São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARTIN WOLF

Uso da energia requer controle

A energia é a base da vida, hoje; à medida que cresce sua demanda, temos de garantir maior oferta e uso eficiente

"A ELEVAÇÃO na demanda da China por energia entre 2002 e 2005 equivale ao consumo anual no Japão." A informação, que está na mais recente "Perspectiva Energética Mundial" da Agência Internacional de Energia (AIE), é um indicador praticamente suficiente para que determinemos o que está acontecendo com a economia energética mundial.
A economia neoclássica analisava o crescimento econômico em capital, mão-de-obra e progresso técnico. Mas hoje creio que seria mais esclarecedor conceber os principais propulsores da economia como energia e idéias. Instituições e incentivos dão a estrutura básica por meio da qual o desenvolvimento e a aplicação de conhecimento útil transforma a luz solar fossilizada da qual dependemos na corrente de bens e serviços que apreciamos.
É esse o mundo de abundância ao qual China e Índia agora estão aderindo. Seria preciso uma catástrofe para detê-las. Para os pessimistas, porém, uma catástrofe parece inevitável. A única coisa certa é que os desafios futuros serão imensos.
Eis os pontos principais do novo relatório: Primeiro: se os governos mantiverem suas políticas energéticas vigentes (definidas pela AIE como "cenário de referência"), as necessidades do planeta em 2030 serão 50% maiores que as atuais.
Segundo: essa ampliação na demanda geral ocorreria mesmo que o uso de energia por unidade de PIB caísse ao ritmo anualizado de 1,8%. Terceiro: os combustíveis fósseis devem atender a 84% do aumento no consumo mundial de energia no período de 2005 a 2030.
Quarto: os recursos petrolíferos mundiais são suficientes, diz a AIE, para atender à demanda, com uma base de US$ 60 por barril (preço de 2006). Mas a porcentagem da oferta mundial que virá dos membros da Opep subirá de 42% para 52%.
Quinto: a participação do carvão no comércio de energia deve crescer de 25% para 28% entre 2005 e 2030, devido ao seu papel na geração de eletricidade. China e Índia já respondem por 45% do uso mundial de carvão, e responderão por 80% da elevação na demanda do produto sob o "cenário de referência".
Sexto: cerca de US$ 22 trilhões serão necessários para investimento na infra-estrutura de suprimento, a fim de atender à demanda nos próximos 25 anos. Sétimo: mesmo com medidas radicais de redução do uso da energia por unidade de crescimento, a demanda mundial primária por energia cresceria 1,3% ao ano.
Oitavo: a China se tornará a maior consumidora de energia, superando os EUA, logo depois de 2010.
Nono: sob o "cenário de referência", as emissões de dióxido de carbono subirão 57% entre 2005 e 2030. China, EUA, Rússia e Índia contribuirão com dois terços dessa alta. A China se tornará o maior emissor mundial neste ano, e a Índia será o terceiro em 2015.
Décimo: mesmo sob o "cenário de políticas alternativas" mais radical proposto pela AIE, as emissões de dióxido de carbono só se estabilizariam em 2025.
O resto do mundo deseja desfrutar dos benefícios do uso mais intensivo de energia -privilégio de um sexto da humanidade. Mas esse desejo tem conseqüências sérias para o futuro econômico e ambiental.
A energia comercial é a base da vida contemporânea. À medida que a demanda por ela cresce, é fundamental garantir maior oferta e uso eficiente, limitando os danos ambientais. Os altos preços hoje vigentes são um começo. Inovações fundamentais e a imposição de taxas severas sobre emissões pesadas de gases causadores do efeito estufa serão passos inevitáveis no futuro.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

MARTIN WOLF é colunista do "Financial Times".


Texto Anterior: Usinas atribuem alta a imperfeições do mercado
Próximo Texto: Ipea muda foco de atuação, diz Pochmann
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.