São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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Para EUA, Brasil administrará dívida

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O subsecretário para assuntos internacionais do Tesouro dos EUA, John Taylor, disse ontem no Senado americano que o Brasil terá condições de administrar sua dívida pública de US$ 260 bilhões se as condições de mercado voltarem a níveis razoáveis.
"As análises embutidas no programa do FMI (Fundo Monetário Internacional) pressupõem a sustentatibilidade (da dívida)", disse ele. "Com estimativas razoáveis feitas para o crescimento econômico e com taxas de juros razoáveis que se esperam quando as incertezas diminuírem, isso (a dinâmica da dívida) é sustentável."
Taylor, principal assessor do secretário do Tesouro, Paul O'Neill, depôs ontem num painel sobre a política econômica dos EUA para a América Latina, promovido pela Subcomissão de Comércio e Finanças Internacionais do Senado.
Ele disse que os mercados brasileiros deverão sofrer turbulências até a definição dos rumos do novo governo. "Acho que continuará havendo incerteza por um período, até que se saiba quais serão as políticas (do novo governo). Mas acho que, no fim, quando as políticas se tornarem claras, as turbulências serão reduzidas."
O otimismo de Taylor foi contestado por Michael Mussa, economista que ocupou um cargo de chefia no FMI entre 1999-2001 e que atualmente trabalha no IIE (Instituto de Economia Internacional), um dos principais centros de pesquisa de Washington.
Mussa disse que a dívida brasileira só será sustentável se os investidores aceitarem receber juros reais de 7% a 8% sobre os papéis brasileiros - diferentemente dos 22% pagos atualmente. Mussa disse que o Brasil terá o desafio de reduzir os juros sem que os investidores vendam papéis do país, algo difícil de ocorrer. Ele disse que o país só crescerá 1% este ano se tiver "sorte".
Mussa disse que o Brasil encontra-se num circulo vicioso, formado por dívida alta, juros altos e câmbio depreciado do qual dificilmente escapará.
Os senadores presentes ao painel usaram o exemplo do último pacote financeiro ao Brasil, de US$ 30,3 bilhões, para criticar duramente o secretário O'Neill. "No dia 24 de junho, O'Neill disse que não fazia sentido jogar dinheiro sobre as incertezas políticas no Brasil. A declaração irritou o governo brasileiro e causou turbulências. Pouco depois, O'Neill apoiou um pacote de US$ 30 bilhões ao país, o maior da história do FMI. O que aconteceu? Houve evolução? Ele mudou de idéia? Sua política mudou de ideológica para pragmática?", perguntou o senador democrata Evan Bayh.
Taylor negou haver diferenças entre o discurso e a prática de O'Neill.


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