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LIBERALIZAÇÃO À BRASILEIRA
Segundo estudo da UFRJ, crescimento da economia entre 1990 e 2001 não compensou os efeitos da modernização tecnológica
Tecnologia cortou 10,8 milhões de empregos
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A modernização tecnológica do
Brasil a partir da abertura da economia, em 1990, resultou na eliminação de 10,76 milhões de empregos até 2001. As importações
provocaram a redução de mais
1,54 milhão de postos de trabalho.
Os números foram obtidos com
base em levantamento do Grupo
de Indústria e Competitividade
do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pedido da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), que patrocina
um estudo latino-americano sobre emprego e produtividade. O
mesmo estudo foi encomendado
ao Chile, à Colômbia e ao México.
O fim de 12,3 milhões de empregos em 11 anos no país fez com
que o saldo entre criação e eliminação de vagas nesse período fosse positivo em 3,24 milhões de
postos de trabalho. A demanda
doméstica provocou a criação de
11,96 milhões de empregos, e as
exportações, a criação de mais
3,58 milhões de vagas.
Segundo David Kupfer, coordenador do grupo, apesar de os dados demonstrarem a variação de
1990 a 2001, o total de 11 anos é
computado porque os dados referentes a 1990 são do final do ano.
Saldo insuficiente
"A criação de 3,24 milhões de
empregos em 11 anos não é nada,
se consideramos que de 1,5 milhão a 1,8 milhão de pessoas entram no mercado de trabalho por
ano no Brasil", afirma Kupfer.
Esses números consideram 39
setores da economia brasileira,
agrupados em outros dez setores,
com base em dados do IBGE,
atualizados pelo grupo. Dos dez
setores, quem mais fechou vagas
por mudança tecnológica foi o setor agropecuário, com 8,98 milhões de postos. Seguem: indústria manufatureira (3,63 milhões),
administração pública (902 mil) e
construção civil (757 mil).
A produtividade do trabalho na
agropecuária cresceu de 1990 a
2001, em média, 5,12% ao ano; na
indústria, 2,52%; na administração pública, 1,21%, e, na construção civil, 1,23%, segundo o Instituto Brasileiro de Qualidade e
Produtividade (IBQP). Essa taxa
média anual chegou a quase 9%
em alguns setores - caso da indústria de refino de petróleo, que
atingiu 8,8%. Apesar de o aumento da produtividade de setores da
economia ser comemorado pelo
país, já que significa melhora das
condições para competir tanto no
país como no mercado internacional, os números obtidos pelo
estudo da UFRJ preocupam, segundo economistas consultados.
"O fato é que, no Brasil, o crescimento da economia não compensa os efeitos da modernização tecnológica", afirma Kupfer. Esse
quadro, diz, vale também para os
anos 2002, 2003 e para 2004, pois
o processo de modernização de
muitos setores do país ainda está
longe de ser concluído.
Máquinas agrícolas
A agricultura, um dos setores
que mais eliminaram empregos
em 11 anos, diz Kupfer, vai continuar com o seu processo de modernização. O percentual de pessoal ocupado nesse setor no Brasil
é de cerca de 26% do total, muito
maior do que o apresentado em
países desenvolvidos, entre 6% e
7%. A tendência do país é aproximar-se desses números.
O setor de serviços, que, pelo estudo da UFRJ, é um dos que mais
criaram vagas no período entre
1990 e 2001, já deve intensificar o
processo de modernização, o que
deve resultar, portanto, na diminuição de postos de trabalho.
"O país tem, assim, um enorme
desafio a enfrentar: como continuar com o seu processo de modernização, necessário para competir aqui e lá fora, e criar vagas? O
presidente Lula prometeu criar 10
milhões de empregos no seu governo. Isso pode não ser tão difícil. O difícil mesmo é não eliminar
outros 10 milhões", diz Kupfer.
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