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Prioridade do 2º mandato será mercado interno, diz Furlan
Sem sucessor definido, ministro afirma deixar a pasta do Desenvolvimento em "clima positivo" e "astral bom", porém reclama da lentidão do setor público
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De saída do Ministério do
Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan diz que o desafio
de seu sucessor será dar prioridade ao mercado interno. "É isso o que o presidente quer",
afirma ele, que focou sua gestão
no aumento das exportações.
Furlan diz que suas frustrações no governo foram "momentâneas", que "o país mudou
para melhor" e que deixa o ministério num "clima positivo".
Sem substituto definido, o
ministro deixa o governo após
quatro anos ainda se queixando
da lentidão do setor público.
Leia a seguir trechos de entrevista de Furlan à Folha.
FOLHA - O sr. está de saída do ministério. Qual deve ser o principal
desafio do seu sucessor?
LUIZ FERNANDO FURLAN - Olha, o
presidente Lula quer que o Desenvolvimento dê prioridade
ao mercado interno. A ênfase
que demos no início do governo
foi à exportação, a partir de
duas percepções que eu tinha.
Éramos muito tímidos, pouco
agressivos na venda externa. E,
como a economia estava em
baixa, com perda salarial acumulada, não havia como movimentar a economia a partir do
mercado interno. Agora que a
exportação pegou velocidade
de cruzeiro, as políticas para o
mercado interno devem ser
prioritárias no segundo mandato, e é isso o que Lula quer.
FOLHA - Nessa linha, o que pode
ser adotado?
FURLAN - Estímulos aos investimentos, programas de agregação de valor e de desenvolvimento de tecnologia, atração
para formalidade de microempresas, programas regionais de
desenvolvimento, criação de
pólos regionais que sejam irradiadores de tecnologia.
FOLHA - Que balanço o sr. faz de
sua passagem pelo governo?
FURLAN - Praticamente os pontos principais que nossa equipe
se propôs caminharam. Entrei
com superávit da balança comercial de US$ 13 bilhões, hoje
é de US$ 46 bilhões. Desembolsos do BNDES foram de R$ 30
bilhões para R$ 52 bilhões em
2006. O pólo industrial de Manaus saiu de R$ 9 bilhões de faturamento para R$ 23 bilhões.
A promoção comercial via
Apex foi turbinada, fizemos
mais de 250 missões comerciais ao exterior em quatro
anos. Criamos uma nova política industrial. Geramos divisas e
conseguimos reduzir o risco
Brasil, o que proporcionou ambiente para reduzir as taxas de
juros. Então, a gente deixa o
ministério com um clima positivo e astral bom.
FOLHA - Mas nem tudo saiu como
o sr. planejou. Por exemplo, alguns
pleitos de desoneração tributária ficaram arquivados, isso gerou certa
frustração?
FURLAN - Olha, as frustrações
são momentâneas, porque numa maratona, de repente, você
chuta uma pedra e naquele momento é dolorido, mas, se consegue continuar, daí a pouco
você esquece. O importante é
chegar ao final. A soma é muito
positiva, muitas medidas de desoneração saíram.
FOLHA - Para um empresário, acostumado a decidir e colocar em prática, essas idas e vindas ocorridas em
decisões de corte de tributos não
frustraram?
FURLAN - Na política, não existe
nada definitivo. Acredito que
esse é o aprendizado que o empresário tem quando está no
cargo público. O importante é
não perder de vista o objetivo,
precisa ter jogo de cintura.
FOLHA - Nesses quatro anos de governo, o que mais incomodou o sr.?
FURLAN - O que mais me deu inquietude foi saber o que tem de
ser feito, como fazer e o tempo
para realizar ser mais do que o
necessário. Às vezes, você vê a
oportunidade, sabe que é bom
para o Brasil, mas perde o momento por lentidão.
FOLHA - Isso não mudou durante
esse tempo...
FURLAN - O país mudou, o presidente Lula foi eleito para fazer mudanças. Quem poderia
imaginar, em janeiro de 2003,
que nós teríamos hoje taxa de
câmbio a R$ 2,10, risco Brasil
abaixo de 200 pontos, juros da
TJLP a 0,5% ao mês, inflação
de 3% ao ano, saldo de balança
comercial acima de US$ 40 bilhões, problema de excesso de
entrada de dólares?
FOLHA - Na área trabalhista, também não foram realizadas mudanças necessárias para reduzir os custos das empresas. Por que isso não
avançou?
FURLAN - É difícil fazer a reforma quando os trabalhadores
estão num momento de perda
salarial. Temos agora um bom
momento para repensar esse
tema, a economia cresce, o emprego cresce, a inflação é baixa,
o ganho do salário é visível.
FOLHA - Há algo a ser feito para
evitar a apreciação do câmbio, uma
reclamação dos exportadores?
FURLAN - Há um grande esforço
do governo em dar uma equilibrada na questão cambial, mas
não dá para ignorar a realidade,
somos prisioneiros do sucesso.
Nem as crises que estão acontecendo mexem com o dólar.
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