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MARTIN WOLF
Uso da energia requer controle
A energia é a base da vida, hoje; à medida que cresce sua demanda, temos de garantir maior oferta e uso eficiente
"A ELEVAÇÃO na demanda
da China por energia entre 2002 e 2005 equivale
ao consumo anual no Japão." A informação, que está na mais recente
"Perspectiva Energética Mundial"
da Agência Internacional de Energia
(AIE), é um indicador praticamente
suficiente para que determinemos o
que está acontecendo com a economia energética mundial.
A economia neoclássica analisava
o crescimento econômico em capital, mão-de-obra e progresso técnico. Mas hoje creio que seria mais esclarecedor conceber os principais
propulsores da economia como
energia e idéias. Instituições e incentivos dão a estrutura básica por
meio da qual o desenvolvimento e a
aplicação de conhecimento útil
transforma a luz solar fossilizada da
qual dependemos na corrente de
bens e serviços que apreciamos.
É esse o mundo de abundância ao
qual China e Índia agora estão aderindo. Seria preciso uma catástrofe
para detê-las. Para os pessimistas,
porém, uma catástrofe parece inevitável. A única coisa certa é que os desafios futuros serão imensos.
Eis os pontos principais do novo
relatório:
Primeiro: se os governos mantiverem suas políticas energéticas vigentes (definidas pela AIE como
"cenário de referência"), as necessidades do planeta em 2030 serão
50% maiores que as atuais.
Segundo: essa ampliação na demanda geral ocorreria mesmo que o
uso de energia por unidade de PIB
caísse ao ritmo anualizado de 1,8%.
Terceiro: os combustíveis fósseis
devem atender a 84% do aumento
no consumo mundial de energia no
período de 2005 a 2030.
Quarto: os recursos petrolíferos
mundiais são suficientes, diz a AIE,
para atender à demanda, com uma
base de US$ 60 por barril (preço de
2006). Mas a porcentagem da oferta
mundial que virá dos membros da
Opep subirá de 42% para 52%.
Quinto: a participação do carvão
no comércio de energia deve crescer
de 25% para 28% entre 2005 e 2030,
devido ao seu papel na geração de
eletricidade. China e Índia já respondem por 45% do uso mundial de
carvão, e responderão por 80% da
elevação na demanda do produto
sob o "cenário de referência".
Sexto: cerca de US$ 22 trilhões serão necessários para investimento
na infra-estrutura de suprimento, a
fim de atender à demanda nos próximos 25 anos.
Sétimo: mesmo com medidas radicais de redução do uso da energia
por unidade de crescimento, a demanda mundial primária por energia cresceria 1,3% ao ano.
Oitavo: a China se tornará a maior
consumidora de energia, superando
os EUA, logo depois de 2010.
Nono: sob o "cenário de referência", as emissões de dióxido de carbono subirão 57% entre 2005 e
2030. China, EUA, Rússia e Índia
contribuirão com dois terços dessa
alta. A China se tornará o maior
emissor mundial neste ano, e a Índia
será o terceiro em 2015.
Décimo: mesmo sob o "cenário de
políticas alternativas" mais radical
proposto pela AIE, as emissões de
dióxido de carbono só se estabilizariam em 2025.
O resto do mundo deseja desfrutar dos benefícios do uso mais intensivo de energia -privilégio de um
sexto da humanidade. Mas esse desejo tem conseqüências sérias para
o futuro econômico e ambiental.
A energia comercial é a base da vida contemporânea. À medida que a
demanda por ela cresce, é fundamental garantir maior oferta e uso
eficiente, limitando os danos ambientais. Os altos preços hoje vigentes são um começo. Inovações fundamentais e a imposição de taxas severas sobre emissões pesadas de gases causadores do efeito estufa serão
passos inevitáveis no futuro.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
MARTIN WOLF é colunista do "Financial Times".
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