São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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Na década, indústria fecha 805 mil vagas

Divulgação
Linha de produção na indústria automobilística; mudança de tecnologia causou o fechamento de 3,6 milhões de postos de trabalho

De 90 a 2001, foram fechadas 4,3 milhões de vagas, devido à inovação tecnológica e às importações, e criadas 3,5 milhões

DA REPORTAGEM LOCAL

De 1990 a 2001, a indústria brasileira fechou 804,8 mil postos de trabalho devido à modernização tecnológica e às importações, segundo levantamento do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ. Apenas nove setores industriais, de um total de 28, conseguiram criar mais vagas do que reduzi-las no mesmo período.
A indústria têxtil fechou 180,4 mil empregos e lidera a lista de setores industriais que mais reduziram postos de trabalho. Em seguida vêm a indústria de mineral não metálico (98,6 mil), a de material elétrico (80,5 mil), a de equipamentos eletrônicos (78,3 mil), a de siderurgia (71,8 mil), a de artigos de vestuário (60,3 mil) e a química (45,2 mil).
A diminuição de vagas desses 28 setores industriais por mudança tecnológica chegou a 3,63 milhões e, por importações, a 684,7 mil. A demanda doméstica resultou em um aumento de 2,76 milhões de vagas e as exportações, de 748,4 mil. Isto é, o saldo é negativo em 804,8 mil vagas no período.
No setor industrial, há dúvidas se o fechamento de postos se manterá nesse ritmo ou diminuirá. "A grande questão agora é identificar quais os setores que já completaram o ciclo de modernização e os que precisam concluí-lo. É difícil dizer em que situação está cada setor", diz David Kupfer, coordenador do grupo.
Kupfer acredita que, até o final deste ano, o processo mais intenso de eliminação de vagas por mudança tecnológica estará bem perto de ser concluído em alguns setores. Isso significa que o efeito demanda doméstica pode ter peso mais positivo no saldo entre criação e eliminação de vagas.
Na sua análise, o que pode mesmo elevar o emprego são políticas de governo dirigidas às demandas sociais, como construção habitacional, saneamento, saúde, educação e agricultura familiar. Os serviços sociais e os prestados às empresas, diz, também podem criar mais empregos neste ano.
Para José Márcio Camargo, professor de economia da PUC-Rio, a indústria ainda vai eliminar vagas por mudança tecnológica por alguns anos. Os setores que devem minimizar esse processo e, portanto, criar mais postos, diz, são o de serviços em geral e o de serviços sociais (saúde e educação).
"Mesmo que a economia cresça, ela será capaz de aumentar a produção sem criar muito emprego", afirma Jorge Arbache, professor de economia da UnB (Universidade de Brasília).
Para Kerlyng Cecchini, economista do IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade), o processo de modernização tecnológica não começou de uma hora para outra e também não vai terminar dessa forma. "As empresas vão continuar com seu processo de modernização. Cabe à sociedade criar formas criativas para a geração de empregos."
Ganhos de produtividade são sempre bons para um país, o que significa usar menos insumos ou mão-de-obra e, portanto, reduzir custos. "Só que o país tem de compensar esse ganho com mais empregos para exportar e para atender à demanda doméstica. E isso, infelizmente, não ocorre no Brasil", diz Camargo.
(FÁTIMA FERNANDES)


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