São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Fed acirra divergências entre Fazenda e BC

A decisão surpreendente e histórica do Fed de praticamente zerar a taxa básica de juros deve acirrar ainda mais as divergências entre a Fazenda e o Banco Central na condução da política monetária. A avaliação da Fazenda é que o BC já deveria ter seguido o mesmo caminho na reunião do Copom da semana passada, quando decidiu manter a Selic em 13,75%.
Os técnicos da Fazenda acham que o BC errou ao não ter baixado os juros e a conseqüência será uma desaceleração mais forte da economia neste e no próximo trimestre. Para a Fazenda, ao contrário do que tem dito o presidente do BC, Henrique Meirelles, o Brasil não é uma ilha isolada do mundo para manter a taxa básica de juros no atual patamar.
Para a Fazenda, a decisão do BC teve um caráter muito mais político do que técnico. O BC quis dar uma demonstração de força e de independência diante das pressões do governo para baixar os juros, quando a decisão tinha que ser técnica.
Não é, na opinião da Fazenda, a primeira vez que o BC erra neste ano. Em abril, o BC também errou ao subir os juros com receio da alta dos preços das commodities. Na época, os técnicos da Fazenda diziam que essa alta seria temporária, o que acabou se confirmando.
O BC, por sua vez, está convencido de que o Brasil terá uma desaceleração muito forte neste e no próximo trimestre, o que deve ficar claro na ata do Copom que será divulgada amanhã, e deve baixar o juro na reunião do dia 21 de janeiro.
O que o BC avalia é que a situação no Brasil é diferente da dos Estados Unidos. Os EUA enfrentam um problema de deflação, e as previsões são que o PIB no quarto trimestre deve sofrer uma queda de 5%, sendo que o país já vem de um processo de desaceleração forte.
No Brasil, ao contrário, para o BC, a economia estava crescendo em um ritmo muito forte até setembro. A inflação caiu nas últimas semanas, mas ainda não cedeu o suficiente para iniciar o processo de redução dos juros. A queda do dólar é um fator que contribui para baixar os juros, já que o efeito da valorização da moeda americana sobre a inflação era a maior preocupação do BC.
Para o BC, dos três fatores que influenciam a demanda, que são o crédito, o emprego e a renda, apenas o primeiro foi muito atingido pela crise. O governo está tentando evitar ao máximo que o emprego e a renda sejam afetados. Se isso ocorrer, será inevitável uma nova onda mais forte de desaceleração. O que se espera é que os cálculos e o "timing" do Banco Central estejam corretos.

NA BAGAGEM

A rede de lojas de intercâmbio e turismo jovem CI, que esperava registrar um crescimento de 41% neste ano, vai fechar 2008 com uma alta de 25%. Em 2007, a rede registrou um crescimento de 39%. Mesmo assim, de acordo com o diretor Celso Garcia, a empresa está comemorando. "No cenário que estamos passando, levando em consideração esse câmbio, que afeta principalmente aqueles que estão viajando, o crescimento que tivemos é muito satisfatório", afirma. Para o próximo ano, a expectativa é crescer entre 15% e 20%, segundo Garcia. A rede manteve seu plano de expansão e abriu, no segundo semestre, 11 novas unidades, totalizando 69 lojas.

UNIÃO
João Carlos Basilio, presidente da Abihpec (associação da indústria de higiene, perfumaria e cosméticos), e associações representantes de mais de 60 setores discutiram ontem, em reunião da Apex-Brasil, a criação de um movimento para propor ao presidente Lula uma agenda de reivindicações relacionadas à tributação do comércio exterior.

PANOS QUENTES
O comércio atacadista de tecidos da região da rua 25 de Março, em São Paulo, registrou um crescimento de 3% nas vendas no segmento de cama, mesa e banho, na primeira quinzena de dezembro, na comparação com igual período de novembro, segundo levantamento do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo.

CONTABILIDADE
O livro "IFRS - Implementação das Normas Internacionais de Contabilidade e da Lei nº 11.638 no Brasil" (editora Quartier Latin, 296 pág.) será lançado hoje na Livraria da Vila. Escrito por Kieran John McManus, sócio da PricewaterhouseCoopers no Brasil, a obra traz detalhes da conversão para a IFRS -norma internacional de contabilidade.

EFEITO PRÉ-SAL
Edison Lobão (Minas e Energia) viajou ontem à noite para Londres para participar, na sexta, da reunião de ministros de energia dos maiores produtores e consumidores de petróleo do mundo, uma Opep ampliada. É nessa reunião que deve ser decidido um corte na produção de petróleo dos países da Opep para enfrentar a forte queda de preço do produto dos últimos meses. Em junho, Lobão também participou da reunião do mesmo grupo na Arábia Saudita, e, na época, o que se discutiu foi a alta dos preços.

ASFALTO:
CONSUMO BATE RECORDE EM 2008, MAS SETOR CONSIDERA POUCO
O Brasil está fechando o ano com um consumo de 2,03 milhões de toneladas de asfalto, o maior já registrado no país. Até então, o recorde era o uso de 1,97 milhão de toneladas em 1998. O dado foi apresentado na segunda, em reunião do setor na Fiesp. Para o presidente do Sinicesp (sindicato da indústria da construção pesada), Manuel Rossitto, o número é pequeno se comparado à expansão da frota de veículos.

PEQUENAS
A Caixa contratou R$ 22,4 bilhões em crédito para as micro e pequenas empresas desde janeiro até o dia 12 de dezembro deste ano. Do inicio de novembro até 12 de dezembro a Caixa emprestou R$ 1,5 bilhão para MPEs.

TIJOLO
José Serra assinou decreto para estimular crédito na compra de casa própria de famílias com renda de até dez salários mínimos em SP. A lei institui o FGH (Fundo Garantidor Habitacional), criado para estimular a participação privada nos investimentos habitacionais sociais. Na prática, a medida permite ao governo ser avalista nas aquisições ou financiamentos feitos para famílias de baixa renda por agentes imobiliários privados.

NA PRATELEIRA
A rede de farmácias Pague Menos investirá R$ 800 mil na criação de três marcas próprias, com produtos de perfumaria, curativos e higiene bucal. A empresa estima uma produção média mensal de 200 mil unidades, desenvolvidas em parceria com sete fabricantes.

EM DEBATE
Os economistas Paulo Nogueira Batista Jr., Marcio Pochmann, Marcos Cintra e o professor de direito tributário Eurico Marcos Diniz de Santi participam amanhã de seminário sobre a reforma tributária, na Direito GV. Na pauta, a viabilidade do projeto de emenda constitucional proposto pelo deputado Sandro Mabel (PR-GO) e uma agenda positiva de soluções alternativas.

Crise aumenta ataque de hacker, afirma pesquisa

Uma pesquisa da X-Force, equipe da IBM especializada em segurança, aponta que os ataques de hackers à base de dados das empresas aumentaram com a crise econômica internacional. As invasões passaram de 1,8 bilhão por dia em setembro para 2,5 bilhões neste mês em todo o mundo, segundo informações de 4.000 empresas entrevistadas pela X-Force.
"À medida que as empresas cortam seus gastos, ameaças internas aumentam e os hackers aproveitam a situação para criar oportunidades", afirma a empresa, em comunicado.
A X-Force cita dados de uma pesquisa do Instituto Ponemon, que calcula o custo médio de uma violação de computadores de US$ 6,3 milhões para as corporações.
"Isso indica que o custo de um incidente pode exceder significativamente o valor investido para garantir a segurança da infra-estrutura", avalia a X-Force.


com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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