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Governo injeta US$ 15,6 bi em privatizadas
Empréstimos feitos pelo BNDES a 101 empresas vendidas pela União correspondem a 14,8% do total arrecadado com privatizações
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal injetou, por
meio de empréstimos do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), US$
15,6 bilhões em 101 empresas que
foram privatizadas ou das quais a
União deixou de ser acionista.
Levantamento inédito da Folha,
feito a partir de dados reservados
do banco, permitiu quantificar o
valor que cada uma dessas empresas recebeu em empréstimos
no período de janeiro de 1992 a
setembro de 2003.
A soma dos recursos corresponde a 14,8% dos US$ 105,5 bilhões que a União e os Estados arrecadaram com privatizações e
com a venda de participações de
estatais desde 1991.
Há casos de empresas que já receberam do BNDES muito mais
dinheiro do que renderam seus
leilões de privatização.
A Barcas S.A., por exemplo, que
opera a travessia marítima entre o
Rio de Janeiro e Niterói, foi vendida por R$ 38,5 milhões em 1998
(na época a cotação do real era
quase paritária com o dólar) e já
recebeu US$ 77 milhões em empréstimos públicos.
A petroquímica Oxiteno rendeu
à União US$ 53 milhões em 1993,
quando o governo vendeu sua
participação acionária (minoritária) na empresa, mas já conseguiu
do BNDES, desde então, US$ 98
milhões.
Numa conta conservadora, utilizando-se a taxa de câmbio de R$
2,80 por dólar, o valor total repassado pelo BNDES às ex-estatais é
equivalente a R$ 43,8 bilhões.
Apenas para efeito de comparação, é mais de cem vezes o orçamento anual do Ministério Extraordinário da Segurança Alimentar, responsável pelo Fome
Zero, que tem R$ 417 milhões previstos para 2004.
O montante também é maior do
que a soma dos recursos dos ministérios da Saúde (R$ 36,5 bilhões) e da Assistência Social (R$
8,2 bilhões) no Orçamento da
União de 2004.
Há também casos de empresas
que receberam em empréstimos
do BNDES bem menos do que seu
valor de venda. A Embratel, por
exemplo, comprada em 1998 pela
americana MCI por cerca de US$
2 bilhões, captou US$ 21 milhões
no BNDES após a venda.
A empresa que mais obteve recursos do BNDES foi a Embraer,
fábrica de aeronaves com sede em
São José dos Campos (SP). A
companhia recebeu US$ 4,15 bilhões entre 1995 e 2003.
Em seguida, aparecem a Usiminas (Usina Siderúrgica de Minas
Gerais), com U$ 1,575 bilhão; a
Brasil Telecom, com US$ 1,405 bilhão; e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), com US$ 723
milhões.
Completam a lista das dez empresas privatizadas que mais receberam recursos do BNDES a Eletropaulo Metropolitana, a Light, a
Telemar Norte Leste S.A., a Acesita, a Companhia Paulista de Força
e Luz e a Companhia Siderúrgica
de Tubarão.
Somados, esses dez grupos obtiveram empréstimos de US$ 10,7
bilhões do BNDES, o que equivale
a 68,5% de tudo que foi injetado
nas empresas pós-privatização.
Reestruturação e produção
Segundo o BNDES, os recursos
não foram emprestados para a
compra das empresas, mas sim
para reestruturar as finanças e incentivar a produção e a exportação das companhias após o processo de privatização.
Dos US$ 15,6 bilhões concedidos, apenas US$ 300 milhões ingressaram na contabilidade das
empresas no ano em que foram a
leilão. O restante dos aportes foi
feito em anos posteriores à venda.
O setor que mais recebeu recursos do banco foi o de transportes:
US$ 4,5 bilhões (29% do total de
empréstimos). Fundamentalmente por conta dos US$ 4,1 bilhões repassados à Embraer.
As empresas de telecomunicações receberam US$ 3,7 bilhões
(24% do total). A seguir vêm os
setores de siderurgia, com US$ 3,5
bilhões (22,5%); elétrico, com
US$ 3 bilhões (19%); e, por último, petroquímico, com US$ 831
milhões (5,5%).
Essa proporção não segue a da
arrecadação do governo com as
privatizações. Nesse caso, transportes representam apenas 2%
dos US$ 105,5 bilhões amealhados em leilões e vendas de participações acionárias.
O setor de telecomunicações lidera a lista, com 32% do arrecadado, seguido por energia elétrica
(30%), mineração e siderurgia
(16%), petróleo e gás (7%) e petroquímico (4%).
Teles
A grande maioria das teles privatizadas no leilão de 98 recorreu
ao banco. Foram 47 empresas. A
que recebeu mais foi a Brasil Telecom (aporte de US$ 1,4 bilhão).
Desse grupo, a que tomou menos
empréstimos foi a Tele Norte Celular (módicos US$ 3.830).
O ano em que o BNDES colocou
mais recursos nas empresas desestatizadas foi 2000, quando saíram dos cofres do banco US$
3,714 bilhões. Naquele ano, a
União arrecadou US$ 10,2 bilhões
com privatizações.
O único ano em que saiu mais
dinheiro do cofre do banco do
que foi arrecadado com desestatizações foi 2002, coincidentemente um ano de eleição presidencial.
Saíram do BNDES US$ 3,714 bilhões, contra US$ 2,2 bilhões obtidos em privatizações.
O BNDES não informa quanto
já recebeu das empresas privatizadas às quais emprestou os US$
15,6 bilhões. Alega que essas informações são protegidas por sigilo bancário.
Os dados obtidos pela Folha
constam de relatório do próprio
BNDES. Contém 110 páginas.
Traz o valor dos contratos firmados com cada uma das 101 empresas. O documento faz a conversão
dos valores de real para dólar. Utilizou-se o câmbio oficial do dia da
negociação.
Colaborou Pedro Soares,
da Sucursal do Rio
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