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Setor automotivo tem 1º deficit
desde 98
Valorização do câmbio e crise provocam saldo negativo de US$ 2,5 bi na balança comercial entre janeiro e setembro
Montadoras representam US$ 1,5 bilhão do deficit total,
que inclui ainda autopeças e máquinas agrícolas e
rodoviárias
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O setor automotivo terá neste ano, como sequela da crise
global e efeito da valorização do
câmbio, seu primeiro deficit na
balança comercial desde 1998.
A retração nos principais
mercados de exportação do
país, combinada com o avanço
das importações de veículos no
ano, já provocou um saldo negativo de US$ 2,5 bilhões entre
janeiro e setembro. A conta leva em consideração também
autopeças e máquinas agrícolas
e rodoviárias.
Só as montadoras acumulam
deficit de US$ 1,5 bilhão.
Em volume, foram exportados 371 mil veículos (incluindo
carros de passeio, caminhões e
ônibus) nos dez primeiros meses do ano, uma queda de 42%
ante igual período de 2008. Já a
entrada de importados avançou 21,6% e chegou a 386 mil.
"Naturalmente, teremos deficit neste ano por conta da
queda drástica das exportações
de autoveículos", diz o presidente da Anfavea (associação
das montadoras), Jackson
Schneider.
A crise provocou encolhimento nos principais mercados
de exportação brasileiros, como Argentina e México.
De acordo com Schneider, a
reversão do quadro deficitário
dependerá, em primeiro lugar,
do retorno desses mercados e,
em segundo, da capacidade que
o país terá para garantir competitividade no exterior.
Ele estima que a demanda
global começará a reagir a partir do segundo trimestre de
2010. Mas a indústria terá de
reconquistar o espaço perdido.
"A valorização do real deixa
os produtos menos competitivos. Mas há outras questões estruturais que afetam a competitividade, como os problemas
tributários, de logística, além
do custo de capital. Tudo isso
demanda tempo para resolver."
"E o mercado de exportação
é muito difícil para entrar, mas
muito fácil para sair."
O setor de autopeças já vai
para o terceiro ano consecutivo
de deficit. Neste ano, até setembro, o saldo negativo chega a
US$ 1,76 bilhão.
Para o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, a redução
nas alíquotas de importação de
peças foi o primeiro golpe na
indústria, que já havia consolidado uma balança comercial
superavitária.
"Com a diminuição do imposto, há cerca de quatro anos,
as subsidiárias instaladas aqui
passaram a importar muito
mais das matrizes em vez de
produzir internamente."
E a valorização cambial acabou por intensificar esse processo, já que os importados ficam mais baratos", acrescenta.
Ao mesmo tempo em que
houve aumento de produtos estrangeiros no país, caíram as
exportações do setor.
Em 2008, as vendas externas
respondiam por 22% da produção. Para este ano, a previsão do
Sindipeças é que encerrem com
uma fatia de 12%.
Se ainda não há um processo
evidente de desindustrialização, graças ao aquecimento do
mercado interno de veículos, os
investimentos do setor e a geração de empregos diminuem, segundo Butori.
O deficit no setor automotivo, tradicionalmente superavitário, é um fato emblemático e
de maior gravidade para a economia como um todo, afirma
Augusto Castro, diretor da AEB
(Associação de Comércio Exterior do Brasil).
"A indústria automotiva era
muito importante para a geração de superavit na balança comercial. O efeito [do deficit] é
que a pauta de exportações fica
mais e mais dependente das
commodities." Castro argumenta que é mais difícil para o
país planejar as exportações de
commodities, já que não é formador de preços nem volumes.
LEIA MAIS na coluna de Vinicius Torres Freire
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