São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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Ações captam o mesmo volume do PAC

Registro de papéis na Bolsa totaliza cerca de R$ 500 bi em 4 anos, montante próximo ao da meta de programa do governo

Só neste ano, CVM já aponta lançamentos de R$ 11,6 bi em ações; especialista ainda vê risco na dependência de investidores estrangeiros

DO COLUNISTA DA FOLHA

O mercado de capitais continua com o pé no acelerador neste ano. A Comissão de Valores Mobiliários já registrou, em um mês e meio, lançamentos de R$ 11,6 bilhões em ações e há mais de R$ 4,8 bilhões em análise. Existem ainda mais de 16 ofertas com pedido de registro.
Segundo Marcelo Trindade, presidente da CVM, o mercado de capitais é capaz de captar hoje o mesmo volume de recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A CVM registrou, no ano passado, um total de R$ 125 bilhões de registro de ações, o que totaliza R$ 500 bilhões em quatro anos. O PAC prevê o mesmo montante para investimentos em igual período.
A vantagem mais nítida para as empresas buscarem o mercado de capitais é a de terem acesso a recursos mais baratos, mas há muitos outros benefícios. É o melhor caminho para democratizar as companhias.
Segundo Raymundo Magliano, presidente da Bovespa, o mercado ajuda a diminuir o número de empresas familiares no país. Para crescer, as companhias admitem a entrada de sócios, e isso ajuda a torná-las mais democráticas.
O aumento do acesso de pequenos e médios investidores ao mercado também é, para Magliano, uma forma de melhorar a distribuição de renda no país. As pessoas que compraram ações da Vale e da Petrobras com o dinheiro do fundo de garantia estão aferindo ganhos superiores a 600%.
Já existem 1.156 clubes de investimento no país, ao passo que seis anos atrás não passavam de 350. Tudo isso, para Magliano, faz parte da revolução invisível que ele diz estar acontecendo no país com a expansão do mercado de capitais.

Instabilidade
O economista Edgard Pereira, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), vê muitos fatores positivos nesse crescimento do mercado de capitais. As empresas passam a ter acesso a recursos mais baratos e também se preocupam mais com modelos de governança corporativa.
Pereira chama a atenção, no entanto, para a instabilidade da Bolsa. O que mais o preocupa é o fato de o capital estrangeiro ser responsável por mais de 70% das aplicações na Bolsa. Se, por uma razão ou outra, os investidores decidirem vender as ações, a Bolsa desaba.
Trindade não considera negativo o fato de o avanço do mercado depender significativamente de recursos de fora. Em primeiro lugar, o dinheiro vai para a produção. Além disso, mostra que os investidores confiam no país. "E essa confiança deve continuar, diminuindo os riscos de movimentos de manada", diz o dirigente da CVM. "Um eventual ajuste de preço faz parte dos movimentos naturais do mercado."
Um dos principais termômetros para aferir a saúde de uma economia é a sua Bolsa de Valores. O patamar de 74% do PIB (Produto Interno Bruto) de valor de mercado das empresas negociadas em Bolsa reflete as excelentes condições macroeconômicas do país. Nos EUA, por exemplo, o índice de capitalização é de 136% do PIB e, no Japão, de 105% do PIB.
Segundo o economista Paulo Esteves, sócio-diretor da Capital Partners Consulting, o indicador de capitalização do Brasil mostra que a Bolsa brasileira mudou de patamar e passou a desempenhar efetivamente seu papel de relevante meio de financiamento das empresas, além de ser um importante veículo de democratização do capital e de previdência privada para os trabalhadores.
O interessante também é o que ocorre com o uso do dinheiro obtido com a captação no mercado. Em 2004, do total ofertado, 62% foram para distribuição secundária (para o bolso do acionista) e 34% para investimento. Em 2006, a conta já foi 40% para cada um. E, neste ano, 70% foram para investimento, o que significa uma melhora no perfil da distribuição dos recursos.
Há, no entanto, muito espaço para o mercado crescer no país, apesar do avanço dos últimos dois anos. Em primeiro lugar, as empresas precisam ter mais segurança para realizar seus investimentos. E, para isso, o governo precisa definir os marcos regulatórios de diversos setores.
Outros avanços também precisam ocorrer na legislação tributária. Os investidores estrangeiros, por exemplo, são impedidos de aplicar em títulos da dívida das empresas brasileiras. São aperfeiçoamentos que podem ajudar a engordar ainda mais o mercado de capitais.
O grande salto, no entanto, se dará quando o país obtiver o "grau de investimento". A maioria dos grandes fundos de investimento do mundo só pode aplicar em mercados que tenham essa classificação e, por isso, não investem na Bolsa brasileira. O curioso é que muitos desses fundos compram papéis de empresas como Petrobras e Vale do Rio Doce, mas na Bolsa de Nova York.
(GUILHERME BARROS)


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