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Contrato nada muda em campo da Bolívia
San Antonio, maior produtor de gás da Petrobras, não teve rotina alterada mesmo com ameaças e problemas diplomáticos
Novo contrato de operação da unidade entrou em vigor há duas semanas, mas a rotina continua a mesma, afirmam os trabalhadores
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A VILLA MONTES
Desde que o presidente da
Bolívia, Evo Morales, invadiu
um campo da Petrobras para
anunciar a nacionalização dos
hidrocarbonetos, em 1º de
maio, foram seis meses de crise
diplomática, ameaças de lado a
lado e reuniões intermináveis
até chegar à assinatura dos contratos, no final de outubro. Mas
o fato é que, após a entrada em
vigor dos novos acordos, nada
mudou no dia-a-dia da maior
unidade de produção de gás nos
22 países em que a empresa
brasileira opera.
Na quinta-feira, a reportagem da Folha esteve no megacampo de San Antonio, na província de Gran Chaco, departamento de Tarija, sul da Bolívia.
Trata-se de uma espécie de
Itaipu do gás natural, responsável por cerca 25% do abastecimento desse combustível no Brasil. Na rotina ali, asseguram
os funcionários, nada mudou
apesar de o novo contrato de
operação da unidade estar em
vigor há duas semanas.
"Até o momento, ainda não
houve instruções oficiais, nós
continuamos com o mesmo esquema de trabalho, com a exceção de algumas ações do tipo social e voluntária", disse o boliviano Victor Paz, coordenador de San Antonio.
"Vamos ver se continuamos
fazendo [trabalhos sociais].
Não é que essa área tenha sido
paralisada, mas houve um adiamento de novos compromissos", afirmou.
A assinatura dos contratos e
a rotina inalterada, por sua vez,
devolveram um pouco da tranqüilidade aos funcionários de
San Antonio. "Eles estavam
muito nervosos nos últimos
meses. Agora, abaixou um pouco, mas o estresse continua",
conta a professora de ginástica,
que dá aulas diárias numa bem
equipada academia instalada
na base. "A preocupação, claro,
é perder o emprego", afirma
ela, que pediu para não ser
identificada.
Outro funcionário, encarregado da manutenção da processadora de gás, confirma.
"O pessoal acha que o Evo sempre
tem um ás escondido na manga, com ele nunca se sabe." O
funcionário também pediu para não ter seu nome revelado.
A falta de mudanças até agora pode ser explicada, em parte,
porque as negociações não acabaram -ainda falta definir a
aplicação de vários aspectos
técnicos do novo contrato, que
vive uma disputa semântica
entre a Petrobras, que o classifica de "risco compartilhado", e
o governo boliviano, que diz ser
de "prestação de serviços".
Para o analista boliviano
Carlos Miranda, a Petrobras
tem mais razão do que a Bolívia. "Os novos contratos têm
80% de reforma tributária e
20% de nacionalização", afirma, enfatizando o fato de que,
essencialmente, as empresas
passarão a pagar mais impostos a partir de agora.
Cozinheiros e operadores
Apesar de ser a maior unidade de produção da Petrobras,
San Antonio, distante 30 km de
Villa Montes, tem pouquíssimos funcionários: para monitorar o envio de cerca 25% do gás natural consumido no Brasil, não são necessários mais do
que cinco operadores. É menos
do que emprega a cozinha,
mantida por 11 funcionários a
cada turno.
Considerado uma das unidades de produção de gás mais
modernas do mundo, o campo
de San Antonio dispõe de apenas cerca de 180 pessoas, divididas em dois turnos, que variam de 14 a 21 horas seguidas
de trabalho, intercalados pelo
mesmo período de descanso.
Ou seja, há apenas 90 funcionários por turno, e isso porque
uma parte está empregada na
perfuração do quinto poço de
gás do campo, o Sábalo 5, um
trabalho temporário.
O número de funcionários
diretos da Petrobras é menos
da metade: apenas 22, sendo 11
em cada turno -exatamente a
mesma quantidade empregada
na cozinha. Desses, apenas dois
são brasileiros.
San Antonio só empregou de
forma significativa durante a
sua construção, quando chegou
a ter 2.500 trabalhadores.
O complexo, erguido entre
2001 e 2002, custou cerca de
US$ 220 milhões e inclui obras
de grande porte, como uma
ponte sobre o rio Pilcomayo,
um túnel de dois quilômetros
sob um parque nacional por
onde passa o gasoduto e um aeroporto.
Os repórteres FABIANO MAISONNAVE e
EDUARDO KNAPP viajaram a San Antonio a
convite da Petrobras Bolívia.
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