São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Países mais ricos do mundo têm encontro em fevereiro e precisam afinar o discurso sobre câmbio

Questão cambial divide as potências do G7

MIKE DOLAN
DA REUTERS, EM LONDRES

O grupo dos sete países mais ricos (G7) parece distante de definir uma ação coletiva para sustentar o dólar fraco. E terá dificuldades para entrar em acordo para uma posição pública sobre o assunto.
Três semanas antes do encontro de seus principais dirigentes financeiros, a tentação talvez seja a de manter o silêncio. Mas os especialistas de mercado advertem que o silêncio acarreta o risco de endossar a severa queda do dólar e de encorajar que ela continue.
"Os mercados de câmbio têm uma tradição de pressionar até que obtenham uma resposta direta das autoridades", disse Avinash Persaud, diretor do fundo cambial da Global Asset Management. Ele acrescenta que, na ausência de respostas como essa, é provável que o dólar sofra mais perdas.
Os ministros e os dirigentes dos bancos centrais do G7, que têm 20 anos de retrospecto de intervenção nos mercados para corrigir os movimentos extremos das grandes moedas mundiais, se reunirão em Boca Raton, Flórida, dias 6 e 7 de fevereiro.
Cientes das intervenções coordenadas anteriores do G7 nos mercados de câmbio, analistas de câmbio estudam cada nuance dos comunicados do grupo.
Dessa vez a intervenção é improvável porque os EUA, aparentemente, estão satisfeitos com a situação atual, sob a qual a fraqueza do dólar ajuda a compensar o enorme déficit comercial do país.
O Federal Reserve (BC dos EUA) não vê efeito inflacionário na queda da moeda e é improvável que o Tesouro concorde com qualquer medida que gere alta substancial do dólar durante uma campanha presidencial na qual a criação de empregos e o crescimento econômico serão cruciais.
Os EUA podem instar a Europa a reduzir seus juros para controlar o euro. Europa e Japão apontarão o déficit orçamentário americano como raiz do problema. Os EUA dirão que o déficit é responsável pela recuperação econômica, no país e no mundo.
Os argumentos serão circulares e há poucos sinais de que surgirá a conclusão de que os sete países devem comprar dólares. Mas um comunicado do G7 como o de Dubai pode causar movimentos consideráveis, e esse é o dilema da reunião na Flórida. O comunicado de Dubai tinha intenção clara, mas seu impacto foi perverso. Aceitando a necessidade de um dólar mais fraco para compensar a elevação dos déficits dos EUA, o G7 tentou instar os gigantes asiáticos que não integram o grupo, como China e Coréia do Sul, a parar de manter vínculo tão firme entre suas moedas e o dólar.
Mas com a baixa probabilidade de que esses países cedam em breve e o compromisso do Japão quanto a intervenções unilaterais para manter lenta a alta do iene, o dólar uma vez mais caiu, seguindo a linha de menor resistência.
O euro subiu mais de 10% diante do dólar após Dubai.
"Na próxima reunião do G7 pode haver uma tentativa de defesa de taxas de câmbio mais flexíveis, uma referência mais explícita às moedas asiáticas", disse Mark Cliffe, economista-chefe da ING Financial. No entanto, os textos do G7 raramente mencionam países específicos. A menção de que é necessária flexibilidade quanto ao dólar na Ásia seria vetada pelo Japão, temeroso de que isso cause uma queda séria do dólar ante o iene. Assim, os EUA não desejarão uma formulação que possa gerar alta do dólar.
A única outra possibilidade é que a Europa obtenha acordo quanto a um comunicado que desencoraje movimentos abruptos.
Após a reunião de Dubai o Banco Central Europeu (BCE) expressou preocupação quanto à possibilidade de os rápidos ganhos do euro solaparem a recuperação econômica da região, cujo propulsor são as exportações.
O euro perdeu terreno com especulações de que poderia haver uma intervenção unilateral do BCE para vender euros ou para cortar os juros da região.


Tradução de Paulo Migliacci


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