São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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Taxa pode cair 5 pontos, diz Bacha

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

Com a desvalorização do real, a taxa de juros poderá cair mais cinco pontos percentuais, na opinião do economista Edmar Bacha, um dos criadores do Plano Real.
De Nova York, onde chefia o escritório do banco BBA, Bacha diz que a desvalorização não deve provocar quebradeira de empresas ou trazer dificuldades para o governo pagar sua dívida externa.
"Em termos líquidos, o impacto sobre a dívida externa não tem grande importância para o governo", disse Bacha na seguinte entrevista que concedeu à Folha:

Folha - Como o sr. observa a mudança no câmbio?
Edmar Bacha
- Quase desisto de tentar entender o mercado financeiro. Falavam que o Brasil ia entrar numa crise como a da Rússia e nada disso aconteceu.
Folha - O sr. concorda com o otimismo?
Bacha
- Já ocorreram fatos parecidos e que depois fracassaram. É apenas um novo começo. Foi uma extraordinária surpresa, tão boa quanto o sucesso no lançamento do Plano Real.
Folha - E o problema da dívida do governo em dólares?
Bacha -
A dívida externa líquida é US$ 60 bilhões. A dívida interna que está dolarizada soma mais US$ 60 bilhões. Além disso, deve haver mais US$ 20 bilhões em compromissos na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros). No total, são US$ 140 bilhões.
Com a atual desvalorização, de 20%, a dívida em dólares do governo deve aumentar em cerca de US$ 28 bilhões, ou 3% do PIB. Só que boa parte dessa dívida é a longo prazo. Ao longo de um ano, o impacto sobre o pagamento de juros será menor, de 2% do PIB.
Em contrapartida, haverá uma redução da dívida interna. Hoje, a dívida interna soma US$ 300 bilhões. Os juros podem cair, em relação à trajetória anterior, cerca de cinco pontos percentuais, numa estimativa conservadora. Devemos economizar 2% do PIB.
Entre o impacto negativo sobre a dívida dolarizada e o positivo sobre a dívida em reais ficaremos mais ou menos empatados. Não existe grande importância para o governo, em termos líquidos, desde que os juros realmente caiam.
Folha - E as empresas com dívidas em dólar?
Bacha -
As empresas com dívida externa são fortes e muitas delas se protegeram comprando títulos cambiais do governo (que acompanham a variação do dólar) ou na BM&F (contratos que garantem a compra de dólar por um valor acertado previamente). Deverão ocorrer casos individuais, mas nada que não possa ser resolvido com o crédito que o Banco Mundial e o BID devem estender ao Brasil.
Essa desvalorização é suficiente?
Bacha -
Sem dúvida. Uma desvalorização de 20% é suficiente para inverter a balança comercial. Deve haver uma inversão de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões. Nesse caso, teríamos um resultado positivo na balança comercial de 1999 de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões.
Folha - O que deve ocorrer com a economia?
Bacha -
Eu previa queda de 1,5% do PIB em 99. Agora, dá para imaginar que fique entre 0% e crescimento de 0,5%. Existem duas condições para essa melhora. Primeiro, que o governo consiga o apoio do FMI e do G-7. Outra condição é que o Congresso aprove o resto do pacote fiscal e as outras medidas de reforma do governo.
Folha - E a inflação?
Bacha -
Com a recessão e os salários desindexados, o impacto sobre a inflação será inferior a 10%. Imagino que os trabalhadores estarão dispostos a trocar essa perda por mais empregos.



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