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Acordo do G20 esbarra em planos de Obama
Presidente eleito elogia reunião, mas moratória adotada pelos países em relação a medidas protecionistas é vista como limitadora
Compromisso estipulado
pelos líderes mundiais deve
conflitar com a intenção de
Obama de salvar a indústria
automobilística nos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar de ter se mantido estrategicamente distante da
reunião do G20 no fim de semana em Washington, o presidente eleito Barack Obama ficou satisfeito com as ações indicadas no comunicado final.
Um dos itens da carta de intenções dos líderes, porém, foi encarado como potencialmente
limitador para seus planos no
primeiro ano de governo.
É o item 13 do comunicado,
que anuncia moratória de 12
meses em medidas protecionistas pelos países signatários.
Se levado ao pé da letra, o compromisso pode inviabilizar o
desejo de Obama de salvar a indústria automobilística local
com dinheiro do governo, o que
ele diz ser uma das prioridades
do país. O presidente eleito reforçou essa opinião ontem.
Em entrevista ao programa
"60 Minutes" que foi ao ar na
noite de ontem na TV dos EUA,
ao ser indagado sobre a ajuda a
Detroit, Obama disse: "A indústria automobilística ter um colapso seria um desastre neste
tipo de ambiente" de crise. "Então, acredito que temos de dar
assistência a essa indústria."
Os republicanos em geral se
opõem à ajuda. Ontem, o senador Richard Shelby chamou a
indústria, que sofre com a queda nas vendas, a falta de crédito
no mercado e a concorrência de
estrangeiras mais eficientes, de
"dinossauro" (leia texto à pág.
B5). No sábado, o presidente
George W. Bush havia dito que
"um dos perigos durante uma
crise dessas é que as pessoas
vão começar a implantar políticas protecionistas".
Livre comércio
Mas não só. Obama fez campanha prometendo revisar
acordos de livre comércio, entre eles o Nafta, o tratado dos
EUA com o México e o Canadá,
tão logo assuma o poder. Segundo sua proposta oficial, o
presidente eleito acredita que
"o Nafta e seu potencial foram
exagerados para o povo americano" e diz que trabalhará
"com os líderes do Canadá e do
México para consertá-lo de
maneira que beneficie os trabalhadores americanos."
Além disso, o democrata
quer acabar com o incentivo
fiscal dado a empresas que fechem suas operações nos EUA
para abrir em outros países,
privilegiar em contratos públicos companhias que dêem preferência a trabalhadores locais
e implantar o chamado Ato do
Empregador Patriota, que dá
crédito fiscal a firmas que mantiverem ou aumentarem o número de empregos no país.
O item antiprotecionismo
aprovado pelo G20 no sábado
impede, entre outras coisas,
que os países "levantem novas
barreiras para investimento e
comércio de bens e serviços,
imponham novas restrições de
exportação ou implementem
medidas de estímulo de exportação contrárias às da Organização Mundial do Comércio".
Oficialmente, Obama elogiou
a reunião como um todo. "O
presidente eleito acredita que a
cúpula é uma importante oportunidade para buscar uma resposta coordenada para a crise
financeira global", disseram a
ex-secretária de Estado Madeleine Albright e o ex-congressista Jim Leach em comunicado distribuído no sábado à noite. Os dois eram os enviados do
comando obamista e se encontraram paralelamente com 15
dos 18 países participantes.
Segundo relatos de pessoas
que participaram do encontro
do G20 como assistentes dos líderes, a cláusula pró-livre comércio era ponto de honra do
primeiro-ministro britânico,
Gordon Brown, e encontrou
amplo apoio do norte-americano George W. Bush e de economias emergentes como o Brasil. O mais refratário a ela era o
francês Nicolas Sarkozy.
Alguns analistas viram a inclusão do item como potencial
armadilha deixada pela administração Bush para a que entra. "Acho que [o acordo do
G20] põe Obama e a nova administração numa posição muito
difícil", disse Steven Schrage,
ex-membro do escritório de comércio exterior de Bush, hoje
no Center for Strategic and International Studies.
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