São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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BB e CEF "brigam" por mercado imobiliário

Crescimento do segmento foi de 96% em 2007, sendo estratégico em um cenário de disputa acirrada entre os bancos

BB quer emprestar pelas regras do SFH, em que os recursos são mais baratos, mas segmento é dominado justamente pela Caixa

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Somente no último ano, eles já "brigaram" pela administração de contas de Estados e prefeituras e pelo patrocínio de eventos esportivos. Agora, a mais nova disputa entre a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil que tem esquentado os bastidores da equipe econômica é pelo mercado imobiliário, mais precisamente pelos financiamentos feitos sob as regras do Sistema Financeiro de Habitação (SFH).
O setor cresceu 96% em 2007 e é um dos mais promissores para "fidelizar" a clientela, palavra mágica num cenário de disputa acirrada, como o que vive o sistema bancário atualmente.
De olho nessa "oportunidade de negócios", o BB está oferecendo financiamentos habitacionais em parceria com a Associação de Poupança e Empréstimo (Poupex) e foco nas famílias de renda elevada.
Para ampliar sua atuação, precisa de autorização do Banco Central para integrar o SFH e oferecer aos clientes a vantagem de utilizar o dinheiro depositado nas contas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para abater no saldo devedor.
A liberação permitiria também acesso aos recursos do Fundo, mais baratos do que captar no mercado.
Líder absoluta nesse segmento do SFH, a Caixa Econômica Federal se ressentiu, e o clima esquentou entre os executivos das duas instituições financeiras.
Segundo a Folha apurou, a cúpula da Caixa argumenta que "não é razoável uma competição entre os bancos públicos". Logo, "o melhor é manter a especialização": a Caixa segue com financiamentos habitacionais, e o BB, com crédito rural.
O temor da Caixa é perder espaço nessa área, que é uma importante fonte de lucro do banco. Com isso, ficaria com os programas sociais que, muitas vezes, dão mais despesas do que receitas.
Para o BB, essa competição não ocorrerá. A disputa dele será com grandes instituições privadas, como é o caso de Itaú e Bradesco.

Poupança rural
No meio da disputa, o Banco Central se calou. A previsão de que encaminhasse uma solução na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) de janeiro não se confirmou. Responsável pelo assunto dentro do BC, o diretor Alexandre Tombini (Normas) disse que não sabia de nada.
Oficialmente a assessoria do BB confirmou que o pedido foi entregue ao BC. A Folha apurou com executivos da Caixa e da Fazenda que Tombini tem tratado do assunto.
Controlador dos dois bancos, o Tesouro Nacional ainda não deu seu veredicto. Em recente reunião com o ministro Guido Mantega (Fazenda), o presidente do BB, Luiz Francisco de Lima Neto, disse que é uma questão estratégica para o banco, que estaria em desvantagem em relação à concorrência privada.

Futuro incerto
O debate é complexo. Ao autorizar o BB a operar no SFH, o governo precisará definir o rumo da poupança rural. A parte do dinheiro captado nas cadernetas de poupança que os bancos aplicam no crédito imobiliário é direcionada pelo BB para agricultura.
O BB alega que pretende apenas usar dinheiro do FGTS. Mas, na Fazenda, sabe-se que a discussão sobre mudar o direcionamento da poupança rural do BB virá na seqüência. E isso, segundo uma fonte do ministério, "será confusão na certa".


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