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Empresas geram vagas no exterior
Investimento de múltis nacionais em outros países torna-se mais abrangente
Na Votorantim Cimentos, os trabalhadores em outros países já são 40% do total; atuação no exterior vai além de receitas com vendas
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano que vem, quase metade das vagas geradas pela fabricante de ônibus Marcopolo estará no exterior. Na Votorantim Cimentos, os trabalhadores
em outros países já são 40% do
total, e, na Gerdau, a geração de
caixa internacional representa
o mesmo volume do que a originada no Brasil.
Esses são apenas alguns indicadores da consolidação da nova fase na internacionalização
das empresas brasileiras. Se,
até há alguns anos, os negócios
internacionais pesavam só no
faturamento -geralmente pela
exportação de produtos feitos
no Brasil a subsidiárias comerciais-, recentemente as operações estrangeiras ganharam
contornos mais complexos.
A abertura e a aquisição de
um número cada vez maior de
empresas e fábricas no exterior
fez com que as operações internacionais abrigassem outros tipos de operações. Entre elas,
formação de mão-de-obra estrangeira, desenvolvimento da
rede de fornecedores internacionais, manutenção da cultura
corporativa e da competitividade obtidas no Brasil, numa gama de diferentes países.
"A internacionalização alcançou uma complexidade infinitamente maior", diz Gilberto
Tomazoni, presidente da Sadia.
"O desafio é construir uma plataforma de gestão internacional, replicando no exterior nossos diferenciais competitivos."
Com uma fábrica aberta na
Rússia no fim do ano passado e
outra que deverá ser construída nos Emirados Árabes, a Sadia começou a levar a cultura da
empresa a suas operações internacionais por meio de consultorias. Porém agora desenvolve sua própria metodologia
para levar seus diferenciais a
outros países.
A tendência deve ganhar
mais força nos próximos anos.
A área de gestão da consultoria
Accenture, por exemplo, tinha
cerca de 10% dos funcionários
voltados à internacionalização
dos clientes, cinco anos atrás.
Hoje, já são 30% do total, dedicados tanto a identificar oportunidades de negócios quanto a
viabilizar a expansão em mercados internacionais.
"Nunca trabalhamos tanto
em novas expansões como agora", afirma Marcelo Gil Souza,
diretor de estratégia da Accenture. "As empresas maiores começaram o processo há alguns
anos e continuam mirando novos mercados. Só que agora
seus fornecedores brasileiros
de menor porte começam a trilhar o mesmo caminho."
Hoje, a Accenture trabalha
na internacionalização de dez
empresas e cuida do operacional de 30 que já estão lá fora.
"O fato de o Brasil ter entrado nesse movimento atrasado
tem suas vantagens", diz Souza.
"A tecnologia da informação
permite que as subsidiárias sejam completamente integradas
à matriz, barreira que multinacionais mais antigas ainda têm
dificuldade em quebrar."
Ao aproveitar experiências
prévias, as empresas brasileiras
têm conseguido reduzir o tempo de retorno de seus investimentos internacionais.
Segundo Luiz Carlos Carvalho, coordenador do ranking de
empresas transnacionais brasileiras, da Fundação Dom Cabral, o prazo médio de retorno
para operações internacionais,
em geral, é de cinco a seis anos.
Há empresas brasileiras, no
entanto, obtendo resultados
em apenas dois anos. "Se é capacidade gerencial ou circunstância de um mercado aquecido só o tempo dirá", diz Carvalho. "Porém as empresas estão
ganhando competitividade."
Com a previsão de ter dez fábricas em oito países até o fim
de 2008, a Marcopolo também
entrou numa nova etapa de internacionalização. Parceiro da
Tata Motors na Índia, a fabricante deverá inaugurar naquele país a maior fábrica de ônibus do mundo, em 2009.
Isso quer dizer que a maior
internacionalização poderá levar à redução de empregos no
Brasil, quando a produção no
exterior compensar mais?
"As pesquisas indicam o contrário: há aumento de vagas
qualificadas nos países que sediam multinacionais", diz Antônio Carlos Porto Gonçalves,
da FGV. "Além disso, as vagas
geradas lá foram não seriam
necessariamente criadas aqui."
Isso porque mercados locais
são limitados, segundo Carvalho. "Nenhum país tem recursos nem consumidores infinitos", diz ele. "A internacionalização também gera entrada líquida de recursos e empregos
com remuneração maior."
Além disso, a presença em
mercados internacionais funciona como uma espécie de
proteção contra as oscilações.
A Votorantim Cimentos, por
exemplo, iniciou sua expansão
nos EUA quando o mercado de
construção local estava em alta,
e o do Brasil, estagnado. Com a
crise das hipotecas de alto risco
nos EUA, as vendas no exterior
diminuíram, porém as nacionais estão muito aquecidas.
"Nossa estratégia é buscar
equilíbrio dos ativos entre mercados maduros e emergentes,
minimizando impactos de variações cambiais e volatilidades
regionais", diz Walter Schalka,
presidente da empresa.
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