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Câmbio leva produção para fora, diz Marcopolo
DA REPORTAGEM LOCAL
Na virada do mês, a Marcopolo lançou, em parceria com a
Tata Motors, o primeiro ônibus
criado especialmente para o
mercado indiano. É no país
asiático que inaugurou sua
mais recente fábrica e onde deverá abrir, em 2009, a maior
unidade do setor no mundo. Serão 5.000 funcionários, produzindo 25 mil ônibus ao ano.
Em 2008, a empresa também
pretende inaugurar outra fábrica na Rússia. Rubens de la
Rosa, presidente da Marcopolo,
diz que a empresa entrou numa
segunda fase de internacionalização, a qual foi levada graças à
valorização cambial. Ele dá outros detalhes do processo na
entrevista abaixo:
(CB)
FOLHA - A Marcopolo mudou seu
processo de internacionalização?
RUBENS DE LA ROSA - Até alguns
anos atrás, nossa estratégia internacional era exportar o kit
de peças e montar lá fora, no esquema de CKD [em que há só a
montagem de kits prontos]. Só
que, com o real cada vez mais
valorizado, fizemos contas e
percebemos que algumas fábricas não tinham mais condições
de comprar componentes brasileiros. Alteramos o formato e
começamos a procurar e desenvolver fábricas e fornecedores nos diferentes países.
FOLHA - O governo deveria ter
atuado mais fortemente para evitar
a queda do dólar?
DE LA ROSA - Em vários momentos achamos que o dólar tinha
chegado ao piso e sofremos
muito com sua queda. Até que
chegamos à conclusão de que
não poderíamos mais trabalhar
pensando no dólar. Gostaríamos que o esforço do governo
tivesse sido maior, mas a força
da especulação foi muito grande. Deveríamos ter pensado em
alguma tributação a quem ganhou com a oscilação da moeda
e os juros brasileiros, mas entendo a restrição.
FOLHA - A solução então é produzir
lá fora?
DE LA ROSA - A produção lá fora
é uma realidade porque não
consigo exportar.
FOLHA - Houve redução de vagas,
com a diminuição da produção brasileira voltada à exportação?
DE LA ROSA - Por sorte, o mercado brasileiro está bastante
aquecido. Quem produzia para
atender às exportações teve seu
trabalho redirecionado para o
mercado interno. Apesar de estarmos produzindo e vendendo
mais em dólares, as vendas em
reais têm hoje peso maior do
que há alguns anos.
FOLHA - O Brasil tem uma boa política para a internacionalização de
empresas?
DE LA ROSA - Não existe um sistema no qual a empresa possa
se apoiar para movimentar-se
de maneira consistente no exterior. Nem em áreas em que já
há resoluções formadas as coisas andam. A Lei Kandir, que
prevê a volta do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadoria] sobre bens exportados,
não funciona no emaranhado
tributário brasileiro.
Poderíamos ter apoio do governo em gastos de pesquisa e
prospecção, por exemplo, ou de
órgãos como o Itamaraty. Recebi há pouco a visita de um
país querendo fazer negócio
com a Marcopolo. Não foi uma
empresa, foi um país. O Brasil
não tem essa iniciativa.
FOLHA - O governo não deve ter
outras prioridades que ajudar grupos privados a avançar no exterior?
DE LA ROSA - Muitos países têm
políticas de internacionalização. Ainda não é prioridade
aqui porque o mercado interno
é muito absorvente. Chegará
um momento, no entanto, em
que ter marcas fortes internacionais será importante ao país.
FOLHA - A crise americana tem afetado os negócios da Marcopolo?
DE LA ROSA - Acabei de passar 15
dias na Ásia e ninguém menciona a crise. Por enquanto, a turbulência parece restrita mais
ao mercado de capitais do que à
economia real. Poderá haver
contágios, com o encolhimento
da economia americana, mas
ônibus não é bolsa da Louis
Vuitton. A decisão de compra é
no longo prazo e menos suscetível à movimentação de mercados. Só seremos afetados se
houver recessão brutal.
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