São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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BC anuncia mais medidas para tentar elevar liquidez do mercado financeiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante da baixa eficácia das medidas tomadas nas últimas três semanas para reforçar o caixa dos bancos, especialmente os de menor porte e os que financiam exportações, o governo resolveu estender ainda mais os incentivos a eles com empréstimos e descontos no recolhimento compulsório.
Ontem pela manhã, o Banco Central decidiu reduzir a exigência do compulsório (parcela dos depósitos bancários que fica retida pelo BC) para bancos que aceitarem fazer empréstimos de curto prazo, o chamado "overnight", a instituições pequenas e médias. É o mesmo benefício que passou a ser concedido, na semana passada, para bancos que comprassem parte da carteira de crédito de seus concorrentes menores.
O problema é que a avaliação dessas carteiras está levando mais tempo do que o BC considera razoável. Segundo a Folha apurou, a expectativa do governo é que os bancos menores passem a ter recursos de curtíssimo prazo oferecendo como garantia os mesmos títulos e créditos que antes precisavam ser vendidos em definitivo.
Para isso, o papel dos bancos oficiais será importante. O BC espera que Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que já estão analisando a compra definitiva de carteiras de crédito, mas num ritmo lento, passem a oferecer dinheiro no "overnight" com as mesmas garantias. A idéia do governo continua sendo fazer com que os bancos resolvam o problema de falta de caixa por meio de operações feitas entre os próprios integrantes do mercado, sem recorrer ao socorro oficial.
Ainda assim, o CMN (Conselho Monetário Nacional) decidiu também tornar mais fácil o acesso dos bancos a financiamentos emergenciais fornecidos pelo próprio BC.
Essa linha de crédito especial, criada por meio de medida provisória publicada na semana passada, apenas podia ser acessada por instituições que pudessem apresentar sua própria carteira de crédito como garantia. Ontem, essa exigência foi afrouxada, e também serão aceitos como garantia títulos emitidos por empresas, as debêntures, que estejam na carteira das instituições.

Linha em dólares
Além disso, uma outra linha emergencial em dólares também será oferecida a bancos que tenham problemas em honrar suas obrigações em moeda estrangeira. Ontem, porém, o CMN deu ao BC a possibilidade de condicionar o repasse desse dinheiro ao aumento na oferta de crédito para exportadores. A exigência não estava prevista na edição da MP que instituiu esse tipo de empréstimo nem na sua regulamentação, apesar de ter sido desenhada originalmente para suprir a escassez de linhas externas para o comércio.
A vinculação foi uma forma de o governo ter certeza de que o dinheiro chegará à ponta final em vez de ficar no caixa das instituições financeira e será estabelecido a critério do BC, no momento da concessão.
Para Mário Battistel, analista de câmbio da Fair Corretora, a decisão é acertada porque, se não houver a exigência, o destino desse dinheiro seria a especulação. "Existia a desconfiança de que o banco tomaria a linha de crédito, mas especularia com o dinheiro. Ao carimbar o destino, a operação fica mais transparente", afirmou.
No entanto, ele diz que, para garantir o dinheiro aos exportadores, o BC não deveria fazer esses empréstimos no exterior. Bastaria direcionar ao setor uma parte dos leilões casados de compra e venda de dólar que realizados nos últimos dias. "Seria muito mais simples."
A demora em começar a fazer leilões para linhas de crédito ao comércio exterior irrita os exportadores, que há dez dias estão na expectativa da maior oferta de dólares para fechar contratos. O vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, disse que a expectativa era que a oferta começasse na semana passada, quando o governo anunciou o pacote de socorro.
Os exportadores vêm reclamando que, sem regulamentação, continuam sem acesso ao crédito. No entanto, ontem à noite, o BC informou que divulgará hoje as regras para esse tipo de operação, permitindo aos bancos que comecem a liberar mais crédito aos exportadores.
Desde o fim do mês passado, com o agravamento da crise, o BC tomou medidas que, ao todo, já liberaram R$ 49,5 bilhões aos bancos.
Se considerado o volume de recursos que também podem estar disponíveis a eles que, de alguma maneira, injetem dinheiro no mercado, o valor vai a R$ 111 bilhões.


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