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Queda no consumo de gás põe em xeque acordo com a Bolívia
Governo se comprometeu a comprar ao menos 24 milhões de m3 do país vizinho; especialistas não esperam demanda suficiente
Com redução no uso e aumento da produção, analistas dizem que, no curto prazo, quota mínima para gás não se justifica
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O uso de gás natural pela indústria despencou em dezembro. Foram consumidos 19,133
milhões de metros cúbicos por
dia, 23,8% menos do que o mesmo mês de 2007. No total, considerando todos os demais
usuários do combustível, a queda foi de 7,02% no período.
A redução no uso do gás pela
indústria pode se tornar um
problema econômico à Petrobras e político ao governo, que
se comprometeu a comprar ao
menos 24 milhões de metros
cúbicos de gás da Bolívia.
Especialistas ouvidos pela
Folha avaliam que, considerando a redução no uso do combustível e o aumento da produção de gás nacional, não há demanda, no curto prazo, para
cumprir o compromisso político com o governo boliviano.
O consumo industrial de gás
vem caindo desde meados do
ano passado. A demanda pelo
combustível vinha sendo mantida pelo uso de termelétricas a
gás, acionadas em razão do baixo nível dos reservatórios das
hidrelétricas. As geradoras elétricas consumiram 41,64%
mais gás em dezembro de 2008
na comparação com o mesmo
mês de 2007.
Com as chuvas do final do
ano, os reservatórios das hidrelétricas encheram, tornando
desnecessário gerar a energia
mais cara das termelétricas.
Com as usinas paradas, a Petrobras reduziu a importação do
gás boliviano de 30 milhões de
metros cúbicos por dia para o
mínimo previsto no contrato
-19 milhões por dia.
A decisão teve repercussão
política negativa. Com a intervenção do Itamaraty, houve
reunião com o governo boliviano, e o Brasil se comprometeu a
importar pelo menos 24 milhões de metros cúbicos por
dia. Para isso, voltou a acionar
algumas usinas termelétricas.
Mesmo assim, o compromisso ainda não foi cumprido. De
acordo com a Petrobras, a importação chegará ao volume
acordado "nos próximos dias".
A justificativa técnica para o
novo acionamento das usinas,
no entanto, deverá terminar
até o final de fevereiro.
De acordo com o consultor
David Zylbersztajn, da DZ Negócios com Energia, o consumo
industrial de gás deverá continuar caindo por conta da crise
econômica mundial. "A tendência é de redução do consumo na indústria. O gás é um insumo intermediário", disse.
Para Zylbersztajn, será difícil
conseguir demanda para 24
milhões de metros cúbicos vindos da Bolívia. "O Brasil vai ter
mais gás do que necessita. A
importação da Bolívia terá que
ser reduzida dentro dos limites
do contrato", disse.
O professor Edmar Fagundes, do Instituto de Economia
da UFRJ, também avalia que a
Petrobras poderá ter problemas para alocar o gás. "Ela pode
não ter mercado em função da
crise econômica", disse. Ele
avalia que o preço do combustível deverá cair nos próximos
meses e, com o repasse das reduções para os consumidores
finais, poderá haver incentivo
ao consumo.
"Nesse momento, se não fossem as termelétricas, não teria
como alocar os 24 milhões de
metros cúbicos de gás", disse
Pedro Camarota, diretor da
consultoria Gas Energy. Para o
consultor, no entanto, a decisão de religar as termelétricas
não foi errada.
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