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Impacto da crise se intensifica na economia não-financeira do país
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os efeitos da crise global, antes mais concentrados no setor
financeiro brasileiro, começam
a abalar com mais força o resto
da economia. Indicadores recentes já apuraram desaceleração no consumo, pessimismo
entre consumidores e empresários, elevação da inadimplência e aumento nos preços por
conta do dólar mais alto.
Apesar de o mercado interno
continuar se expandindo puxado pela renda e pelo emprego e
a economia estar mais protegida pelas reservas internacionais recordes de US$ 200 bilhões, economistas e empresários vêem a trava no crédito e a
oscilação do câmbio como os
canais de transmissão da crise,
que dificultam o planejamento
das empresas e reduzem a confiança de empresários e consumidores. O componente que
mede a percepção do futuro do
Índice de Confiança do Consumidor da Fecomercio de outubro teve recuo de 1,5%, interpretado como indício de cautela para comprar e fazer dívidas.
Com o crédito mais escasso,
o consumo deu sinais de desaceleração em setembro e de
"pane" em segmentos sensíveis, como o de material de
construção: as vendas caíram
até 30% no início de outubro,
auge do pânico nos mercados.
A situação ainda não é tão
preocupante, segundo os economistas, porque seguem em
alta o nível de emprego e a renda do brasileiro. Ontem, a Fiesp
reportou criação de 11 mil vagas
na indústria paulista. Já a renda do trabalhador cresceu 5,7%
em agosto, em relação ao mesmo mês de 2007, diz o IBGE.
"A crise via canal de crédito já
chegou ao Brasil. As informações relativas a outubro mostram a rápida desaceleração
nas vendas de automóveis e outros tipos de veículos, da mesma forma já há siderúrgicas,
principalmente voltadas para a
exportação, reduzindo a produção. Outro canal de contaminação virá pela revisão de investimentos", disse Luiz Carlos
Mendonça de Barros, que foi
ministro das Comunicações no
governo FHC.
"Ninguém pode ter dúvidas
de que a crise está chegando ao
setor real. Já chegou há algumas semanas na oferta de crédito. Muitas pessoas que faziam plano de viajar ao exterior
estão desistindo, e as empresas
estão revendo suas atividades.
Em alguns bancos, há redução
de pessoal. As demissões já começaram. E isso vai influenciar
o comportamento dos consumidores e o planejamento das
empresas. Todos estão se reposicionando", disse o economista Maílson da Nóbrega.
Com os juros maiores, piorou
também a capacidade de pagamento e o endividamento dos
consumidores. A Serasa apurou crescimento de 15,4% dos
pagadores em atraso em setembro, em relação ao mesmo mês
do ano passado.
Segundo os economistas, se a
desaceleração vier forte no início de 2009 poderá elevar o desemprego e diminuir a renda.
No início do ano, as previsões
eram de crescimento de 4,8%
em 2009; agora, a média dos
analistas prevê alta de 3,5%.
Apesar da desaceleração no
consumo, a alta do dólar pressiona a inflação e as empresas.
O IGP-10 de outubro, que
funciona com uma prévia do
IGP-M, subiu 0,78% -em setembro, havia tido deflação de
0,42%. A Klabin, grande do setor de papel e celulose, anunciou ontem prejuízo de R$ 253
milhões no terceiro trimestre,
com perdas de R$ 381 milhões
atribuídas à alta do dólar.
O dólar alto também trouxe
perdas aos balanços de empresas exportadoras que apostavam no real, pressionando a revisão das estratégias de expansão do setor corporativo.
Empresa que primeiro comunicou perdas com o câmbio,
a Sadia admitiu ontem que poderá ter seu primeiro prejuízo
anual em 64 anos de história.
Para Josué Gomes da Silva,
presidente da Coteminas, a redução nas vendas do varejo é
reflexo do aumento dos juros,
que começou bem antes do recrudescimento da crise. Ele
tem dúvidas se as empresas de
fato estão tomando decisões no
"calor dos acontecimentos"
atuais. "Nesse momento de
grande volatilidade, temos de
deixar a poeira assentar um
pouco e dar tempo para que as
medidas tenham efeitos. Temos de ter paciência para esperar, sob pena de tomar decisões
precipitadas", disse.
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