São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Queda no consumo de gás põe em xeque acordo com a Bolívia

Governo se comprometeu a comprar ao menos 24 milhões de m3 do país vizinho; especialistas não esperam demanda suficiente

Com redução no uso e aumento da produção, analistas dizem que, no curto prazo, quota mínima para gás não se justifica

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O uso de gás natural pela indústria despencou em dezembro. Foram consumidos 19,133 milhões de metros cúbicos por dia, 23,8% menos do que o mesmo mês de 2007. No total, considerando todos os demais usuários do combustível, a queda foi de 7,02% no período.
A redução no uso do gás pela indústria pode se tornar um problema econômico à Petrobras e político ao governo, que se comprometeu a comprar ao menos 24 milhões de metros cúbicos de gás da Bolívia.
Especialistas ouvidos pela Folha avaliam que, considerando a redução no uso do combustível e o aumento da produção de gás nacional, não há demanda, no curto prazo, para cumprir o compromisso político com o governo boliviano.
O consumo industrial de gás vem caindo desde meados do ano passado. A demanda pelo combustível vinha sendo mantida pelo uso de termelétricas a gás, acionadas em razão do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. As geradoras elétricas consumiram 41,64% mais gás em dezembro de 2008 na comparação com o mesmo mês de 2007.
Com as chuvas do final do ano, os reservatórios das hidrelétricas encheram, tornando desnecessário gerar a energia mais cara das termelétricas. Com as usinas paradas, a Petrobras reduziu a importação do gás boliviano de 30 milhões de metros cúbicos por dia para o mínimo previsto no contrato -19 milhões por dia.
A decisão teve repercussão política negativa. Com a intervenção do Itamaraty, houve reunião com o governo boliviano, e o Brasil se comprometeu a importar pelo menos 24 milhões de metros cúbicos por dia. Para isso, voltou a acionar algumas usinas termelétricas.
Mesmo assim, o compromisso ainda não foi cumprido. De acordo com a Petrobras, a importação chegará ao volume acordado "nos próximos dias". A justificativa técnica para o novo acionamento das usinas, no entanto, deverá terminar até o final de fevereiro.
De acordo com o consultor David Zylbersztajn, da DZ Negócios com Energia, o consumo industrial de gás deverá continuar caindo por conta da crise econômica mundial. "A tendência é de redução do consumo na indústria. O gás é um insumo intermediário", disse.
Para Zylbersztajn, será difícil conseguir demanda para 24 milhões de metros cúbicos vindos da Bolívia. "O Brasil vai ter mais gás do que necessita. A importação da Bolívia terá que ser reduzida dentro dos limites do contrato", disse.
O professor Edmar Fagundes, do Instituto de Economia da UFRJ, também avalia que a Petrobras poderá ter problemas para alocar o gás. "Ela pode não ter mercado em função da crise econômica", disse. Ele avalia que o preço do combustível deverá cair nos próximos meses e, com o repasse das reduções para os consumidores finais, poderá haver incentivo ao consumo.
"Nesse momento, se não fossem as termelétricas, não teria como alocar os 24 milhões de metros cúbicos de gás", disse Pedro Camarota, diretor da consultoria Gas Energy. Para o consultor, no entanto, a decisão de religar as termelétricas não foi errada.


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