São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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Brasil cai em ranking de investimento

Enquanto o fluxo global de investimento estrangeiro direto cresceu 29% em 2005, ele recuou 17% no país, diz Unctad

Brasil cai de 10º para 14º receptor em lista mundial, e analistas culpam a baixa expansão da economia e o câmbio valorizado

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O real valorizado e o baixo crescimento da economia deixaram o Brasil fora da onda mundial de expansão de IED (Investimento Estrangeiro Direto) de 2005, que levou o indicador a registrar o segundo maior volume da história.
Enquanto o fluxo global de IED cresceu 29%, para US$ 916 bilhões, a fatia destinada ao Brasil diminuiu 17% e somou US$ 15,1 bilhões, segundo relatório da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) divulgado ontem.
O estudo mostra que o Brasil perdeu quatro posições no ranking global de países preferidos pelos investidores e passou do 10º para o 14º lugar. Entre os países emergentes, o Brasil desceu apenas um degrau e ocupou a quinta posição, atrás de China, Hong Kong, Cingapura e México.
A queda de 17% de 2005 deve ser relativizada pela fusão da AmBev com a belga Interbrew, que inflou os dados de 2004 com US$ 4,9 bilhões em IED relativos à operação. Em 2005, entrou mais US$ 1,4 bilhão dessa operação.
Mas ainda que esses números sejam expurgados, a performance do Brasil continua abaixo da de outros emergentes. Se a fusão AmBev/Interbrew não existisse, o Brasil teria recebido US$ 13,3 bilhões em 2004 e US$ 13,7 bilhões em 2005 -acréscimo de 3%, contra uma expansão global de 29%.
A participação do Brasil no volume global de IED também diminuiu: era de 1,8% em 2003, subiu a 2,6% em 2004 e caiu para 1,6% no ano passado.
A perspectiva para 2006 é de manutenção do cenário atual: a Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) prevê que o volume de IED no Brasil fechará 2006 em US$ 16 bilhões, enquanto as estatísticas da Unctad apontam para um novo salto no investimento em todo o mundo.
Se for considerado o período a partir de 1998, o valor recebido no ano passado só é superior ao de 2003, quando o IED caiu 39%, para US$ 10,14 bilhões.
"Em termos históricos, a média dos últimos quatro anos representa a metade da média dos quatro anos anteriores", afirmou o economista Claudio Haddad, diretor-presidente do Ibmec São Paulo, na divulgação do relatório. Os quatro anos anteriores se referem ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), quando o IED cresceu principalmente em razão das privatizações.
Para Haddad, o baixo crescimento é a principal razão da queda nos investimentos. Enquanto o mundo cresceu em média 4,8% em 2005, a expansão do Brasil foi de 2,3%. O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê que o mundo terá expansão de 5,1% em 2006 e o Brasil, de 3,6%.
Na América Latina, o Brasil ficou pelo terceiro ano consecutivo atrás do México, que recebeu US$ 18 bilhões em 2005. Apesar de sair de patamar baixo, inferior a US$ 2 bilhões, o IED na Venezuela de Hugo Chávez quase dobrou e, na Argentina, aumentou 9%, para pouco mais de US$ 4 bilhões.
O embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da Unctad, aponta o câmbio valorizado como o principal fator para redução do apetite dos investidores. "O Brasil se tornou uma localização pouco atrativa para empresas que querem investir para ter uma plataforma de exportação", disse Ricupero em entrevista por telefone.
O real valorizado em relação ao dólar aumenta o preço dos produtos brasileiros no exterior e reduz as margens de lucro dos exportadores.

Reformas
Octavio de Barros, diretor de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, observou na divulgação do relatório que a apreciação da moeda torna mais evidentes as ineficiências da economia brasileira e reduz a tolerância das empresas aos problemas nacionais, entre eles a alta carga tributária, a precária infra-estrutura e o alto custo do capital. "Não podemos mais contar com a taxa de câmbio como elemento de competitividade", disse.
O economista defendeu reformas que melhorem o "ambiente de negócios", mas ressaltou que o Brasil já viveu entre 1967 e 1976 movimento semelhante ao da China de hoje, que não se repetirá no futuro. "A dinâmica no Brasil é diferente, e a comparação é injusta." Mas concordou em que o baixo crescimento é um dos fatores que afastam investidores.
Haddad afirmou que é crucial realizar investimentos em infra-estrutura, que só serão possíveis com redução do gasto público. "Com um gasto público de 43% do PIB, não sobra nada para investimento."

Distribuição do IED
Os países desenvolvidos ficaram com 59% dos US$ 916 bilhões em IED. O Reino Unido liderou o ranking, com US$ 164,5 bilhões, três vezes mais que o registrado em 2004. O salto se deveu à fusão da Shell com a holandesa Royal Dutch Petroleum Company, no valor de US$ 74 bilhões.
Entre os países em desenvolvimento, o líder continuou a ser a China, que recebeu US$ 72,4 bilhões em investimentos, 19,4% a mais que em 2004.


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