|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil cai em ranking de investimento
Enquanto o fluxo global de investimento estrangeiro direto cresceu 29% em 2005, ele recuou 17% no país, diz Unctad
Brasil cai de 10º para 14º receptor em lista mundial, e analistas culpam a baixa expansão da economia e o câmbio valorizado
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O real valorizado e o baixo
crescimento da economia deixaram o Brasil fora da onda
mundial de expansão de IED
(Investimento Estrangeiro Direto) de 2005, que levou o indicador a registrar o segundo
maior volume da história.
Enquanto o fluxo global de
IED cresceu 29%, para US$ 916
bilhões, a fatia destinada ao
Brasil diminuiu 17% e somou
US$ 15,1 bilhões, segundo relatório da Unctad (Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) divulgado ontem.
O estudo mostra que o Brasil
perdeu quatro posições no ranking global de países preferidos
pelos investidores e passou do
10º para o 14º lugar. Entre os
países emergentes, o Brasil
desceu apenas um degrau e
ocupou a quinta posição, atrás
de China, Hong Kong, Cingapura e México.
A queda de 17% de 2005 deve
ser relativizada pela fusão da
AmBev com a belga Interbrew,
que inflou os dados de 2004
com US$ 4,9 bilhões em IED
relativos à operação. Em 2005,
entrou mais US$ 1,4 bilhão dessa operação.
Mas ainda que esses números sejam expurgados, a performance do Brasil continua abaixo da de outros emergentes. Se
a fusão AmBev/Interbrew não
existisse, o Brasil teria recebido
US$ 13,3 bilhões em 2004 e
US$ 13,7 bilhões em 2005
-acréscimo de 3%, contra uma
expansão global de 29%.
A participação do Brasil no
volume global de IED também
diminuiu: era de 1,8% em 2003,
subiu a 2,6% em 2004 e caiu para 1,6% no ano passado.
A perspectiva para 2006 é de
manutenção do cenário atual: a
Sobeet (Sociedade Brasileira de
Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) prevê que o volume de
IED no Brasil fechará 2006 em
US$ 16 bilhões, enquanto as estatísticas da Unctad apontam
para um novo salto no investimento em todo o mundo.
Se for considerado o período
a partir de 1998, o valor recebido no ano passado só é superior
ao de 2003, quando o IED caiu
39%, para US$ 10,14 bilhões.
"Em termos históricos, a média dos últimos quatro anos representa a metade da média
dos quatro anos anteriores",
afirmou o economista Claudio
Haddad, diretor-presidente do
Ibmec São Paulo, na divulgação
do relatório. Os quatro anos anteriores se referem ao governo
Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002), quando o IED
cresceu principalmente em razão das privatizações.
Para Haddad, o baixo crescimento é a principal razão da
queda nos investimentos. Enquanto o mundo cresceu em
média 4,8% em 2005, a expansão do Brasil foi de 2,3%. O FMI
(Fundo Monetário Internacional) prevê que o mundo terá expansão de 5,1% em 2006 e o
Brasil, de 3,6%.
Na América Latina, o Brasil
ficou pelo terceiro ano consecutivo atrás do México, que recebeu US$ 18 bilhões em 2005.
Apesar de sair de patamar baixo, inferior a US$ 2 bilhões, o
IED na Venezuela de Hugo
Chávez quase dobrou e, na Argentina, aumentou 9%, para
pouco mais de US$ 4 bilhões.
O embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da
Unctad, aponta o câmbio valorizado como o principal fator
para redução do apetite dos investidores. "O Brasil se tornou
uma localização pouco atrativa
para empresas que querem investir para ter uma plataforma
de exportação", disse Ricupero
em entrevista por telefone.
O real valorizado em relação
ao dólar aumenta o preço dos
produtos brasileiros no exterior e reduz as margens de lucro dos exportadores.
Reformas
Octavio de Barros, diretor de
pesquisa e estudos econômicos
do Bradesco, observou na divulgação do relatório que a
apreciação da moeda torna
mais evidentes as ineficiências
da economia brasileira e reduz
a tolerância das empresas aos
problemas nacionais, entre eles
a alta carga tributária, a precária infra-estrutura e o alto custo do capital. "Não podemos
mais contar com a taxa de câmbio como elemento de competitividade", disse.
O economista defendeu reformas que melhorem o "ambiente de negócios", mas ressaltou que o Brasil já viveu entre 1967 e 1976 movimento semelhante ao da China de hoje,
que não se repetirá no futuro.
"A dinâmica no Brasil é diferente, e a comparação é injusta." Mas concordou em que o
baixo crescimento é um dos fatores que afastam investidores.
Haddad afirmou que é crucial realizar investimentos em
infra-estrutura, que só serão
possíveis com redução do gasto
público. "Com um gasto público de 43% do PIB, não sobra nada para investimento."
Distribuição do IED
Os países desenvolvidos ficaram com 59% dos US$ 916 bilhões em IED. O Reino Unido
liderou o ranking, com US$
164,5 bilhões, três vezes mais
que o registrado em 2004. O
salto se deveu à fusão da Shell
com a holandesa Royal Dutch
Petroleum Company, no valor
de US$ 74 bilhões.
Entre os países em desenvolvimento, o líder continuou a
ser a China, que recebeu US$
72,4 bilhões em investimentos,
19,4% a mais que em 2004.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Crescimento mundial e fusões explicam alta Índice
|