São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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NOVO RUMO
Substituição de importações deve marcar retomada da atividade econômica; endividados em dólar podem quebrar
Empresas já buscam produção local

FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local

As empresas deverão começar, já nesta segunda-feira, a buscar alternativas para a substituição de importações por produção local, prevê o economista Alberto Borges Matias, sócio da firma de consultoria Austin Asis.
Segundo ele, esse movimento marcará a retomada da atividade econômica, mas será acompanhado nos próximos dias pela quebra de pequenos bancos de negócios e empresas endividadas em moeda estrangeira que não conseguirem postergar suas dívidas.
"Os ajustes nas crises são muito rápidos", diz Matias. Ele acha que os empresários já sofreram o impacto das mudanças, absorveram as informações e aproveitaram o fim-de-semana para planejar os próximos passos.
"Com esse novo ciclo de substituição de importações, haverá o surgimento e crescimento de pequenas empresas industriais, que respondem mais rapidamente."
Um dos trabalhos da consultoria de Matias é oferecer análises de risco, a partir dos balanços das empresas, orientando os bancos sobre a concessão de crédito.
Dentre os setores que sofrerão maior impacto com a desvalorização cambial -e onde haverá quebras a curto prazo-, ele cita os importadores de automóveis e as empresas que trabalhavam com peças e componentes importados para as indústrias automobilística, química e eletroeletrônica.
Ele prevê uma nova onda de aquisições de empresas endividadas. "As aquisições sempre se dão nas empresas endividadas."
A queda da taxa de juros deverá antecipar a formação de grandes conglomerados bancários. "Eu continuo com a mesma idéia de que no varejo vão ficar apenas quatro grandes bancos", diz.
O Plano Real permitiu a substituição de ganhos de "float" (com a inflação) por "spreads" bancários (ganhos com a taxa de risco). As altas taxas de juros serviram para manter o sistema bancário vivo.
Agora, a queda da taxa de juros vai impactar diretamente os resultados dos bancos, que não vão ter como manter suas estruturas.
Em contrapartida, o economista prevê maior demanda por financiamento bancário, com a queda das taxas de juros.

Novo ciclo
"O país está diante de um círculo virtuoso, depois do círculo vicioso, quando o governo tentou comandar o mercado", diz.
Matias diz que "o que o homem não consegue fazer racionalmente, o mercado faz por crise".
O comércio nas capitais será beneficiado pelo aumento do emprego industrial e pelo turismo. E o do interior, pela valorização das exportações de produtos agrícolas.
O mercado imobiliário será beneficiado com a volta do consumidor argentino, em busca de imóveis turísticos, no sul, e em São Paulo. "Haverá a compra por investidores latino-americanos desses imóveis, que ficam relativamente mais baratos", diz Matias.
No mercado interno, aos poucos haverá um aumento do nível de atividade industrial, seguido, portanto, de aumento do emprego. Isso deve gerar gradativamente uma demanda por imóveis.
"Como a pauta do presidente também é de desenvolvimento, imagino que a Caixa Econômica Federal deverá voltar financiando o mercado. Então, aos poucos, deverá haver uma retomada desse mercado", diz o economista.
"No entanto os ganhos advindos do ajuste cambial poderão ser absorvidos pelo descontrole fiscal do governo, principalmente pela sua voracidade arrecadatória."



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