São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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Operação "mãos limpas" começa a sair do papel

DA REPORTAGEM LOCAL

A operação "mãos limpas" que o próximo governo deve fazer no meio sindical já começa a sair do papel. Um relatório sobre corrupção sindical e má gestão de recursos públicos, preparado por um grupo de dez pessoas, deve chegar às mãos do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 deste mês. Para essa data, em São Paulo, está previsto um encontro com mais de 50 sindicalistas.
O objetivo da reunião é discutir e recolher sugestões sobre as mudanças que devem ser feitas na atual estrutura sindical. A Folha informou, em reportagem publicada no último domingo, que uma das idéias em estudo é alterar a política de distribuição de verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) repassadas a entidades para fazer cursos de qualificação profissional.
As alterações devem ocorrer por causa das denúncias de desvio de dinheiro público que envolvem organizações sindicais. Várias entidades -de trabalhadores e de patrões- estão sob investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e da CGU (Corregedoria Geral da União).
O relatório que está sendo preparado por um grupo de sindicalistas, advogados, procuradores e especialistas em relações de trabalho deve detalhar ao novo governo quais são as entidades e os dirigentes suspeitos de enriquecimento ilícito, corrupção e má utilização de dinheiro público. O documento também deve listar processos eleitorais fraudulentos na disputa pela direção de sindicatos e casos de nepotismo regulamentados até nos estatutos de algumas entidades -como sindicatos que "passam" de pai para filho.
Um dos casos que devem constar do relatório é o de desvios de verba do FAT constatados pela Justiça no Sindicato dos Metalúrgicos de Itaquaquecetuba. As irregularidades culminaram com a destituição do presidente Alberto Rocha, apoiado anteriormente pela Força Sindical. Procurado, ele não foi localizado pela Folha.
Lá, os alunos Fernanda, Patrícia, Cilene, Sonia e Reginaldo, por exemplo, inscreveram-se num curso de informática na tentativa de melhorar o currículo para encontrar um emprego. A promessa era oferecimento de um curso completo, mais ajuda no vale-transporte e no vale-alimentação.
Hoje, eles e outros alunos, além de alguns professores, são testemunhas -em depoimentos registrados em cartório- de que os cursos não forneceram material didático, computadores para treinamento, muito menos vale-transporte e vale-alimentação, como determinam os convênios entre as entidades e o governo.
No caso de Itaquaquecetuba, o curso foi administrado por um instituto terceirizado de educação profissional. Deveria ter cem horas, mas, na prática, durou 40. O dinheiro recebido, entretanto, foi para custear as cem horas.
Nesse sindicato, que representa 7.000 metalúrgicos, o desvio contabilizado até agosto pela nova diretoria chegou a R$ 200 mil.
(CR e FF)

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