|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NOVO RUMO
Substituição de importações deve marcar retomada
da atividade econômica; endividados em dólar podem quebrar
Empresas já buscam produção local
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
As empresas deverão começar, já
nesta segunda-feira, a buscar alternativas para a substituição de importações por produção local, prevê o economista Alberto Borges
Matias, sócio da firma de consultoria Austin Asis.
Segundo ele, esse movimento
marcará a retomada da atividade
econômica, mas será acompanhado nos próximos dias pela quebra
de pequenos bancos de negócios e
empresas endividadas em moeda
estrangeira que não conseguirem
postergar suas dívidas.
"Os ajustes nas crises são muito
rápidos", diz Matias. Ele acha que
os empresários já sofreram o impacto das mudanças, absorveram
as informações e aproveitaram o
fim-de-semana para planejar os
próximos passos.
"Com esse novo ciclo de substituição de importações, haverá o
surgimento e crescimento de pequenas empresas industriais, que
respondem mais rapidamente."
Um dos trabalhos da consultoria
de Matias é oferecer análises de risco, a partir dos balanços das empresas, orientando os bancos sobre
a concessão de crédito.
Dentre os setores que sofrerão
maior impacto com a desvalorização cambial -e onde haverá quebras a curto prazo-, ele cita os importadores de automóveis e as empresas que trabalhavam com peças
e componentes importados para
as indústrias automobilística, química e eletroeletrônica.
Ele prevê uma nova onda de
aquisições de empresas endividadas. "As aquisições sempre se dão
nas empresas endividadas."
A queda da taxa de juros deverá
antecipar a formação de grandes
conglomerados bancários. "Eu
continuo com a mesma idéia de
que no varejo vão ficar apenas
quatro grandes bancos", diz.
O Plano Real permitiu a substituição de ganhos de "float" (com a
inflação) por "spreads" bancários
(ganhos com a taxa de risco). As altas taxas de juros serviram para
manter o sistema bancário vivo.
Agora, a queda da taxa de juros
vai impactar diretamente os resultados dos bancos, que não vão ter
como manter suas estruturas.
Em contrapartida, o economista
prevê maior demanda por financiamento bancário, com a queda
das taxas de juros.
Novo ciclo
"O país está diante de um círculo
virtuoso, depois do círculo vicioso,
quando o governo tentou comandar o mercado", diz.
Matias diz que "o que o homem
não consegue fazer racionalmente,
o mercado faz por crise".
O comércio nas capitais será beneficiado pelo aumento do emprego industrial e pelo turismo. E o do
interior, pela valorização das exportações de produtos agrícolas.
O mercado imobiliário será beneficiado com a volta do consumidor argentino, em busca de imóveis turísticos, no sul, e em São
Paulo. "Haverá a compra por investidores latino-americanos desses imóveis, que ficam relativamente mais baratos", diz Matias.
No mercado interno, aos poucos
haverá um aumento do nível de
atividade industrial, seguido, portanto, de aumento do emprego. Isso deve gerar gradativamente uma
demanda por imóveis.
"Como a pauta do presidente
também é de desenvolvimento,
imagino que a Caixa Econômica
Federal deverá voltar financiando
o mercado. Então, aos poucos, deverá haver uma retomada desse
mercado", diz o economista.
"No entanto os ganhos advindos
do ajuste cambial poderão ser absorvidos pelo descontrole fiscal do
governo, principalmente pela sua
voracidade arrecadatória."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|