São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Brasil vira importador de carros


Compras de Argentina, Coreia e México levam o Brasil a ter deficit de mais de US$ 1,3 bi no comércio de automóveis

É UM FATO raro, mas evidente em estatísticas mensais, para não dizer visível nas ruas de São Paulo e Rio: o Brasil deve ter neste ano um baita deficit na balança comercial de automóveis de passageiros. Isto é, o valor que o país vai gastar na importação de veículos de passeio deve ser muito superior ao que vai faturar na exportação. Já houve deficit no ano passado.
De janeiro a setembro, a diferença entre o valor exportado e importado foi de cerca de US$ 251 milhões (utiliza-se o dado de janeiro a setembro para facilitar as comparações). O deficit de 2008 correspondia a 6,7% do valor das exportações de carros.
Neste ano, até setembro, o deficit foi de US$ 1,37 bilhão, o equivalente a 61% do valor exportado pelo Brasil.
O outro deficit mais recente havia ocorrido em 1999, ano em que, apesar da desvalorização do real, as exportações não reagiram. Trata-se de um fenômeno notado frequentemente, dizem os economistas. As exportações recuperam-se devido a uma desvalorização depois que os preços se estabilizam e os exportadores reorganizam suas estratégias.
O que tem acontecido com a balança comercial do setor de automóveis? Em parte, deve ser o real forte, que barateia a importação de carros e encarece a exportação. Além do mais, o país está mesmo algo mais rico, não apenas por causa da moeda valorizada. Em 2007, 11,3% dos automóveis licenciados no país eram importados, segundo a associação das montadoras (dado para o ano inteiro). Em 2008, eram 13,3%. Até outubro de 2009, são 14,9%. Mas enriquecimento e câmbio não parecem explicar a história inteira.
O valor da exportação brasileira de carros caiu 40,5% de 2008 para 2009. A queda do valor das exportações foi semelhante em cada grande mercado brasileiro de carros, Argentina (53,5% do valor das exportações de carros), Alemanha (22%), México (13%). Pode-se dizer que, qualquer que tenha sido o motivo da baixa de compra de carros brasileiros, eles afetaram esses mercados de modo semelhante. A crise provavelmente foi o motivo principal.
Mas o valor das importações brasileiras de veículos feitos na Argentina caiu apenas 6,8%. No México, 7,5%. Na Coreia do Sul, 2,3%. No caso da Alemanha, a baixa foi ainda pequena, 6,5%. Mas as compras de importados do Japão (queda de 36%), do Reino Unido, (44%) e dos Estados Unidos (26%) tombaram mais ou menos na dimensão da queda das exportações brasileiras. A crise não explica esses números díspares.
Com Argentina e México o Brasil tem acordos comerciais, praticamente intermediados e firmados pelas próprias montadoras. As importações do México subiram da casa de US$ 340 milhões em 2007 para US$ 640 milhões em 2009 (o Brasil importou, neste ano, US$ 291 milhões em automóveis de passageiros do México). O "desequilíbrio" com a Argentina cresceu, em parte devido à estratégia das montadoras, em parte devido à tolerância com os vizinhos. O caso da Coreia é o mais aberto. Obviamente, seus carros fazem sucesso, a publicidade dos coreanos é agressiva e parece que seus preços também. O Brasil importou US$ 174,5 milhões em carros coreanos, em 2007 (sempre de janeiro a setembro). Em 2009, já gastou US$ 632 milhões em Hyundais, Kias etc.

vinit@uol.com.br


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