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LUÍS NASSIF
Para salvar o Fome Zero
A última reunião, melhor
dizendo, assembléia do
Consea, o Conselho do Fome
Zero, durou nove horas. Houve
momentos de puro transe,
quando a preclara ex-senadora
Maria Emília ocupou precisos
21 minutos para discutir qual a
data ideal para comemorar o
Dia da Mulher, além de conclamar uma mudança na língua,
para interromper o predomínio das expressões genéricas do
gênero masculino.
Depois, outras dezenas de minutos para dom Mauro Morelli
desancar frei Betto. E outro
tanto para frei Betto brilhar.
Sem contar as dezenas de intervenções de dona Zilda Arns
distribuindo reprimendas a
torto e a direito, além de uma
inútil discussão sobre a safra de
2003.
Resultado geral do comício,
perdão, da assembléia, perdão,
do conselho: um festival de vaidades em busca de um palanque, e sem nenhuma conclusão
objetiva. Na outra ponta, doações não podendo ser utilizadas por falta de aparato legal,
federações, empresas, órgãos
públicos, um amplo voluntariado à disposição, sem poderem ser aproveitados por excesso de burocracia e falta de planejamento.
A saída para o Fome Zero
passa, inicialmente, por mudar
a estrutura institucional. O Fome Zero precisa se tornar uma
organização social, com participação do governo e da sociedade civil, para não emperrar
na burocracia pública.
A OS serviria também para o
governo aproveitar e mudar a
conformação do Consea. É preciso parar com essa história de
criar conselhos numerosos para estudar problemas e apresentar soluções. Isso não existe.
Os conselhos podem ter o papel
político e de marketing de convalidar ou, no máximo, aprimorar idéias já definidas por
técnicos. Jamais de montar um
plano de ação.
O passo seguinte seria buscar
gestores, especialistas em planejamento, que definissem um
modelo lógico de atuação de
todas as partes envolvidas,
além de indicadores de acompanhamento. Para ser eficiente
o programa não pode ter a
abrangência pretendida. Ou,
então, precisa ter um modelo
institucional que possa ser replicado em qualquer ponto do
país.
Tome-se como exemplo o Alfabetização Solidária. No programa, primeiro definiram-se
as cidades com maior índice de
analfabetismo. Depois, o MEC
ia lá e, junto com a prefeitura,
identificava pessoas que poderiam dar aulas para os adultos.
Essas pessoas eram trazidas
para universidades voluntárias, que as acolhiam e ministravam cursos de duas semanas. Depois, encontrava-se
uma empresa privada para patrocinar a cidade. A empresa
entrava com a mesma quantidade do governo federal, valor
pequeno, mas -importante-
era incumbida de fiscalizar a
aplicação do dinheiro e medir
os resultados.
Quando se fala em um modelo assim, tudo clareia. É só pegar a receita e replicar em qualquer cidade.
Hoje em dia, já existem ONGs
que definiram modelos de
atuação, criaram manuais e
indicadores e passaram a distribuir "franquias sociais".
Quem quiser repetir o trabalho
em sua comunidade, é só entrar em contato com elas e requerer o manual e o treinamento.
O papel do Fome Zero deve
ser esse: o de definir padrões de
atuação, convocar os personagens, avaliar os resultados e
propor aprimoramentos.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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