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LEITE DERRAMADO
Remessas foram efetuadas por contas CC-5; Uruguai, considerado paraíso fiscal, foi um dos destinos
Parmalat enviou R$ 1,7 bilhão ao exterior
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Parmalat e suas controladas
no Brasil enviaram R$ 1,7 bilhão
para o exterior entre 1996 e 2002.
É o que mostram operações via
contas CC-5 (que possibilitam saques em dólares no exterior) registradas no Banco Central.
O Uruguai, tido pelo mercado
financeiro como um paraíso fiscal, foi o segundo maior beneficiário das remessas. Uma empresa chamada Wishaw Trading S.A.
recebeu R$ 583,8 milhões. O volume só é inferior ao destinado à
Parmalat Participações do Brasil
em Nova York: R$ 600 milhões.
O levantamento foi feito pela
CPI do Banestado, comissão
composta por 34 deputados e senadores que investiga, desde julho do ano passado, práticas que
eventualmente configuram crime
de evasão de divisas.
A CPI não está funcionando durante o recesso parlamentar, mas
os técnicos têm processado dados
colhidos ao longo das investigações do ano passado.
As operações da Parmalat e suas
controladas e coligadas no Brasil
constam dos registros do Banco
Central. O BC repassou à CPI a relação de todas as operações realizadas por meio de contas CC-5
entre 1996 e 2002. A quebra do sigilo das operações foi autorizada.
Esse tipo de conta, além de possibilitar saques de residentes no
exterior, permite também o envio
de dinheiro para fora do país por
residentes no Brasil. O BC permite que as remessas de dinheiro ao
exterior possam ser feitas de várias maneiras. A CC-5, porém, é o
único instrumento disponível em
que o remetente dos recursos não
precisa explicar ao governo os
motivos da transação.
Não é possível afirmar, no entanto, que as remessas são ilegais.
Isso depende de um cruzamento
com os registros da Receita Federal, para checar se houve notificação das operações ao fisco.
Saldo negativo
Ao mesmo tempo em que mandaram R$ 1,7 bilhão para o exterior, as empresas trouxeram para
o Brasil, pelos mesmos mecanismos bancários, R$ 513,7 milhões.
Ainda assim, o balanço entre entradas e saídas fica negativo em
R$ 1,2 bilhão.
Somando as operações de entradas e saídas de recursos, ordenadas por oito empresas, o grupo
Parmalat que atua no país realizou 86 operações por várias instituições bancárias, 40 delas utilizando o Banco do Brasil.
Além das remessas destinadas
ao Uruguai, chamou a atenção
dos técnicos da CPI o volume de
recursos remetidos no ano de
2002: R$ 1 bilhão -cerca de 60%
do volume total.
No ano passado, a empresa foi
multada em US$ 62 mil pelo Banco Central por irregularidades cometidas em operações cambiais
realizadas em 1995 e 1996.
No Brasil, a Parmalat, que chegou ao país nos anos 70, era a segunda maior compradora de leite
e empregava cerca de 6.000 trabalhadores em oito fábricas. Atualmente os fornecedores estão suspendendo a entrega de matéria-prima, e o futuro da companhia
ainda é incerto.
Justiça
Além disso, crescem os problemas da Parmalat no Brasil. Na semana passada, a empresa teve sua
falência requerida por dois fornecedores. Na segunda-feira, foi a
vez da Orlândia S.A., fabricante de
gordura vegetal. Na quinta-feira,
a Italplast Embalagens Plásticas
também fez uma solicitação, à 29ª
Vara Cível de São Paulo.
A Italplast é fornecedora de embalagens flexíveis para a multinacional, tem fábrica na zona leste
da cidade de São Paulo e atende
companhias como Nestlé, Unilever e Yakult.
No final da semana, parte dos
fornecedores e bancos, aos quais a
Parmalat deve US$ 1,6 bilhão, já
cogitava ir à Justiça.
Escritórios paulistas de advocacia foram procurados na última
semana por vários pequenos fornecedores da empresa. As cooperativas de leite, que já receberam
R$ 6 milhões, querem mais R$ 1
milhão em atraso.
Colaborou a Reportagem Local
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