São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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Para perícia da PF, furto da Petrobras foi crime comum

Contêiner que levava escritório da estatal estava revirado, com gavetas abertas e peças espalhadas, sem o cuidado de um espião profissional, relata perito

Avaliação foi passada de modo informal à cúpula da PF; relatório da perícia, que começou com atraso de dias, ainda não ficou pronto

Rafael Andrade/Folha Imagem
Porto do Rio, uma das paradas do contêiner com material furtado da Petrobras


SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ

Se para o governo federal está claro que é uma questão de Estado o sumiço de equipamentos de informática com informações estratégicas sobre a indústria petrolífera no litoral brasileiro, para a equipe de peritos da PF (Polícia Federal) que examinou o contêiner, não resta dúvidas: foi um furto comum, praticado por pessoa sem o requinte de um espião a serviço de governos estrangeiros ou multinacionais concorrentes da Petrobras.
Responsável pela perícia no contêiner, realizada em Macaé (188 km ao norte do Rio) no último dia 8, o perito criminal Isaac Morais, do Núcleo de Criminalística da Superintendência da PF no Rio, já relatou a superiores e colegas estar convencido de que quem arrombou o compartimento e levou quatro notebooks, dois discos rígidos e dois pentes de memória não sabia que dentro deles havia dados secretos da estatal.
O perito chegou a definir a ação como "um serviço porco", conforme disseram à Folha três colegas que com ele conversaram anteontem, na sede da PF no centro do Rio.
Segundo relato de Morais, que esteve em Macaé acompanhado de um papiloscopista (especialista em impressões digitais) e um auxiliar, caso estivesse só em busca dos equipamentos com as tais informações, o criminoso procuraria não deixar evidências de sua passagem pelo contêiner.
Após entrar no compartimento, ele abriria os computadores portáteis e passaria os conteúdos para, por exemplo, um pen drive. A seguir, buscaria não mexer no local, a fim de manter sua atuação em sigilo, ainda conforme a suspeita de Morais e dos dois colegas.
Não foi o que aconteceu. O contêiner, que trazia materiais de escritório da bacia de Santos para Macaé, estava revirado, com gavetas abertas e peças espalhadas. Para os peritos, o quadro encontrado mostra com nitidez que, além dos equipamentos de informática, que estavam expostos, o ladrão ainda procurava algo de valor.
Como não encontrou nada mais para carregar, ele teria levado só o que lhe parecia valioso. Ao sair, substituiu o cadeado que arrombara por outro da mesma marca e tentou refazer, sem sucesso, o lacre que violara para entrar no contêiner.
A fim de disfarçar o rompimento, o ladrão juntou as peças do lacre, de modo a que quem olhasse para ele sem atenção não reparasse o dano.
A descoberta do arrombamento ocorreu no dia 31, quando o contêiner foi descarregado no pátio da empresa Halliburton em Macaé, município que é a base da Petrobras na bacia de Campos. O contêiner havia saído da bacia de Santos, em um rebocador, no dia 18.
A Petrobras foi logo avisada pela Halliburton e, antes de comunicar o furto à PF, realizou, no mesmo dia 31, uma investigação privada. Só no dia seguinte, véspera do Carnaval, a estatal enviou um representante à superintendência no Rio para dar queixa do sumiço dos equipamentos de informática.
Embora alertada sobre a existência de informações estratégicas desaparecidas, apenas no dia 7 a PF providenciou a abertura de inquérito, na Delegacia de Macaé.
A equipe de peritos chegou em Macaé no dia seguinte. Encontrou, nove dias após a descoberta do arrombamento, o contêiner revirado. Morais avisou na hora ao agente da delegacia de Macaé que acompanhava o serviço que o trabalho pericial, por causa da falta de preservação, estava inteiramente prejudicado.
No relatório que prepara, o perito criminal tende a escrever que houve a impossibilidade de chegar a qualquer conclusão porque o local encontrado estava, no jargão dos profissionais da PF, "inidôneo", ou seja, alterado, não preservado.


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