São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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Empresas geram vagas no exterior

Investimento de múltis nacionais em outros países torna-se mais abrangente

Na Votorantim Cimentos, os trabalhadores em outros países já são 40% do total; atuação no exterior vai além de receitas com vendas

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano que vem, quase metade das vagas geradas pela fabricante de ônibus Marcopolo estará no exterior. Na Votorantim Cimentos, os trabalhadores em outros países já são 40% do total, e, na Gerdau, a geração de caixa internacional representa o mesmo volume do que a originada no Brasil.
Esses são apenas alguns indicadores da consolidação da nova fase na internacionalização das empresas brasileiras. Se, até há alguns anos, os negócios internacionais pesavam só no faturamento -geralmente pela exportação de produtos feitos no Brasil a subsidiárias comerciais-, recentemente as operações estrangeiras ganharam contornos mais complexos.
A abertura e a aquisição de um número cada vez maior de empresas e fábricas no exterior fez com que as operações internacionais abrigassem outros tipos de operações. Entre elas, formação de mão-de-obra estrangeira, desenvolvimento da rede de fornecedores internacionais, manutenção da cultura corporativa e da competitividade obtidas no Brasil, numa gama de diferentes países.
"A internacionalização alcançou uma complexidade infinitamente maior", diz Gilberto Tomazoni, presidente da Sadia. "O desafio é construir uma plataforma de gestão internacional, replicando no exterior nossos diferenciais competitivos."
Com uma fábrica aberta na Rússia no fim do ano passado e outra que deverá ser construída nos Emirados Árabes, a Sadia começou a levar a cultura da empresa a suas operações internacionais por meio de consultorias. Porém agora desenvolve sua própria metodologia para levar seus diferenciais a outros países.
A tendência deve ganhar mais força nos próximos anos. A área de gestão da consultoria Accenture, por exemplo, tinha cerca de 10% dos funcionários voltados à internacionalização dos clientes, cinco anos atrás. Hoje, já são 30% do total, dedicados tanto a identificar oportunidades de negócios quanto a viabilizar a expansão em mercados internacionais.
"Nunca trabalhamos tanto em novas expansões como agora", afirma Marcelo Gil Souza, diretor de estratégia da Accenture. "As empresas maiores começaram o processo há alguns anos e continuam mirando novos mercados. Só que agora seus fornecedores brasileiros de menor porte começam a trilhar o mesmo caminho."
Hoje, a Accenture trabalha na internacionalização de dez empresas e cuida do operacional de 30 que já estão lá fora.
"O fato de o Brasil ter entrado nesse movimento atrasado tem suas vantagens", diz Souza. "A tecnologia da informação permite que as subsidiárias sejam completamente integradas à matriz, barreira que multinacionais mais antigas ainda têm dificuldade em quebrar."
Ao aproveitar experiências prévias, as empresas brasileiras têm conseguido reduzir o tempo de retorno de seus investimentos internacionais.
Segundo Luiz Carlos Carvalho, coordenador do ranking de empresas transnacionais brasileiras, da Fundação Dom Cabral, o prazo médio de retorno para operações internacionais, em geral, é de cinco a seis anos.
Há empresas brasileiras, no entanto, obtendo resultados em apenas dois anos. "Se é capacidade gerencial ou circunstância de um mercado aquecido só o tempo dirá", diz Carvalho. "Porém as empresas estão ganhando competitividade."
Com a previsão de ter dez fábricas em oito países até o fim de 2008, a Marcopolo também entrou numa nova etapa de internacionalização. Parceiro da Tata Motors na Índia, a fabricante deverá inaugurar naquele país a maior fábrica de ônibus do mundo, em 2009.
Isso quer dizer que a maior internacionalização poderá levar à redução de empregos no Brasil, quando a produção no exterior compensar mais?
"As pesquisas indicam o contrário: há aumento de vagas qualificadas nos países que sediam multinacionais", diz Antônio Carlos Porto Gonçalves, da FGV. "Além disso, as vagas geradas lá foram não seriam necessariamente criadas aqui."
Isso porque mercados locais são limitados, segundo Carvalho. "Nenhum país tem recursos nem consumidores infinitos", diz ele. "A internacionalização também gera entrada líquida de recursos e empregos com remuneração maior."
Além disso, a presença em mercados internacionais funciona como uma espécie de proteção contra as oscilações.
A Votorantim Cimentos, por exemplo, iniciou sua expansão nos EUA quando o mercado de construção local estava em alta, e o do Brasil, estagnado. Com a crise das hipotecas de alto risco nos EUA, as vendas no exterior diminuíram, porém as nacionais estão muito aquecidas.
"Nossa estratégia é buscar equilíbrio dos ativos entre mercados maduros e emergentes, minimizando impactos de variações cambiais e volatilidades regionais", diz Walter Schalka, presidente da empresa.


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