|
Texto Anterior | Índice
MERCADO FINANCEIRO
Países mais ricos do mundo têm encontro em fevereiro e precisam afinar o discurso sobre câmbio
Questão cambial divide as potências do G7
MIKE DOLAN
DA REUTERS, EM LONDRES
O grupo dos sete países mais ricos (G7) parece distante de definir
uma ação coletiva para sustentar
o dólar fraco. E terá dificuldades
para entrar em acordo para uma
posição pública sobre o assunto.
Três semanas antes do encontro
de seus principais dirigentes financeiros, a tentação talvez seja a
de manter o silêncio. Mas os especialistas de mercado advertem
que o silêncio acarreta o risco de
endossar a severa queda do dólar
e de encorajar que ela continue.
"Os mercados de câmbio têm
uma tradição de pressionar até
que obtenham uma resposta direta das autoridades", disse Avinash
Persaud, diretor do fundo cambial da Global Asset Management.
Ele acrescenta que, na ausência de
respostas como essa, é provável
que o dólar sofra mais perdas.
Os ministros e os dirigentes dos
bancos centrais do G7, que têm 20
anos de retrospecto de intervenção nos mercados para corrigir os
movimentos extremos das grandes moedas mundiais, se reunirão
em Boca Raton, Flórida, dias 6 e 7
de fevereiro.
Cientes das intervenções coordenadas anteriores do G7 nos
mercados de câmbio, analistas de
câmbio estudam cada nuance dos
comunicados do grupo.
Dessa vez a intervenção é improvável porque os EUA, aparentemente, estão satisfeitos com a
situação atual, sob a qual a fraqueza do dólar ajuda a compensar o
enorme déficit comercial do país.
O Federal Reserve (BC dos
EUA) não vê efeito inflacionário
na queda da moeda e é improvável que o Tesouro concorde com
qualquer medida que gere alta
substancial do dólar durante uma
campanha presidencial na qual a
criação de empregos e o crescimento econômico serão cruciais.
Os EUA podem instar a Europa
a reduzir seus juros para controlar
o euro. Europa e Japão apontarão
o déficit orçamentário americano
como raiz do problema. Os EUA
dirão que o déficit é responsável
pela recuperação econômica, no
país e no mundo.
Os argumentos serão circulares
e há poucos sinais de que surgirá a
conclusão de que os sete países
devem comprar dólares. Mas um
comunicado do G7 como o de
Dubai pode causar movimentos
consideráveis, e esse é o dilema da
reunião na Flórida. O comunicado de Dubai tinha intenção clara,
mas seu impacto foi perverso.
Aceitando a necessidade de um
dólar mais fraco para compensar
a elevação dos déficits dos EUA, o
G7 tentou instar os gigantes asiáticos que não integram o grupo,
como China e Coréia do Sul, a parar de manter vínculo tão firme
entre suas moedas e o dólar.
Mas com a baixa probabilidade
de que esses países cedam em breve e o compromisso do Japão
quanto a intervenções unilaterais
para manter lenta a alta do iene, o
dólar uma vez mais caiu, seguindo a linha de menor resistência.
O euro subiu mais de 10% diante do dólar após Dubai.
"Na próxima reunião do G7 pode haver uma tentativa de defesa
de taxas de câmbio mais flexíveis,
uma referência mais explícita às
moedas asiáticas", disse Mark
Cliffe, economista-chefe da ING
Financial. No entanto, os textos
do G7 raramente mencionam países específicos. A menção de que é
necessária flexibilidade quanto ao
dólar na Ásia seria vetada pelo Japão, temeroso de que isso cause
uma queda séria do dólar ante o
iene. Assim, os EUA não desejarão uma formulação que possa
gerar alta do dólar.
A única outra possibilidade é
que a Europa obtenha acordo
quanto a um comunicado que desencoraje movimentos abruptos.
Após a reunião de Dubai o Banco Central Europeu (BCE) expressou preocupação quanto à possibilidade de os rápidos ganhos do
euro solaparem a recuperação
econômica da região, cujo propulsor são as exportações.
O euro perdeu terreno com especulações de que poderia haver
uma intervenção unilateral do
BCE para vender euros ou para
cortar os juros da região.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Para analistas, medidas são ultrapassadas Índice
|