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Taxa pode cair 5 pontos, diz Bacha
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
Com a desvalorização do real, a
taxa de juros poderá cair mais cinco pontos percentuais, na opinião
do economista Edmar Bacha, um
dos criadores do Plano Real.
De Nova York, onde chefia o escritório do banco BBA, Bacha diz
que a desvalorização não deve provocar quebradeira de empresas ou
trazer dificuldades para o governo
pagar sua dívida externa.
"Em termos líquidos, o impacto
sobre a dívida externa não tem
grande importância para o governo", disse Bacha na seguinte entrevista que concedeu à Folha:
Folha - Como o sr. observa a mudança no câmbio?
Edmar Bacha - Quase desisto de
tentar entender o mercado financeiro. Falavam que o Brasil ia entrar numa crise como a da Rússia e
nada disso aconteceu.
Folha - O sr. concorda com o otimismo?
Bacha - Já ocorreram fatos parecidos e que depois fracassaram. É
apenas um novo começo. Foi uma
extraordinária surpresa, tão boa
quanto o sucesso no lançamento
do Plano Real.
Folha - E o problema da dívida do
governo em dólares?
Bacha - A dívida externa líquida é
US$ 60 bilhões. A dívida interna
que está dolarizada soma mais US$
60 bilhões. Além disso, deve haver
mais US$ 20 bilhões em compromissos na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros). No total, são
US$ 140 bilhões.
Com a atual desvalorização, de
20%, a dívida em dólares do governo deve aumentar em cerca de US$
28 bilhões, ou 3% do PIB. Só que
boa parte dessa dívida é a longo
prazo. Ao longo de um ano, o impacto sobre o pagamento de juros
será menor, de 2% do PIB.
Em contrapartida, haverá uma
redução da dívida interna. Hoje, a
dívida interna soma US$ 300 bilhões. Os juros podem cair, em relação à trajetória anterior, cerca de
cinco pontos percentuais, numa
estimativa conservadora. Devemos economizar 2% do PIB.
Entre o impacto negativo sobre a
dívida dolarizada e o positivo sobre a dívida em reais ficaremos
mais ou menos empatados. Não
existe grande importância para o
governo, em termos líquidos, desde que os juros realmente caiam.
Folha - E as empresas com dívidas em dólar?
Bacha - As empresas com dívida
externa são fortes e muitas delas se
protegeram comprando títulos
cambiais do governo (que acompanham a variação do dólar) ou na
BM&F (contratos que garantem a
compra de dólar por um valor
acertado previamente). Deverão
ocorrer casos individuais, mas nada que não possa ser resolvido com
o crédito que o Banco Mundial e o
BID devem estender ao Brasil.
Essa desvalorização é suficiente?
Bacha - Sem dúvida. Uma desvalorização de 20% é suficiente para
inverter a balança comercial. Deve
haver uma inversão de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões. Nesse caso,
teríamos um resultado positivo na
balança comercial de 1999 de US$ 2
bilhões a US$ 4 bilhões.
Folha - O que deve ocorrer com a
economia?
Bacha - Eu previa queda de 1,5%
do PIB em 99. Agora, dá para imaginar que fique entre 0% e crescimento de 0,5%. Existem duas condições para essa melhora. Primeiro, que o governo consiga o apoio
do FMI e do G-7. Outra condição é
que o Congresso aprove o resto do
pacote fiscal e as outras medidas
de reforma do governo.
Folha - E a inflação?
Bacha - Com a recessão e os salários desindexados, o impacto sobre a inflação será inferior a 10%.
Imagino que os trabalhadores estarão dispostos a trocar essa perda
por mais empregos.
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