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Ganho com IOF frustra plano do governo
Dados preliminares apontam que receita com o tributo em janeiro cresceu 26,9%; governo estima dobrar o ganho em 2008
Expectativa do governo é obter arrecadação extra de R$ 8 bi com alíquota maior do IOF neste ano; em 2007, ganho foi de R$ 7,8 bilhões
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dados preliminares indicam
que a elevação das alíquotas do
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras), adotada para
compensar parcialmente a perda da arrecadação da CPMF,
não produziu em seu primeiro
mês um resultado compatível
com as metas de receita anunciadas pelo governo.
Segundo levantamento feito
a pedido da Folha pela ONG
Contas Abertas, especializada
em finanças públicas, o IOF arrecadou R$ 737 milhões em janeiro, o que significa um aumento de 26,9% em relação aos
valores do mesmo período do
ano passado.
Trata-se de uma alta expressiva -bem superior à inflação e
à expansão da economia no período. É pouco, porém, diante
do objetivo definido no primeiro dia útil do ano, quando subiram as alíquotas do imposto:
obter uma receita adicional de
R$ 8 bilhões até dezembro.
Na prática, a estimativa significa mais que dobrar a arrecadação gerada pelo IOF no
ano passado, de R$ 7,8 bilhões.
No projeto de Orçamento para
este ano, concluído em agosto
do ano passado, antes da elevação das alíquotas, calculava-se
que a cobrança do imposto renderia R$ 8,5 bilhões para o caixa do Tesouro Nacional.
Os números de janeiro passado não são oficiais: foram
pesquisados no Siafi, o sistema
informatizado que permite
acompanhar a execução do Orçamento da União. Em janeiro
de 2007, houve uma ligeira diferença entre o registro do Siafi
e o resultado divulgado pela
Receita Federal, superior em
R$ 6 milhões.
Procurada, a Receita informou que só terá uma avaliação
definitiva do comportamento
do IOF na próxima semana,
quando deverão ser divulgados
os valores oficiais. Embora ainda não haja conclusões, a área
técnica do órgão aventa duas
hipóteses para explicar a arrecadação abaixo das expectativas iniciais.
Contenção do consumo
A primeira delas é que a alta
das alíquotas inibiu a expansão
do crédito, ou seja, do volume
de empréstimos e financiamentos concedidos por bancos
e financeiras a empresas e consumidores. No caso dos empréstimos a pessoas físicas, a
alíquota do imposto dobrou, de
1,5% para 3%; nas outras operações tributadas, houve uma alta
de 0,38 ponto percentual.
Conter o crescimento do crédito é uma das preocupações
atuais da política monetária
-não é por outro motivo que os
juros do Banco Central não
caem desde setembro do ano
passado. A compra de bens financiados, um dos motores do
crescimento econômico, pode
estimular a alta de preços se a
produção não crescer no mesmo ritmo.
O IOF, aliás, é um tributo
mais talhado para o controle do
mercado do que para produzir
grandes volumes de receita -é,
como se diz no jargão tecnocrático, um imposto regulatório, o
que permitiu ao Executivo elevar suas alíquotas por meio de
um decreto presidencial, sem
passar pelo Congresso.
A outra explicação considerada para o resultado de janeiro
é mais prosaica: teria havido
apenas um refluxo sazonal do
mercado de crédito, após a aceleração tradicional de dezembro -quando a arrecadação do
IOF atingiu o recorde de R$
820 milhões. Mais à frente, empréstimos e financiamentos retomariam a trajetória de alta.
Uma eventual frustração da
receita esperada com o IOF forçaria o governo a cortar despesas previstas para o ano. A elevação do imposto foi a principal
medida para compensar a perda da CPMF, seguida pelo aumento da CSLL (Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido)
cobrada das instituições financeiras, cuja receita adicional é
calculada em R$ 2 bilhões.
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