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Para Lessa, faltaram garantias sólidas
Presidente do BNDES diz que novos problemas podem surgir
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Carlos Lessa, disse à Folha que a atual administração do banco "herdou uma
quantidade grande de problemas" nos empréstimos concedidos às empresas privatizadas no
governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
"Sempre disse que, quando herdamos a carteira ativa das operações da privatização, herdamos
uma quantidade grande de problemas, mas que o maior deles [o
empréstimo à AES] já foi resolvido. Creio que, felizmente, de boa
maneira", afirmou.
Indagado se emprestaria dinheiro a essas empresas na época
da privatização, respondeu: "Talvez. Se tivesse uma ordem da Presidência da República para fazer
isso, eu cumpriria a ordem".
Lessa ressaltou que o problema
maior foi o modo como foram feitos os contratos. De acordo com
ele, a exigência de garantias foi
"muito frágil".
"Eu até emprestaria. Mas exigiria garantias muito mais sólidas
do que aquelas que estão nos contratos originais. Nunca aceitaria
fazer uma operação com empresas de papel [sem ativos reais para
garantir o empréstimo] tendo como única garantia as ações dessa
empresa de papel", disse.
Lessa se referiu à Eletropaulo,
cujo controle pertence a uma subsidiária da AES sediada num paraíso fiscal. Foram as ações dessa
empresa que garantiram o empréstimo para a compra da distribuidora paulista. A dívida da AES
com o banco é de US$ 1,2 bilhão.
Pelo acordo, o BNDES trocou
metade do débito de US$ 1,2 bilhão por participações em empresas controladas pela AES, tornando-se sócio da companhia. Para
gerir os ativos, foi criada uma empresa, a Brasiliana, cujo controle é
dividido entre o BNDES (54%) e
AES (46%).
Os outros US$ 600 milhões serão pagos pela AES parceladamente. Lessa disse que, resolvido
esse problema, o banco tem apenas mais um caso grave a ser
equacionado.
Trata-se da inadimplência do
consórcio liderado pela AES, que
tomou um empréstimo para
comprar 32% da Cemig. Por esse
motivo, o BNDES provisionou o
valor total da dívida em seu balanço: US$ 700 milhões.
Lessa não descarta que "novos
problemas vão surgir". Sem citar
nomes, disse apenas que todos serão "resolvidos" pelo banco. "As
operações com as múltis muitas
vezes são interessantes ao país,
mas têm de ser operadas com
muito cuidado para não termos
surpresas do tipo Enron, WorldCom, AES e Parmalat."
Nos três primeiros casos citados
por Lessa, as companhias adquiriram empresas durante o processo de privatização no Brasil. Todas elas tiveram problemas financeiros -em alguns casos, deflagrados por escândalos contábeis.
"A idéia de que basta ser um investimento do exterior para a
gente soltar foguetes muitas vezes
acaba se revelando em veneno
puro", afirmou.
Para comentar os empréstimos
das privatizações, a Folha tentou
localizar dois ex-presidentes do
BNDES: Luiz Carlos Mendonça
de Barros e Francisco Gros. O primeiro não respondeu a ligação. O
segundo não foi localizado.
Provisões
O BNDES informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que não poderia dar números sobre provisões do banco
para créditos de difícil recebimento nem quanto dos empréstimos
concedidos a companhias privatizadas retornaram aos cofres do
BNDES. O motivo alegado é o sigilo bancário.
O BNDES só comenta dívidas
com autorização dos clientes ou
depois que os próprios divulgam
os dados. Quando o caso torna-se
de interesse público (caso de falência ou concordata de uma empresa, por exemplo) ou sob investigação de autoridades, o banco
também costuma se pronunciar.
(PEDRO SOARES)
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