São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Condomínio sobe mais que a inflação

Desde o início do Plano Real, preços avançaram 209%, contra inflação acumulada de 160% de 1995 a fevereiro deste ano

Reajuste das tarifas públicas e, nos últimos dois anos, do salário mínimo é visto como o grande vilão para a alta maior dos condomínios

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Quem mora em prédios sentiu no bolso o peso crescente do condomínio no orçamento familiar. É que nos últimos anos as cotas subiram acima da inflação: de 1995 a fevereiro deste ano, a alta acumulada ficou em 208,74%, bem mais do que os 159,54% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no mesmo período.
Desde 2003, os condomínios aumentam sistematicamente mais do que a inflação, e a distância só cresceu nos últimos anos, revelam dados do IBGE compilados pela Folha. Em 2006, a alta foi de 7,03% -o IPCA subiu 3,14%.
Nos dois primeiros meses deste ano, a tendência se repete: as cotas foram reajustadas, em média, em 2,41%, contra a alta de 0,88% do índice oficial de inflação.
Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os condomínios sofreram com os aumentos dos serviços públicos de água e esgoto e de energia, que subiram 336,60% e 415,58%, respectivamente, no período do Real.
Nos dois últimos anos, as contas de consumo ficaram comportadas e o vilão foi o salário mínimo, cujo reajuste real foi de 13,3% (2005) e 7,6% (2006). Desde 1995, acumula ganho real de 65,6%.
"O reajuste no ano passado e neste ano foi provocado pelo aumento da mão-de-obra, que acompanhou o salário mínimo. Esse é um dos principais custos dos condomínios", disse Nunes dos Santos.
As despesas com água, luz, mão-de-obra e encargos representam de 75% a 80% dos custos dos condomínios, segundo administradoras.
Já os aluguéis, cujos preços dispararam no começo do Real, subiram menos nos últimos tempos. Neste ano, somam alta de 0,64%. No ano passado, o aumento ficou em 3,16%, em linha com o IPCA.
Nos anos anteriores, o serviço subiu menos do que a inflação -3,73% em 2003, 1,51% em 2004 e 2,55% em 2005.

Aluguéis baixos
"Não são os condomínios que estão caros, mas os aluguéis é que estão muito baratos", de acordo com Hubert Gebara, vice-presidente do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo).
Para o executivo, as novas regras para locação, de 1991, fizeram crescer a oferta de imóveis para esse fim e mais pessoas compraram unidades para alugar. Cresceu ainda, diz Gebara, o financiamento à casa própria -ou seja, menos pessoas passaram a depender do aluguel.
Com isso, explica, sobram mais imóveis, menos pessoas necessitam do aluguel como forma de moradia e o resultado foi a queda do preços.
"A maior oferta de imóveis propicia a negociação entre inquilinos e proprietários, que muitas vezes abrem mão do reajuste anual", afirma Nunes dos Santos. Há muito tempo o IGP-M, indexador previsto na maioria dos contratos, caiu em desuso.
A coordenadora do IBGE recorda que no começo do Real os aluguéis estavam bastante defasados por causa de congelamentos impostos por planos econômicos anteriores e, por isso, dispararam na época. Chegaram a subir 94,73% em 1995.
Mas, como inquilinos não suportaram pagar, os preços cederam e passaram a subir menos do que o IPCA ou até mesmo registraram deflação.
Já o condomínio, que é na verdade um rateio das despesas comuns do prédio, manteve variações altas por causa das tarifas públicas e, mais recentemente, por conta do reajuste do salário mínimo.


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