado, se há possibilidade de novo aumento da meta de superávit primário na próxima visita dos técnicos do FMI ao Brasil, marcada para o mês de novembro.
Armínio disse que foi mal interpretado na polêmica entrevista coletiva concedida por ele na quarta-feira da semana passada, quando disse que o Brasil vive uma crise de confiança. Armínio afirmou que, em nenhum momento deu a entender que o BC teria jogado a toalha, como o mercado interpretou no dia seguinte.
Segundo o presidente do BC, "o Brasil vive uma crise de confiança provocada pela combinação do medo da mudança com o ambiente global extremamente hostil do ponto de vista financeiro".
O objetivo da entrevista, segundo Armínio, foi mostrar que, apesar de todas as dificuldades, o Brasil emite hoje uma série de sinais de vitalidade que não podem ser desprezados.
"Ninguém gosta de ver o risco Brasil acima de 2.000 pontos e o dólar acima de R$ 3,80, o que indica um quadro complicado, mas, mesmo assim, continuo acreditando que existe uma boa saída para nós, independentemente do resultado das urnas."
"Tudo dependerá do que o próximo presidente fizer, mas as sinalizações dos últimos dias são muito positivas, de ambas as partes", diz o presidente do BC referindo-se aos candidatos à Presidência José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva.
Armínio disse que, no encontro de quarta-feira da semana passada com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada, ele fez um relato da conjuntura econômica do país. Ele afirmou que, em nenhum momento, antecipou as medidas que o BC iria tomar, tanto do aumento do compulsório como da elevação dos juros.
O presidente do BC afirmou que a decisão de fazer esse relato da conjuntura ao presidente Fernando Henrique Cardoso partiu da equipe econômica durante a tradicional reunião da Câmara de Política Econômica. "Chegamos à conclusão de que valia a pena repassar ao presidente o quadro da conjuntura."
Armínio disse que, nos últimos 18 meses, o mundo sofreu uma série de choques e, ainda assim, o desempenho do Brasil, se comparado principalmente aos países vizinhos, não foi tão catastrófico.
O presidente do BC citou, entre os pontos positivos da economia, a reconstituição institucional do país, a queda da inflação, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a solidez do sistema financeiro e a melhora de muitos indicadores sociais. "Por trás de toda essa ansiedade do momento há uma economia mostrando uma vitalidade impressionante."
Armínio, que embarcou ontem para os Estados Unidos, disse que a viagem já estava programada há muito tempo. O presidente do BC deve retornar sábado ao Brasil.


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