São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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Acordo do G20 esbarra em planos de Obama

Presidente eleito elogia reunião, mas moratória adotada pelos países em relação a medidas protecionistas é vista como limitadora

Compromisso estipulado pelos líderes mundiais deve conflitar com a intenção de Obama de salvar a indústria automobilística nos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Apesar de ter se mantido estrategicamente distante da reunião do G20 no fim de semana em Washington, o presidente eleito Barack Obama ficou satisfeito com as ações indicadas no comunicado final. Um dos itens da carta de intenções dos líderes, porém, foi encarado como potencialmente limitador para seus planos no primeiro ano de governo.
É o item 13 do comunicado, que anuncia moratória de 12 meses em medidas protecionistas pelos países signatários. Se levado ao pé da letra, o compromisso pode inviabilizar o desejo de Obama de salvar a indústria automobilística local com dinheiro do governo, o que ele diz ser uma das prioridades do país. O presidente eleito reforçou essa opinião ontem.
Em entrevista ao programa "60 Minutes" que foi ao ar na noite de ontem na TV dos EUA, ao ser indagado sobre a ajuda a Detroit, Obama disse: "A indústria automobilística ter um colapso seria um desastre neste tipo de ambiente" de crise. "Então, acredito que temos de dar assistência a essa indústria."
Os republicanos em geral se opõem à ajuda. Ontem, o senador Richard Shelby chamou a indústria, que sofre com a queda nas vendas, a falta de crédito no mercado e a concorrência de estrangeiras mais eficientes, de "dinossauro" (leia texto à pág. B5). No sábado, o presidente George W. Bush havia dito que "um dos perigos durante uma crise dessas é que as pessoas vão começar a implantar políticas protecionistas".

Livre comércio
Mas não só. Obama fez campanha prometendo revisar acordos de livre comércio, entre eles o Nafta, o tratado dos EUA com o México e o Canadá, tão logo assuma o poder. Segundo sua proposta oficial, o presidente eleito acredita que "o Nafta e seu potencial foram exagerados para o povo americano" e diz que trabalhará "com os líderes do Canadá e do México para consertá-lo de maneira que beneficie os trabalhadores americanos."
Além disso, o democrata quer acabar com o incentivo fiscal dado a empresas que fechem suas operações nos EUA para abrir em outros países, privilegiar em contratos públicos companhias que dêem preferência a trabalhadores locais e implantar o chamado Ato do Empregador Patriota, que dá crédito fiscal a firmas que mantiverem ou aumentarem o número de empregos no país.
O item antiprotecionismo aprovado pelo G20 no sábado impede, entre outras coisas, que os países "levantem novas barreiras para investimento e comércio de bens e serviços, imponham novas restrições de exportação ou implementem medidas de estímulo de exportação contrárias às da Organização Mundial do Comércio".
Oficialmente, Obama elogiou a reunião como um todo. "O presidente eleito acredita que a cúpula é uma importante oportunidade para buscar uma resposta coordenada para a crise financeira global", disseram a ex-secretária de Estado Madeleine Albright e o ex-congressista Jim Leach em comunicado distribuído no sábado à noite. Os dois eram os enviados do comando obamista e se encontraram paralelamente com 15 dos 18 países participantes.
Segundo relatos de pessoas que participaram do encontro do G20 como assistentes dos líderes, a cláusula pró-livre comércio era ponto de honra do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e encontrou amplo apoio do norte-americano George W. Bush e de economias emergentes como o Brasil. O mais refratário a ela era o francês Nicolas Sarkozy.
Alguns analistas viram a inclusão do item como potencial armadilha deixada pela administração Bush para a que entra. "Acho que [o acordo do G20] põe Obama e a nova administração numa posição muito difícil", disse Steven Schrage, ex-membro do escritório de comércio exterior de Bush, hoje no Center for Strategic and International Studies.


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