São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Prioridade do 2º mandato será mercado interno, diz Furlan

Sem sucessor definido, ministro afirma deixar a pasta do Desenvolvimento em "clima positivo" e "astral bom", porém reclama da lentidão do setor público

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De saída do Ministério do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan diz que o desafio de seu sucessor será dar prioridade ao mercado interno. "É isso o que o presidente quer", afirma ele, que focou sua gestão no aumento das exportações. Furlan diz que suas frustrações no governo foram "momentâneas", que "o país mudou para melhor" e que deixa o ministério num "clima positivo". Sem substituto definido, o ministro deixa o governo após quatro anos ainda se queixando da lentidão do setor público. Leia a seguir trechos de entrevista de Furlan à Folha.  

FOLHA - O sr. está de saída do ministério. Qual deve ser o principal desafio do seu sucessor?
LUIZ FERNANDO FURLAN
- Olha, o presidente Lula quer que o Desenvolvimento dê prioridade ao mercado interno. A ênfase que demos no início do governo foi à exportação, a partir de duas percepções que eu tinha. Éramos muito tímidos, pouco agressivos na venda externa. E, como a economia estava em baixa, com perda salarial acumulada, não havia como movimentar a economia a partir do mercado interno. Agora que a exportação pegou velocidade de cruzeiro, as políticas para o mercado interno devem ser prioritárias no segundo mandato, e é isso o que Lula quer.

FOLHA - Nessa linha, o que pode ser adotado?
FURLAN
- Estímulos aos investimentos, programas de agregação de valor e de desenvolvimento de tecnologia, atração para formalidade de microempresas, programas regionais de desenvolvimento, criação de pólos regionais que sejam irradiadores de tecnologia.

FOLHA - Que balanço o sr. faz de sua passagem pelo governo?
FURLAN
- Praticamente os pontos principais que nossa equipe se propôs caminharam. Entrei com superávit da balança comercial de US$ 13 bilhões, hoje é de US$ 46 bilhões. Desembolsos do BNDES foram de R$ 30 bilhões para R$ 52 bilhões em 2006. O pólo industrial de Manaus saiu de R$ 9 bilhões de faturamento para R$ 23 bilhões. A promoção comercial via Apex foi turbinada, fizemos mais de 250 missões comerciais ao exterior em quatro anos. Criamos uma nova política industrial. Geramos divisas e conseguimos reduzir o risco Brasil, o que proporcionou ambiente para reduzir as taxas de juros. Então, a gente deixa o ministério com um clima positivo e astral bom.

FOLHA - Mas nem tudo saiu como o sr. planejou. Por exemplo, alguns pleitos de desoneração tributária ficaram arquivados, isso gerou certa frustração?
FURLAN
- Olha, as frustrações são momentâneas, porque numa maratona, de repente, você chuta uma pedra e naquele momento é dolorido, mas, se consegue continuar, daí a pouco você esquece. O importante é chegar ao final. A soma é muito positiva, muitas medidas de desoneração saíram.

FOLHA - Para um empresário, acostumado a decidir e colocar em prática, essas idas e vindas ocorridas em decisões de corte de tributos não frustraram?
FURLAN
- Na política, não existe nada definitivo. Acredito que esse é o aprendizado que o empresário tem quando está no cargo público. O importante é não perder de vista o objetivo, precisa ter jogo de cintura.

FOLHA - Nesses quatro anos de governo, o que mais incomodou o sr.?
FURLAN
- O que mais me deu inquietude foi saber o que tem de ser feito, como fazer e o tempo para realizar ser mais do que o necessário. Às vezes, você vê a oportunidade, sabe que é bom para o Brasil, mas perde o momento por lentidão.

FOLHA - Isso não mudou durante esse tempo...
FURLAN
- O país mudou, o presidente Lula foi eleito para fazer mudanças. Quem poderia imaginar, em janeiro de 2003, que nós teríamos hoje taxa de câmbio a R$ 2,10, risco Brasil abaixo de 200 pontos, juros da TJLP a 0,5% ao mês, inflação de 3% ao ano, saldo de balança comercial acima de US$ 40 bilhões, problema de excesso de entrada de dólares?

FOLHA - Na área trabalhista, também não foram realizadas mudanças necessárias para reduzir os custos das empresas. Por que isso não avançou?
FURLAN
- É difícil fazer a reforma quando os trabalhadores estão num momento de perda salarial. Temos agora um bom momento para repensar esse tema, a economia cresce, o emprego cresce, a inflação é baixa, o ganho do salário é visível.

FOLHA - Há algo a ser feito para evitar a apreciação do câmbio, uma reclamação dos exportadores?
FURLAN
- Há um grande esforço do governo em dar uma equilibrada na questão cambial, mas não dá para ignorar a realidade, somos prisioneiros do sucesso. Nem as crises que estão acontecendo mexem com o dólar.


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