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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula e o conservadorismo de coalizão
Festa no apê do PMDB é só a volta ao padrão de escambo que estabiliza a fratura social, política e econômica do país
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LULA LEVOU quatro anos para
fazer o curso básico de direção
do Congresso. Sem carteira de
motorista e turbinado pelo gás da
boquinha petista, Lula 1 bateu no
poste do mensalão, que ele mesmo
plantara em seu caminho.
A predominância do PT no ministério de Lula 1 só não superou a do
PMDB no governo Sarney. Mas então o PMDB dominava o Congresso
e todos os Estados menos um, vitorioso que fora em 1986 graças ao estelionato eleitoral do Cruzado.
O ministério de Lula 2 é a redistribuição mais ponderada de cargos
entre os partidos que lhe prometem
votos no Congresso, em especial para o PMDB, o único dos partidões
que não faz oposição maciça a Lula.
A probabilidade de um governo ser
mais instável aumenta quando o
partido do presidente é minoritário
e leva ministérios demais. Bidu.
Sim, trata-se de conhecimento cediço para os práticos em política
brasileira, além do mais documentado pela literatura acadêmica. Sim,
José Dirceu sabia disso. Logo após a
eleição de Lula, costurava com o
PMDB serrista, que tinha Michel
Temer como porta-voz.
Dirceu entregou de público dois
ministérios ao PMDB, Minas e
Energia e Integração Nacional. Foi
desautorizado pelo presidente eleito. Lula então era instigado por Roberto Requião e José Sarney.
Em janeiro de 2004, Lula e o PT
fecharam um escambo de ministérios por alianças políticas para a eleição municipal. O PMDB levou Comunicações e Previdência, mas se
queixava de que era pouco.
Depois que se descobriu que o governo e o PT arrendavam deputados
de PL, PP e PTB, Lula teve de engolir
os sapos peemedebistas que antes
cuspira em Dirceu. No escambo de
julho de 2005, desandava o monopólio petista. Na reforma ministerial
deste ano, o PMDB levou Minas e
Energia e Saúde, além de ficar nas
Comunicações. O PT, das 20 pastas
do início de Lula 1, caía para 14.
Só agora o petismo-lulismo dá
prioridade a um escambo político
satisfatório. A ala tucana do PMDB
enfim leva a Integração Nacional,
prometida por Dirceu em 2002. Mas
o vício do arrendamento mercantil
do mensalão passou? Por que o PR,
ex-PL mensaleiro, cresce tanto?
E daí? Nada, ou quase isso, em termos de políticas públicas:
1) As idas e vindas de ministros
pouco afetaram o vetor principal das
políticas, definidas pelo presidente e
por seus economistas;
2) O governo sempre acaba por
conceder títulos de nobreza e partes
menores do patrimônio ao caciquismo, forma política da fragmentação
regional e socioeconômica do país;
3) Conflitos centrais sobre a divisão de fundos públicos e a regulação
dos fluxos privados de renda são decididos em várias esferas, não necessariamente no Congresso e ainda
menos nos ministérios. Vide o poder
de Banco Central, BNDES, estatais e
fundos de pensão, agências reguladoras e partes da burocracia. Setores
sociais negociam no Congresso e
com tais blocos do Estado;
4) Cooptar partidos com ministérios é fazer o seguro da estabilização
desse sistema. A médio prazo, reformas políticas não dariam conta do
retalhamento do governo, que é a
expressão de um problema social e
político real. E também do "conservadorismo de coalizão" brasileiro.
vinit@uol.com.br
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