São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Município procura obras para usar recursos ganhos com exploração de gás

DO ENVIADO A VILLA MONTES

O prefeito da pequena cidade de Villa Montes, Rubén Vaca, tem um problema de fazer inveja a seus colegas da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul: conseguir gastar todo o dinheiro disponível.
"Aqui é o Kuait da Bolívia", disse Vaca, em entrevista à Folha no seu gabinete, em alusão ao fato de a província de Gran Chaco, onde está a cidade, reunir as principais reservas de gás, entre as quais os megacampos de San Alberto e San Antonio, os maiores do país e operados pela Petrobras.
Apesar de a imensa riqueza da região já ser explorada há mais de dez anos, o aumento dos recursos para Villa Montes, explica o prefeito, é recente e teve origem tanto no aumento de impostos pagos pelas petroleiras como numa lei de 2005 assinada pelo então presidente Carlos Mesa. Segundo a lei, a província passou a ter direito a 45% da participação tributária de 11% do departamento de Tarija na comercialização do gás.
Segundo ele, o orçamento para obras pulou de US$ 1 milhão, em 2004, para US$ 7 milhões neste ano e chegará a US$ 10 milhões em 2007, quando a arrecadação crescerá ainda mais por causa da alta do preço do gás vendido à Argentina e dos novos contratos de exploração com as petroleiras, ambos negociados pelo governo Evo Morales.
O resultado é que a região, que inclui outras duas cidades, virou grande canteiro de obras: várias ruas de Villa Montes, que até há pouco só tinha a rua principal pavimentada, estão sendo asfaltadas. Há ainda duas estradas em construção, uma em direção ao Paraguai e outra até a capital do departamento, Tarija.
Vaca disse que o aumento de arrecadação mudou a relação com a Petrobras. "Antes, a gente fazia praticamente o papel de pedinte para negociar um projeto de US$ 50 mil, US$ 100 mil. Agora, temos dinheiro próprio, não precisamos dela."
Apesar dos investimentos, falta muito para transformar essa pequena cidade de 30 mil habitantes. Quase todas as suas ruas empoeiradas continuam sem pavimentação, e a maioria das casas é construída de forma precária. Além disso, uma das principais atividades da cidade, a pesca no rio Pilcomayo, está acabando por causa da superexploração.
"Aqui as coisas melhoram, mas bem devagar", diz Maria Paulina Romero, 46, que em 2002 trabalhou por oito meses como cozinheira para a Petrobras. Com o dinheiro acumulado nesse período, ela comprou um freezer e utensílios domésticos, o suficiente para transformar a tenda de venda de refresco num pequeno restaurante dentro do mercado de rua de Villa Montes. Ali, serve diariamente cerca de 60 refeições, a R$ 1,5 cada uma. (FM)


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