Pesquisadores temem que doença chegue pelo Sul por meio de rotas migratórias

Universidades reclamam de dificuldade para conseguir verba; ministério afirma que projeto de mapeamento de risco está em análise

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Unisinos-RS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) apresentaram ontem em Campinas um mapeamento do risco da entrada da gripe aviária no Brasil pela região Sul e propuseram o monitoramento do vírus H5N1 por meio de rotas de migração de aves vindas da Antártida.
O projeto está pronto, mas os pesquisadores disseram ter dificuldade em obter financiamento de R$ 1,5 milhão do governo federal. O plano é que ao menos sete pesquisadores possam ir à Antártida até o início de 2007 para coletar amostras de substâncias de aves que possam carregar o vírus.
Na apresentação do projeto, os pesquisadores traçaram um panorama preocupante, no qual apontam que o país possui limitações sanitárias para enfrentar a doença e investe pouco em estudos nesta área.
Para os pesquisadores, o risco de entrada do vírus pelo Norte é menor por causa do intenso monitoramento de aves realizado pelos EUA e Canadá. Os pesquisadores defendem a tese de que é provável que o vírus chegue ao país pelo Sul. O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, e a indústria avícola responde por 1,5% do PIB do país. O setor emprega diretamente 800 mil pessoas.
"O dinheiro precisa chegar o mais rápido possível, dentro de um mês e meio. Esse seria o limite para realizar um serviço de qualidade", disse o gestor do grupo de Influenza Aviária da Unicamp, Joel Meyer.
O projeto inicial foi apresentado ao Ministério da Agricultura no início do semestre. O ministro Luís Carlos Guedes Pinto informou ontem, por meio de sua assessoria, que a implantação do plano já teve parecer técnico favorável, mas está em análise. As pesquisas em aves migratórias na Antártida também implicam autorizações dos Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia.
A Influenza Aviária, ou gripe do frango, é uma doença contagiosa que ocorre em galinhas, em outras aves e menos comumente em suínos. A doença pode causar a morte de humanos. Para determinar as rotas de aves, os técnicos desenvolveram um programa de computador e um banco de dados com as espécies e seus trajetos.
Em Santa Catarina, a Defesa Civil já tem um plano para conter a gripe aviária. O Estado é o maior exportador de aves do país. O plano visa, a princípio, orientar os municípios impactados e os agentes públicos em como lidar com a situação de forma imediata. Entre as recomendações, está proteger com lenço a boca e o nariz dos doentes ao tossirem ou respirarem.