São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Remessas foram efetuadas por contas CC-5; Uruguai, considerado paraíso fiscal, foi um dos destinos

Parmalat enviou R$ 1,7 bilhão ao exterior

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Parmalat e suas controladas no Brasil enviaram R$ 1,7 bilhão para o exterior entre 1996 e 2002. É o que mostram operações via contas CC-5 (que possibilitam saques em dólares no exterior) registradas no Banco Central.
O Uruguai, tido pelo mercado financeiro como um paraíso fiscal, foi o segundo maior beneficiário das remessas. Uma empresa chamada Wishaw Trading S.A. recebeu R$ 583,8 milhões. O volume só é inferior ao destinado à Parmalat Participações do Brasil em Nova York: R$ 600 milhões.
O levantamento foi feito pela CPI do Banestado, comissão composta por 34 deputados e senadores que investiga, desde julho do ano passado, práticas que eventualmente configuram crime de evasão de divisas.
A CPI não está funcionando durante o recesso parlamentar, mas os técnicos têm processado dados colhidos ao longo das investigações do ano passado.
As operações da Parmalat e suas controladas e coligadas no Brasil constam dos registros do Banco Central. O BC repassou à CPI a relação de todas as operações realizadas por meio de contas CC-5 entre 1996 e 2002. A quebra do sigilo das operações foi autorizada.
Esse tipo de conta, além de possibilitar saques de residentes no exterior, permite também o envio de dinheiro para fora do país por residentes no Brasil. O BC permite que as remessas de dinheiro ao exterior possam ser feitas de várias maneiras. A CC-5, porém, é o único instrumento disponível em que o remetente dos recursos não precisa explicar ao governo os motivos da transação.
Não é possível afirmar, no entanto, que as remessas são ilegais. Isso depende de um cruzamento com os registros da Receita Federal, para checar se houve notificação das operações ao fisco.

Saldo negativo
Ao mesmo tempo em que mandaram R$ 1,7 bilhão para o exterior, as empresas trouxeram para o Brasil, pelos mesmos mecanismos bancários, R$ 513,7 milhões. Ainda assim, o balanço entre entradas e saídas fica negativo em R$ 1,2 bilhão.
Somando as operações de entradas e saídas de recursos, ordenadas por oito empresas, o grupo Parmalat que atua no país realizou 86 operações por várias instituições bancárias, 40 delas utilizando o Banco do Brasil.
Além das remessas destinadas ao Uruguai, chamou a atenção dos técnicos da CPI o volume de recursos remetidos no ano de 2002: R$ 1 bilhão -cerca de 60% do volume total.
No ano passado, a empresa foi multada em US$ 62 mil pelo Banco Central por irregularidades cometidas em operações cambiais realizadas em 1995 e 1996.
No Brasil, a Parmalat, que chegou ao país nos anos 70, era a segunda maior compradora de leite e empregava cerca de 6.000 trabalhadores em oito fábricas. Atualmente os fornecedores estão suspendendo a entrega de matéria-prima, e o futuro da companhia ainda é incerto.

Justiça
Além disso, crescem os problemas da Parmalat no Brasil. Na semana passada, a empresa teve sua falência requerida por dois fornecedores. Na segunda-feira, foi a vez da Orlândia S.A., fabricante de gordura vegetal. Na quinta-feira, a Italplast Embalagens Plásticas também fez uma solicitação, à 29ª Vara Cível de São Paulo.
A Italplast é fornecedora de embalagens flexíveis para a multinacional, tem fábrica na zona leste da cidade de São Paulo e atende companhias como Nestlé, Unilever e Yakult.
No final da semana, parte dos fornecedores e bancos, aos quais a Parmalat deve US$ 1,6 bilhão, já cogitava ir à Justiça.
Escritórios paulistas de advocacia foram procurados na última semana por vários pequenos fornecedores da empresa. As cooperativas de leite, que já receberam R$ 6 milhões, querem mais R$ 1 milhão em atraso.


Colaborou a Reportagem Local

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